São Paulo, sexta-feira, 02 de setembro de 2011

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Acusados de mercenários, negros se escondem em porto

DO ENVIADO A SIDI BILAL

Uma estrada apertada desce o morro íngreme até desembocar num cenário surreal: um porto de pesca com dezenas de barcos de madeira fora d'água e gente perambulando como fantasmas.
O local abriga centenas de africanos negros que lá se instalaram fugindo de perseguição e violência racista. Para muitos líbios, negros são mercenários de Gaddafi. O acampamento, onde há até famílias com bebês, só foi descoberto cinco dias atrás. A maioria são nigerianos e ganenses que trabalhavam como operários e passaram a ser caçados por rebeldes.
As condições no campo são insalubres. Os refugiados dormem enfileirados rente aos cascos dos barcos, estendendo cobertores sobre as cabeças para se proteger do sol de quase 40 graus. Não há banheiros e a água usada para beber e cozinhar é tirada diretamente do mar com baldes. A Folha ouviu relatos de estupros, agressões e roubos que seriam cometidos por "líbios" a noite. "Vivemos como animais", disse Alex Zevda, 28, que trabalha há seis anos na Líbia.
Um dos primeiros profissionais humanitários a chegar no local foi o carioca Paulo Sérgio Leal Reis, 39, voluntário da MSF há seis anos. "Temos alguns casos de infecção. Os mais urgentes são levados imediatamente a hospitais", disse. Mas o maior problema é legal. "Ajudamos populações deslocadas a voltar para suas casas, mas aqui ninguém quer retornar ao país de origem", afirma Othman Bebessi, do OIM (Escritório de Migrações Internacionais).
(SA)


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