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Bairro de Bagdá torna-se reduto antiamericano
RÉMY OURDAN
DO "LE MONDE", EM BAGDÁ
No bairro de Al Adhamiya,
em Bagdá, cinco dias atrás,
centenas de homens desfilaram abertamente, com armas na mão, reivindicando
o retorno do ex-ditador Saddam Hussein.
A cena aconteceu na quinta-feira, 25 de setembro.
Eram algumas centenas de
manifestantes e alguns milhares de curiosos que se
aglomeravam nas portas das
casas. Algumas pessoas atiraram flores sobre os manifestantes. Para as crianças,
foi um dia de festa.
"A manifestação foi ridícula", protestou o ímã mais
respeitado de Al Adhamiya,
Muyad Al Adhami, que oficia na mesquita sunita de
Abu Hanifa. "Os participantes eram basicamente adolescentes e crianças pagos
não sei por quem. Acredito
que o único objetivo foi de
irritar os americanos. Não
acho que essas pessoas fossem sinceras. Em todo caso,
elas não representam a população de Al Adhamiya."
Esse bairro popular sunita
foi um reduto do Partido
Baath durante o governo de
Saddam. Curdos e xiitas não
se aventuravam a entrar no
bairro.
Foi diante da mesquita de
Abu Hanifa que Saddam
Hussein fez sua última aparição pública, horas antes de
os fuzileiros navais americanos chegarem ao centro de
Bagdá, em 9 de abril, e derrubarem sua estátua.
Tudo isso significa que,
tanto no imaginário quanto
na realidade da capital iraquiana, Al Adhamiya representa o núcleo maior da nostalgia baathista e do sentimento antiamericano.
É verdade que as orações
das sextas-feiras são conhecidas por nunca ultrapassarem a linha vermelha que separa um discurso antiamericano de um discurso pró-Saddam.
Mas os sinais não enganam: as pessoas no meio da
multidão não hesitam em
afirmar que "o presidente
deveria recrutar um exército
e voltar ao poder o quanto
antes", os sorrisos satisfeitos
evocados por cada ataque
contra o Exército dos EUA.
E isso sem falar nas pichações que surgem por toda
parte nos muros: "Viva o
presidente "mujahedin", Saddam!", "Alá é grande e Saddam é corajoso!", "Por nosso sangue, por nossa alma,
nos sacrificaremos por ti, ó
Saddam!", "A jihad é nosso
caminho!", "Paciência, Bagdá, paciência -vamos forçar o ocupante a partir".
Para Muyad Al Adhami,
"há espiões que querem desfigurar a imagem de Al
Adhamiya" -pessoas que
pagam os manifestantes armados, que inscrevem slogans nos muros.
"Esses espiões são os baathistas que trabalham para
os americanos, para melhor
envenená-los", acredita o religioso.
"Eles denunciam pessoas
do bairro como sendo partidárias de Saddam. Então o
Exército americano ataca as
casas dessas pessoas. Como
esse Exército não tem respeito algum pela população, o
sentimento antiamericano
cresce -e os espiões alcançam seus objetivos."
Tradução de Clara Allain
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