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Flórida vota sob o "olhar do mundo"
DO ENVIADO ESPECIAL A MIAMI
Pelo menos desta vez, a palavra
de um candidato merece ser levada ao pé da letra. "Este é o momento em que o mundo está
olhando o que vocês vão fazer",
disse o democrata John Kerry, ontem pela manhã, em comício no
aeroporto de Orlando, na Flórida.
É verdade, mas não é só motivo
de orgulho para os "floridians",
como são chamados os habitantes
da Flórida. "Temo, mas temo
muito, que se repita o de 2000",
diz, por exemplo, Caroline Kempsey, advogada de 53 anos, enquanto espera para votar antecipadamente na fila do Clark Center, no centro de Miami.
O que aconteceu em 2000? A
Flórida foi o palco de um vexame
inesquecível, que levou a eleição
presidencial para os tribunais e
arrastou por 36 dias a definição,
em favor de George W. Bush.
Até hoje, Kempsey e todos os
demais eleitores democratas como ela não engoliram o resultado.
Sabem, por isso, que os olhos do
mundo estão voltados para a Flórida, não só para saber o resultado
da eleição, mas para verificar se
não haverá novo vexame.
Pelo menos desta vez, a grande
maioria dos 10,3 milhões de eleitores registrados não usarão os
cartões perfurados que foram a
maior origem do vexame de 2000.
Votam em máquinas eletrônicas,
que, segundo os testes feitos pelas
autoridades, permitem que cada
eleitor leve em média apenas sete
minutos na frente do aparelho.
Teste é teste, fato é fato: Carlos
Buenaventura, cubano-americano de 28 anos, conta que perdeu
cinco horas para votar antecipadamente, na semana passada.
"O tempo de votação depende
do grau de informação sobre a cédula", diz Martha Stewart, chefe
da equipe de funcionários que
cuida da votação no Clark Center.
O fato de haver voto antecipado
deve aliviar as filas esperadas hoje. Cálculos extra-oficiais indicam
que quase 2 milhões de "floridians" já votaram. Pesquisas de
boca-de-urna nos condados de
Dade e Broward, em Miami, indicam vitória de Kerry por boa margem (16 a 17 pontos percentuais).
Mas não é um espelho fiel da
realidade de todo o Estado. Pesquisa da CNN/"USA Today"/Gallup dá Kerry com 49%, três pontos a mais que Bush.
Em meio às dúvidas, a certeza é
que o partido que conseguir levar
mais eleitores às urnas acabará
ganhando a Flórida e seus 27 delegados no Colégio Eleitoral.
Por isso, democratas e republicanos não medem esforços, a
ponto de Cristina Valera, porto-riquenha de 25 anos, ter estranhado muito um telefonema que recebeu: um voluntário republicano
oferecia-se até para ficar tomando
conta do cachorro dela, enquanto
Cristina estivesse votando.
(CR)
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