São Paulo, terça-feira, 02 de novembro de 2004

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Flórida vota sob o "olhar do mundo"

DO ENVIADO ESPECIAL A MIAMI

Pelo menos desta vez, a palavra de um candidato merece ser levada ao pé da letra. "Este é o momento em que o mundo está olhando o que vocês vão fazer", disse o democrata John Kerry, ontem pela manhã, em comício no aeroporto de Orlando, na Flórida.
É verdade, mas não é só motivo de orgulho para os "floridians", como são chamados os habitantes da Flórida. "Temo, mas temo muito, que se repita o de 2000", diz, por exemplo, Caroline Kempsey, advogada de 53 anos, enquanto espera para votar antecipadamente na fila do Clark Center, no centro de Miami.
O que aconteceu em 2000? A Flórida foi o palco de um vexame inesquecível, que levou a eleição presidencial para os tribunais e arrastou por 36 dias a definição, em favor de George W. Bush.
Até hoje, Kempsey e todos os demais eleitores democratas como ela não engoliram o resultado.
Sabem, por isso, que os olhos do mundo estão voltados para a Flórida, não só para saber o resultado da eleição, mas para verificar se não haverá novo vexame.
Pelo menos desta vez, a grande maioria dos 10,3 milhões de eleitores registrados não usarão os cartões perfurados que foram a maior origem do vexame de 2000. Votam em máquinas eletrônicas, que, segundo os testes feitos pelas autoridades, permitem que cada eleitor leve em média apenas sete minutos na frente do aparelho.
Teste é teste, fato é fato: Carlos Buenaventura, cubano-americano de 28 anos, conta que perdeu cinco horas para votar antecipadamente, na semana passada.
"O tempo de votação depende do grau de informação sobre a cédula", diz Martha Stewart, chefe da equipe de funcionários que cuida da votação no Clark Center.
O fato de haver voto antecipado deve aliviar as filas esperadas hoje. Cálculos extra-oficiais indicam que quase 2 milhões de "floridians" já votaram. Pesquisas de boca-de-urna nos condados de Dade e Broward, em Miami, indicam vitória de Kerry por boa margem (16 a 17 pontos percentuais).
Mas não é um espelho fiel da realidade de todo o Estado. Pesquisa da CNN/"USA Today"/Gallup dá Kerry com 49%, três pontos a mais que Bush.
Em meio às dúvidas, a certeza é que o partido que conseguir levar mais eleitores às urnas acabará ganhando a Flórida e seus 27 delegados no Colégio Eleitoral.
Por isso, democratas e republicanos não medem esforços, a ponto de Cristina Valera, porto-riquenha de 25 anos, ter estranhado muito um telefonema que recebeu: um voluntário republicano oferecia-se até para ficar tomando conta do cachorro dela, enquanto Cristina estivesse votando. (CR)


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