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Ansiedade dos
eleitores vira caso
para a medicina
LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK
Virou caso médico. Os americanos vão às urnas hoje com o nível
de ansiedade e estresse nas alturas. Os propulsores? Suspeitas de
fraude eleitoral em diversos Estados, o fantasma da recontagem,
medo de que o vencedor da votação popular não se torne presidente e, principalmente, uma tremenda insegurança quanto ao futuro dos EUA nos próximos quatro anos, sobretudo se o candidato vencedor for "o outro", aquele
em que você não votou.
O sentimento se traduz em pesquisas e depoimentos de psicólogos. Segundo levantamento publicado ontem pelo "New York
Times", a maioria dos eleitores teme que seu voto não seja contado
da maneira correta. Um terço deles espera encontrar problemas
na hora de votar. Outra pesquisa
recente, do Gallup, 90% dos entrevistados crêem que, dada a situação do país, esta eleição é mais
importante do que as eleições
passadas. E 89% deles dizem ter
medo do que vai acontecer caso
seu candidato perca.
"Há uma visão generalizada de
que nesta eleição coisas muito importantes estão em jogo. Os partidários do candidato perdedor ficarão profundamente desencorajados", disse à Folha Thoman E.
Mann, especialista em política e
opinião pública da Brookings Institution.
Esse efeito, segundo Mann, certamente vai se refletir no próximo
governo. "O próximo presidente
vai precisar tentar agradar a oposição muito mais do que [George
W.] Bush precisou depois da eleição de 2000", disse, em alusão ao
pleito decido na Suprema Corte.
Naquele ano, após discussões sobre a invalidação de votos e uma
extensa recontagem, a Justiça atribuiu todos os votos da Flórida a
Bush, e ele acabou vencendo no
colégio eleitoral.
Com o país tão dividido e depois do trauma de 2000, a ansiedade eleitoral foi parar no divã.
Citada ontem pelo "LA Times", a
psicóloga Karen Bierman, de Beverly Hills, disse que muitos de
seus pacientes estão discutindo a
eleição na terapia. Tantos que ela,
que tem 22 anos de consultório,
começou a encarar o pleito como
uma questão de saúde mental.
"Eu tenho uma nova doença,
chamada Dape: Desordem de Ansiedade Pré-Eleitoral", disse Patricia Wilson, 66, ao "New York Times". Ela vive na Pensilvânia, Estado onde a disputa estava acirrada até duas semanas atrás, quando Kerry começou a abrir ligeira
vantagem. "Estou tão preocupada
que tenho medo de ter um enfarte
na cabine de votação."
O mesmo "LA Times" deu outras pistas do porquê de tanta ansiedade. Temores sobre a validade
do processo à parte, trata-se de
uma "guerra cultural". Ao escolher seu candidato, a maioria analisa primeiro a plataforma econômica e a posição quanto à segurança. Mas no "pacote" oferecido
por Bush e John Kerry, tópicos
que mexem com valores morais
têm um peso tremendo, e as posições dos dois candidatos sobre cada um deles são opostas.
"Os eleitores tendem a buscar
candidatos que compartilhem de
seus valores", afirmaram os psicólogos Gian Vittorio Caprara e
Philip G. Zimbardo em artigo no
"American Psychologist".
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