São Paulo, terça-feira, 02 de novembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ansiedade dos eleitores vira caso para a medicina

LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK

Virou caso médico. Os americanos vão às urnas hoje com o nível de ansiedade e estresse nas alturas. Os propulsores? Suspeitas de fraude eleitoral em diversos Estados, o fantasma da recontagem, medo de que o vencedor da votação popular não se torne presidente e, principalmente, uma tremenda insegurança quanto ao futuro dos EUA nos próximos quatro anos, sobretudo se o candidato vencedor for "o outro", aquele em que você não votou.
O sentimento se traduz em pesquisas e depoimentos de psicólogos. Segundo levantamento publicado ontem pelo "New York Times", a maioria dos eleitores teme que seu voto não seja contado da maneira correta. Um terço deles espera encontrar problemas na hora de votar. Outra pesquisa recente, do Gallup, 90% dos entrevistados crêem que, dada a situação do país, esta eleição é mais importante do que as eleições passadas. E 89% deles dizem ter medo do que vai acontecer caso seu candidato perca.
"Há uma visão generalizada de que nesta eleição coisas muito importantes estão em jogo. Os partidários do candidato perdedor ficarão profundamente desencorajados", disse à Folha Thoman E. Mann, especialista em política e opinião pública da Brookings Institution.
Esse efeito, segundo Mann, certamente vai se refletir no próximo governo. "O próximo presidente vai precisar tentar agradar a oposição muito mais do que [George W.] Bush precisou depois da eleição de 2000", disse, em alusão ao pleito decido na Suprema Corte. Naquele ano, após discussões sobre a invalidação de votos e uma extensa recontagem, a Justiça atribuiu todos os votos da Flórida a Bush, e ele acabou vencendo no colégio eleitoral.
Com o país tão dividido e depois do trauma de 2000, a ansiedade eleitoral foi parar no divã. Citada ontem pelo "LA Times", a psicóloga Karen Bierman, de Beverly Hills, disse que muitos de seus pacientes estão discutindo a eleição na terapia. Tantos que ela, que tem 22 anos de consultório, começou a encarar o pleito como uma questão de saúde mental.
"Eu tenho uma nova doença, chamada Dape: Desordem de Ansiedade Pré-Eleitoral", disse Patricia Wilson, 66, ao "New York Times". Ela vive na Pensilvânia, Estado onde a disputa estava acirrada até duas semanas atrás, quando Kerry começou a abrir ligeira vantagem. "Estou tão preocupada que tenho medo de ter um enfarte na cabine de votação."
O mesmo "LA Times" deu outras pistas do porquê de tanta ansiedade. Temores sobre a validade do processo à parte, trata-se de uma "guerra cultural". Ao escolher seu candidato, a maioria analisa primeiro a plataforma econômica e a posição quanto à segurança. Mas no "pacote" oferecido por Bush e John Kerry, tópicos que mexem com valores morais têm um peso tremendo, e as posições dos dois candidatos sobre cada um deles são opostas.
"Os eleitores tendem a buscar candidatos que compartilhem de seus valores", afirmaram os psicólogos Gian Vittorio Caprara e Philip G. Zimbardo em artigo no "American Psychologist".


Texto Anterior: O império vota: Eleito deve influenciar Suprema Corte
Próximo Texto: Imperiais
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.