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Crack vale mais que ouro em garimpos isolados
DOS ENVIADOS A BENZDORP
O vício do crack em Benzdorp levou a droga, um subproduto da cocaína considerado
impuro (e por isso mais barato), a valer mais do que ouro.
O preço médio de um grama
de crack, suficiente para fumar
até quatro "pedras", é dois gramas de ouro (cerca de R$ 105).
Mas há locais mais isolados do
garimpo em que a cotação sobe
para três gramas de ouro por
grama de crack.
No centro de São Paulo, por
exemplo, um grama de crack
sai por no máximo R$ 40.
Mesmo com o inusitado fenômeno macroeconômico,
moradores da região do garimpo falam em uma "epidemia"
de viciados. É difícil considerar
isso um exagero. Em dois dias
circulando pelo garimpo, a reportagem da Folha viu ao menos uma dezena de pessoas,
brasileiros ou surinameses,
claramente sob efeito da droga,
sem nenhuma preocupação
com a possibilidade de repressão das autoridades.
M., um usuário brasileiro
que trabalha em um supermercado e não quis se identificar,
diz que não há fiscalização por
parte da polícia. "O consumo
aqui é livre", afirmou ele.
A droga vem de avião de Paramaribo (a capital do Suriname), trazida, segundo brasileiros, por "morenos", como são
chamados por lá os surinameses que descendem de escravos
negros.
A procedência é colombiana
na maioria das vezes, e a droga
entra no Suriname após passar
pelo Caribe. As fronteiras da
região são consideradas porosas. O controle aduaneiro é
praticamente inexistente.
Na região do garimpo de
Benzdorp, são apenas nove policiais fazendo a segurança.
Muitos moradores afirmam
que eles fazem vista grossa para o consumo e que alguns até
participam do tráfico.
É fácil encontrar um ponto
de venda ou uma boca de fumo.
O isolamento geográfico ajuda
a elevar o preço, e a demanda é
alta, turbinada por outra epidemia local: a depressão.
"A saudade de casa e a falta
de contato com os filhos deixa
muitas pessoas desesperadas.
O refúgio é o crack", diz o pastor brasileiro Herbert Leitão.
Dentro do garimpo, existe
um subgrupo especialmente
afetado: o dos "burrinhos". É
deles o trabalho mais sofrido:
carregar até 60 quilos de mantimentos nas costas por quilômetros mata adentro, abastecendo de mercadorias os garimpeiros que vivem isolados
pela área.
Tentação
Não há sistema de saúde em
Benzdorp, e menos ainda atendimento especializado para dependentes de drogas. Muitos
acabam recorrendo às igrejas
evangélicas.
"A tentação aqui é muito
grande. Você acha um ou dois
gramas de ouro e já pula um
monte de mulher e traficante
em cima. É muito fácil gastar
tudo de uma vez", diz P., um paraense que foi viciado por quatro anos e diz ter parado após se
tornar membro da Assembleia
de Deus.
O tráfico de drogas na região
tem gerado um surto de violência. Assaltos a supermercados
(mantidos na região por chineses) têm sido mais frequentes.
Há um mês, numa tentativa
frustrada, criminosos deixaram dois buracos de bala na
porta de um estabelecimento.
Para evitar novas ocorrências, os proprietários passaram
a usar seguranças com armamento pesado na entrada de
seus supermercados.
(FZ e AV)
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