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ANÁLISE
Insulamento pesa contra brasileiros
MARJO DE THEIJE
ESPECIAL PARA A FOLHA
Ninguém estava preparado
para uma tragédia como esta
em Albina. O Suriname é orgulhoso de ser um país no qual
muitas raças convivem pacificamente, como demonstram a
mesquita e a sinagoga lado a lado no centro da capital. No entanto, Albina aconteceu. E a sociedade espera explicações.
Estima-se que três quartos
dos mineiros artesanais na região de Albina, ou melhor, Papatam, sejam brasileiros -o
outro quarto é formado por
maroons, a tradicional população da maior parte do interior
do Suriname. Juntas, as duas
populações dominam o transporte pelos rios e quase todo
comércio informal ligado ao garimpo -a exceção são os supermercados de chineses que vêm
crescendo nos últimos anos.
No interior, brasileiros e maroons compartilham o território sem grandes problemas.
Muitos maroons falam português por terem vivido e trabalhado por muitos anos para
brasileiros. Há relacionamentos mistos e crianças nascidas
deles. Todo mundo escuta a
mesma música (brasileira, mas
também reggae surinamês) e vê
os mesmos programas brasileiros na televisão.
Como todos sabem dessa
harmoniosa sociabilidade, os
acontecimentos de Papatam
foram recebidos com incredulidade e choque. A parte mais impressionante é provavelmente
o suposto estupro de até 20
mulheres.
As ruas de Paramaribo estão
dominadas por comentários
que condenam a violência -especialmente contra mulheres-
e os saques. Mas, ao mesmo
tempo, a comunidade brasileira é criticada por não se integrar à sociedade surinamesa.
Os brasileiros não aprendem
as línguas locais e a "Pequena
Belém", no norte da capital, é
exatamente o que nome sugere:
um bairro 100% brasileiro.
Como a maioria dos surinameses jamais pôs os pés num
garimpo, a opinião deles sobre
os brasileiros é baseada nessas
observações isoladas.
Até recentemente, a maioria
dos brasileiros não tinha visto
ou licença para trabalhar nas
minas de pequeno porte, e por
isso eram rotulados de "ilegais"
e "criminosos". Acima de tudo
isso, está o fato de que a sociedade do Suriname acredita que
os brasileiros vêm para "levar o
ouro embora".
Embora se possa argumentar
que a maior parte do lucro com
o garimpo é investido no país, e
que as minas de pequeno porte
são muito importantes para a
economia local (12,6% da população do Suriname depende delas, ver www.artisanalmi
ning.org), a ideia de que esses
estrangeiros vêm para levar as
riquezas do país é persistente.
Isso não explica o ataque da
véspera de Natal em Papatam,
mas, certamente, é parte importante da formulação das
justificativas.
Marjo de Theije é doutora em antropologia social
e cultura e professora associada da Universidade de Amsterdã e está no Suriname
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