São Paulo, sábado, 03 de fevereiro de 2007

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Mundo agora é "não-polar", diz estudo

Para instituto londrino, EUA ainda ditam a agenda internacional, mas não conseguem mais impô-la

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Não existe mais um grande e hegemônico pólo de poder político militar no mundo, os EUA, mas o planeta também não se tornou "multipolar", segundo o prestigiado Instituto Internacional para Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), de Londres.
"O fato é que vivemos em um mundo não-polar", disse o diretor-geral do IISS, John Chipman, durante o lançamento, nesta semana, do anuário "The Military Balance", sobre o poderio militar de todos os países e de grupos armados não-governamentais.
"O poder dos EUA é forte o suficiente para estabelecer uma agenda para a atividade internacional, mas é fraco demais efetivamente para implementar essa agenda globalmente", afirma Chipman. Isto é, o poderio de outros Estados, ou de agentes não-estatais como grupos insurgentes ou terroristas, é capaz de fazer frente aos americanos, mas incapaz de criar uma alternativa internacionalmente atraente, ou mesmo uma opção local sem influências externas.
Essa impotência relativa dos EUA e seus aliados pode ser vista em graus variados nas regiões e países que o instituto considera mais significativas, e que foram as manchetes da imprensa internacional em 2006 - Iraque, Afeganistão, Irã, Coréia do Norte e China.
Foram estes também os principais temas do discurso de Chipman apresentando o anuário, e também da coletiva de imprensa de 25 minutos a seguir (disponível em vídeo no site do instituto, www.iiss.org).
Patrick Cronin, diretor de Estudos do IISS, disse que, apesar da situação de "crescente guerra civil" no Iraque, a situação "não é completamente irrecuperável".
Quando à recente crise dos EUA com a China por causa do teste chinês de um míssil anti-satélite, Cronin afirma que a reação correta é "mostrar preocupação, mas sem reagir em excesso". Isto é, os dois lados precisariam se entender sobre o poderio militar chinês, que cresce junto com sua economia, e sobre o papel americano de potência militar global e de defensor de Taiwan, para a China uma "Província rebelde".
Quanto ao Afeganistão, os especialistas do IISS estão otimistas quanto ao maior empenho da Otan, a aliança militar ocidental, em enviar mais tropas para o país asiático.
A América Latina não foi citada em nenhum momento da apresentação em Londres, embora ironicamente tenha provocado a primeira polêmica relacionada ao anuário editado por Christopher Langton, coronel aposentado do Exército britânico. O governo do presidente venezuelano, Hugo Chávez, estaria financiando bases militares e entregando armas à Bolívia, especula o anuário.
Segundo divulgado pela agência de notícias Associated Press, citando Langton, "dada a quantidade de armas que a Venezuela está comprando e suas relações estreitas com a Bolívia, assim como problemas internos bolivianos e seu desejo de aumentar sua capacidade militar, deve considerar-se como lógico e real a possibilidade de intercâmbio de armas".
Ontem o governo boliviano negou a possibilidade. "O governo da Bolívia não recebeu nem um cartucho para aumentar seu potencial bélico. A Bolívia não tem nem vai ter uma política belicista em seu contexto regional", declarou o vice-presidente, Alvaro García Linera.


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