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Mundo agora é "não-polar", diz estudo
Para instituto londrino, EUA ainda ditam a agenda internacional, mas não conseguem mais impô-la
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Não existe mais um grande e
hegemônico pólo de poder político militar no mundo, os
EUA, mas o planeta também
não se tornou "multipolar", segundo o prestigiado Instituto
Internacional para Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), de Londres.
"O fato é que vivemos em um
mundo não-polar", disse o diretor-geral do IISS, John Chipman, durante o lançamento,
nesta semana, do anuário "The
Military Balance", sobre o poderio militar de todos os países
e de grupos armados não-governamentais.
"O poder dos EUA é forte o
suficiente para estabelecer
uma agenda para a atividade internacional, mas é fraco demais
efetivamente para implementar essa agenda globalmente",
afirma Chipman. Isto é, o poderio de outros Estados, ou de
agentes não-estatais como grupos insurgentes ou terroristas,
é capaz de fazer frente aos americanos, mas incapaz de criar
uma alternativa internacionalmente atraente, ou mesmo
uma opção local sem influências externas.
Essa impotência relativa dos
EUA e seus aliados pode ser vista em graus variados nas regiões e países que o instituto
considera mais significativas, e
que foram as manchetes da imprensa internacional em 2006
- Iraque, Afeganistão, Irã, Coréia do Norte e China.
Foram estes também os
principais temas do discurso de
Chipman apresentando o
anuário, e também da coletiva
de imprensa de 25 minutos a
seguir (disponível em vídeo no
site do instituto, www.iiss.org).
Patrick Cronin, diretor de
Estudos do IISS, disse que, apesar da situação de "crescente
guerra civil" no Iraque, a situação "não é completamente irrecuperável".
Quando à recente crise dos
EUA com a China por causa do
teste chinês de um míssil anti-satélite, Cronin afirma que a
reação correta é "mostrar preocupação, mas sem reagir em excesso". Isto é, os dois lados precisariam se entender sobre o
poderio militar chinês, que
cresce junto com sua economia, e sobre o papel americano
de potência militar global e de
defensor de Taiwan, para a China uma "Província rebelde".
Quanto ao Afeganistão, os especialistas do IISS estão otimistas quanto ao maior empenho da Otan, a aliança militar
ocidental, em enviar mais tropas para o país asiático.
A América Latina não foi citada em nenhum momento da
apresentação em Londres, embora ironicamente tenha provocado a primeira polêmica relacionada ao anuário editado
por Christopher Langton, coronel aposentado do Exército
britânico. O governo do presidente venezuelano, Hugo Chávez, estaria financiando bases
militares e entregando armas à
Bolívia, especula o anuário.
Segundo divulgado pela
agência de notícias Associated
Press, citando Langton, "dada a
quantidade de armas que a Venezuela está comprando e suas
relações estreitas com a Bolívia, assim como problemas internos bolivianos e seu desejo
de aumentar sua capacidade
militar, deve considerar-se como lógico e real a possibilidade
de intercâmbio de armas".
Ontem o governo boliviano
negou a possibilidade. "O governo da Bolívia não recebeu
nem um cartucho para aumentar seu potencial bélico. A Bolívia não tem nem vai ter uma
política belicista em seu contexto regional", declarou o vice-presidente, Alvaro García
Linera.
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