São Paulo, quarta-feira, 03 de março de 2010

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Em um gesto para os palestinos, Lula vai passar noite em Belém

Presidente faz visita a Oriente Médio em meio a crescentes tensões na região

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

O programa da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva neste mês a Israel e aos territórios palestinos ainda não foi divulgado, mas um gesto carregado de significado político já está definido: ele irá passar uma noite em Belém.
O pernoite na cidade onde nasceu Jesus, segundo a tradição cristã, é um claro sinal de apoio à ANP (Autoridade Nacional Palestina), que controla Belém. Em geral, o protocolo seguido por líderes estrangeiros é visitar Ramallah, sede da ANP, e dormir em Jerusalém.
O presidente Lula, que desembarca em Israel no próximo dia 14, chega num momento de crescentes tensões entre Israel e seus vizinhos, a começar pelos palestinos. O processo de paz do qual o Itamaraty manifestou interesse em participar torna-se uma possibilidade cada vez mais remota.
Paradas há mais de um ano, as negociações entre palestinos estão em ponto morto desde que o primeiro-ministro direitista Binyamin Netanyahu assumiu o governo israelense no início de 2009. Israel acusa os palestinos de impor precondições para reabrir o diálogo, e os EUA de Barack Obama não conseguem quebrar o gelo entre as duas partes.

Atritos
Diante do impasse, circula entre os palestinos a ameaça de uma terceira intifada (rebelião), em meio a uma sucessão de atritos. Um deles é a desapropriação e a demolição de casas em Jerusalém Oriental, que os palestinos querem como a capital de seu Estado -já para os israelenses, a cidade deve permanecer indivisível e sob controle judaico.
Ontem, o prefeito de Jerusalém, Nir Barkat, revelou o plano de construir um parque turístico perto das muralhas da cidade velha, o que implicaria a destruição de 20 casas de palestinos. Barkat alega que as construções são irregulares e que o turismo gerado pelo parque também beneficiará os moradores árabes do bairro.
Pouco antes do anúncio, o premiê Netanyahu pediu a Barkat que tente uma solução negociada com os moradores antes de implementar o projeto, o que deve adiar as demolições por um tempo. Mas os palestinos alertaram que haverá uma conflagração se o plano do prefeito for executado.
Além disso, a decisão do governo de Israel de incluir dois santuários religiosos situados em territórios palestinos em seu patrimônio histórico esquentou os ânimos, deflagrando uma série de confrontos na volátil cidade de Hebron, onde está o Túmulo dos Patriarcas.
O outro santuário, o Túmulo de Raquel, fica em Belém, onde o presidente Lula passará a noite do dia 16. O gesto faz parte da preocupação da diplomacia brasileira de manter o equilíbrio entre Israel e os palestinos, dando tempo igual para as duas visitas. Em seguida, Lula ficará um dia na Jordânia.


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