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IRAQUE OCUPADO
Estados Unidos contratam cada vez mais empresas privadas para fazer serviços das Forças Armadas
Americanos mortos faziam segurança paramilitar
JAMES DAO
DO "NEW YORK TIMES"
Os quatro americanos mortos
quarta-feira em Fallujah eram
funcionários da Blackwater
U.S.A., uma empresa da Carolina
do Norte especializada em fornecer segurança para empresas e governos. Entre suas missões no Iraque, a Blackwater é encarregada
da segurança de Paul Bremer, o
chefe da Autoridade Provisória da
Coalizão.
Das três vítimas identificadas
pela agência de notícias Associated Press, duas eram veteranos do
Exército e outra tinha servido na
Marinha. As cenas horríveis capturadas pelas câmeras chocaram
o país mas também lançaram luz
sobre a crescente, e pouco regulamentada, indústria de companhias paramilitares particulares
que estão substituindo soldados
do governo em conflitos que vão
da América do Sul até a África e o
Oriente Médio.
"É um novo fenômeno: empresas privadas de serviços militares
realizando o trabalho da linha de
frente que soldados costumavam
fazer", disse Peter Singer, pesquisador de segurança nacional na
Brookings Institute, de Washington, e autor de um livro sobre essa
indústria ("Corporate Warriors";
guerreiros de empresas).
Embora soldados particulares
existam desde o início das guerras, a versão corporativa moderna
ganhou impulso depois do colapso da União Soviética, no começo
dos anos 1990. Na época, diversas
nações reduziram drasticamente
suas forças militares, deixando
milhões de soldados sem emprego. Muitos deles foram para o
mercado de trabalho oferecendo
aquilo que sabiam fazer melhor:
fornecer segurança ou treinamento para outros.
A proliferação de conflitos étnicos e guerras civis em lugares como os Bálcãs, o Haiti e a Libéria
garantiu emprego para os funcionários das novas companhias. Os
negócios prosperaram rapidamente depois que o 11 de Setembro obrigou executivos e autoridades governamentais a aumentar sua segurança no exterior.
Mas foi a ocupação do Iraque
que deu à jovem indústria um
crescimento explosivo, segundo
especialistas em segurança. Existem atualmente dezenas, talvez
centenas, de negócios militares
privados em todo o mundo. Só no
Iraque há 24 companhias, que
empregam 15 mil pessoas.
De acordo com especialistas em
segurança, elas oferecem proteção para diplomatas, empresários
envolvidos na reconstrução, organizações beneficentes e jornalistas. Guardas particulares também vigiam campos de petróleo,
bancos, complexos residenciais e
prédios de escritórios.
A demanda é tanta que as companhias oferecem de US$ 100 mil
a até US$ 200 mil por ano para
convencer militares de alta patente das forças de Operações Especiais a trocar de carreira.
A Blackwater é um exemplo típico desse novo negócio. Fundada em 1998 por ex-integrantes dos
Navy Seals (mergulhadores de elite da Marinha), a empresa diz ter
preparado dezenas de milhares de
seguranças para trabalhar em locais perigosos do mundo.
As instalações da Blackwater
são tão modernas e bem equipadas que, segundo autoridades militares, servem de local de treinamento de membros dos Navy
Seals de Norfolk (Virgínia). Equipes de polícia de todas as partes
dos EUA treinam no local.
Segundo funcionários do Pentágono, a Blackwater fechou um
contrato de US$ 35,7 milhões em
2002, com cinco anos de duração,
para treinar membros da Marinha americana.
Críticos da indústria dizem que
há pouca regulamentação para
garantir a qualidade do treinamento. O deputado democrata
Jan Schakowsky também afirma
que o uso crescente de companhias privadas pelo governo esconde os custos de operações militares no estrangeiro.
Schakowsky faz restrições especialmente aos planos do governo
de aumentar o número de empresas militares privadas na Colômbia, onde três americanos civis
que trabalhavam para uma subsidiária da Northrup Grumman foram mantidos em cativeiro por
rebeldes marxistas por mais de
um ano. Os três estavam em uma
missão de busca por laboratórios
de processamento de cocaína
quando foram capturados.
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