São Paulo, sábado, 03 de abril de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Estados Unidos contratam cada vez mais empresas privadas para fazer serviços das Forças Armadas

Americanos mortos faziam segurança paramilitar

JAMES DAO
DO "NEW YORK TIMES"

Os quatro americanos mortos quarta-feira em Fallujah eram funcionários da Blackwater U.S.A., uma empresa da Carolina do Norte especializada em fornecer segurança para empresas e governos. Entre suas missões no Iraque, a Blackwater é encarregada da segurança de Paul Bremer, o chefe da Autoridade Provisória da Coalizão.
Das três vítimas identificadas pela agência de notícias Associated Press, duas eram veteranos do Exército e outra tinha servido na Marinha. As cenas horríveis capturadas pelas câmeras chocaram o país mas também lançaram luz sobre a crescente, e pouco regulamentada, indústria de companhias paramilitares particulares que estão substituindo soldados do governo em conflitos que vão da América do Sul até a África e o Oriente Médio.
"É um novo fenômeno: empresas privadas de serviços militares realizando o trabalho da linha de frente que soldados costumavam fazer", disse Peter Singer, pesquisador de segurança nacional na Brookings Institute, de Washington, e autor de um livro sobre essa indústria ("Corporate Warriors"; guerreiros de empresas).
Embora soldados particulares existam desde o início das guerras, a versão corporativa moderna ganhou impulso depois do colapso da União Soviética, no começo dos anos 1990. Na época, diversas nações reduziram drasticamente suas forças militares, deixando milhões de soldados sem emprego. Muitos deles foram para o mercado de trabalho oferecendo aquilo que sabiam fazer melhor: fornecer segurança ou treinamento para outros.
A proliferação de conflitos étnicos e guerras civis em lugares como os Bálcãs, o Haiti e a Libéria garantiu emprego para os funcionários das novas companhias. Os negócios prosperaram rapidamente depois que o 11 de Setembro obrigou executivos e autoridades governamentais a aumentar sua segurança no exterior.
Mas foi a ocupação do Iraque que deu à jovem indústria um crescimento explosivo, segundo especialistas em segurança. Existem atualmente dezenas, talvez centenas, de negócios militares privados em todo o mundo. Só no Iraque há 24 companhias, que empregam 15 mil pessoas.
De acordo com especialistas em segurança, elas oferecem proteção para diplomatas, empresários envolvidos na reconstrução, organizações beneficentes e jornalistas. Guardas particulares também vigiam campos de petróleo, bancos, complexos residenciais e prédios de escritórios.
A demanda é tanta que as companhias oferecem de US$ 100 mil a até US$ 200 mil por ano para convencer militares de alta patente das forças de Operações Especiais a trocar de carreira.
A Blackwater é um exemplo típico desse novo negócio. Fundada em 1998 por ex-integrantes dos Navy Seals (mergulhadores de elite da Marinha), a empresa diz ter preparado dezenas de milhares de seguranças para trabalhar em locais perigosos do mundo.
As instalações da Blackwater são tão modernas e bem equipadas que, segundo autoridades militares, servem de local de treinamento de membros dos Navy Seals de Norfolk (Virgínia). Equipes de polícia de todas as partes dos EUA treinam no local.
Segundo funcionários do Pentágono, a Blackwater fechou um contrato de US$ 35,7 milhões em 2002, com cinco anos de duração, para treinar membros da Marinha americana.
Críticos da indústria dizem que há pouca regulamentação para garantir a qualidade do treinamento. O deputado democrata Jan Schakowsky também afirma que o uso crescente de companhias privadas pelo governo esconde os custos de operações militares no estrangeiro.
Schakowsky faz restrições especialmente aos planos do governo de aumentar o número de empresas militares privadas na Colômbia, onde três americanos civis que trabalhavam para uma subsidiária da Northrup Grumman foram mantidos em cativeiro por rebeldes marxistas por mais de um ano. Os três estavam em uma missão de busca por laboratórios de processamento de cocaína quando foram capturados.


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