São Paulo, sábado, 03 de abril de 2004

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Retaliação trará sangue, dizem iraquianos

DA REDAÇÃO

Dois dias após o brutal assassinato de quatro americanos, que levou o comando militar dos EUA a prometer uma resposta "arrasadora", não se viam soldados do país no centro de Fallujah. Líderes locais condenaram a mutilação dos corpos, mas disseram que uma resposta americana muito dura só irá provocar mais derramamento de sangue.
"Os americanos deveriam pensar antes de agir. Se eles entrarem em Fallujah e usarem a força, também encontrarão força. Todos aqui estão irritados com a ocupação, e há muitas tribos, o que significa que haverá vingança. Os americanos deveriam manter-se afastados", disse o tenente Mohammad Tarik, da força de segurança iraquiana.
O xeque Fawzi Nameq, em sermão para 600 fiéis numa mesquita próxima de onde os quatro americanos foram mortos, condenou os atos de violência. "O islã não apóia a mutilação dos corpos de mortos", disse.
Outro xeque, Hamid Saleh, também fez críticas: "É um comportamento infantil cometido por ignorantes. É um erro grave que destrói a reputação do islã". Os dois seguiam uma diretriz estabelecida por clérigos superiores de Fallujah para que os líderes religiosos condenassem a mutilação.
Em Bagdá, o general Mark Kimmitt, vice-diretor de operações do Exército americano no Iraque, disse que reprovar a mutilação dos corpos, mas não os assassinatos, não é o bastante. "A condenação da mutilação ajuda, mas é uma resposta parcial. O assassinato de inocentes precisa ser condenado."
Em Huntington (Virgínia do Oeste), o presidente George W. Bush disse que os EUA "jamais se intimidarão". "Eles estão tentando abalar a nossa determinação. Mas não entendem este país. Nós manteremos o curso. Ainda temos muito trabalho duro para fazer no Iraque", afirmou, durante visita a uma faculdade.
Fallujah, localizada 55 km a oeste de Bagdá, fica no chamado Triângulo Sunita e é um dos principais focos de resistência à ocupação dos EUA e de apoio ao ex-ditador Saddam Hussein.
Os moradores acusam as tropas americanas de excesso de violência em suas batidas em busca de insurgentes e de atirar a esmo. Muitos ainda juram vingança por incidente de um ano atrás, quando soldados dispararam contra uma multidão que protestava e mataram 15 pessoas.
Uma pesquisa feita em fevereiro na Província de Anbar, onde está Fallujah, apontou que 71% dos iraquianos julgam que ataques às forças da coalizão são ações políticas "aceitáveis". Em todo o país, a aprovação é de apenas 17%, de acordo com o levantamento realizado pela Oxford Research International para redes de TV.

Mais mortes
Um soldado americano morreu e outro ficou ferido ontem de manhã em Bagdá em um ataque com bomba. Um marine também morreu na Província de Anbar em conseqüência de ferimentos recebidos em ataque anteontem. Em Riyadh (norte), três homens morreram quando uma bomba que colocavam ao lado da sede do governo explodiu. No sul, em Kufa, atiradores mataram o comandante da polícia iraquiana. Desde o começo da guerra, em março de 2003, já morreram 601 soldados dos EUA, segundo o Pentágono.


Com agências internacionais


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