São Paulo, domingo, 03 de abril de 2005

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A MORTE DO PAPA

Varredura contra grampos deve assegurar sigilo total de conclave

DO ENVIADO ESPECIAL A ROMA

É realmente possível, nesta era do mais exacerbado "voyeurismo", manter 118 personalidades trancadas indefinidamente à chave sem que mantenham o menor contato com o mundo exterior?
O papa João Paulo 2º acreditava nessa possibilidade, mas com suficiente receio em relação ao poder da tecnologia moderna sobre os mistérios de sua igreja. Tanto é assim que mandou incluir o seguinte texto na Constituição Apostólica, que dita as regras para o conclave que elegerá o seu sucessor: "Dois técnicos de confiança tratarão de tutelar o sigilo, comprovando que nenhum meio de gravação ou de transmissão audiovisual seja colocado por quem quer que seja nos locais [reservados aos cardeais]".
É tanta a desconfiança do papa que a regra inclui a hipótese de punição "grave", mas não especifica qual, deixando-a a cargo do papa a ser eleito no conclave que, nesse caso, terá tido violado o seu sigilo.
As novas regras levam claramente em conta que o conclave que elegerá o sucessor de Karol Wojtyla será o primeiro na era da internet, do telefone celular e dos portentosos microfones.
Mesmo que o conclave escape de pecado tão mundano como o "grampo", as chances de vazamentos aumentaram exponencialmente. Primeiro, os cardeais não ficarão mais confinados na capela Sistina. João Paulo 2º decidiu transformar um antigo hospital no "Domus Sanctae Marthae", ou, mais modernamente, Hotel Santa Marta, um cinco estrelas de 120 suítes (todas idênticas), com banheiro privado completo e uma sala de estar/estudos. É nele que se hospedarão os cardeais, inclusive nos dias do conclave, enquanto não estiverem trancados tentando escolher o novo papa.
Ficarão, portanto, expostos ao contato com os funcionários do Santa Marta. Em tese, ficarão expostos ao mundo, via câmeras de TV, se de fato fizerem de ônibus, como está inicialmente previsto, o curto trajeto de 200 metros entre o hotel e a basílica de São Pedro.
É possível, por isso, que o Vaticano prefira utilizar a "Sacristia", uma passagem coberta que liga o Santa Marta à basílica.
A modernidade já teve participação no anúncio oficial da morte do papa, que foi feito pelo porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls, foi distribuído aos jornalistas por e-mail.
O anúncio dizia que o papa havia morrido em seu aposento. Antes do comunicado oficial, o Vaticano já havia divulgado que as condições eram muito graves.
O serviço de imprensa do Vaticano mantém já há uns três anos um sistema de mensagens via celular (os populares SMSs) para avisar os jornalistas credenciados de fatos que ocorrem nas horas em que a sala de imprensa está fechada.
O jornal "Corriere della Sera" anunciava ontem que o SMS seria usado para anunciar a morte do papa. O porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls, negou a informação, alegando que o sistema seria dispensável. (CR)

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