|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
A MORTE DO PAPA
Varredura contra grampos deve assegurar sigilo total de conclave
DO ENVIADO ESPECIAL A ROMA
É realmente possível, nesta era
do mais exacerbado "voyeurismo", manter 118 personalidades
trancadas indefinidamente à chave sem que mantenham o menor
contato com o mundo exterior?
O papa João Paulo 2º acreditava
nessa possibilidade, mas com suficiente receio em relação ao poder da tecnologia moderna sobre
os mistérios de sua igreja. Tanto é
assim que mandou incluir o seguinte texto na Constituição
Apostólica, que dita as regras para
o conclave que elegerá o seu sucessor: "Dois técnicos de confiança tratarão de tutelar o sigilo,
comprovando que nenhum meio
de gravação ou de transmissão
audiovisual seja colocado por
quem quer que seja nos locais [reservados aos cardeais]".
É tanta a desconfiança do papa
que a regra inclui a hipótese de
punição "grave", mas não especifica qual, deixando-a a cargo do
papa a ser eleito no conclave que,
nesse caso, terá tido violado o seu
sigilo.
As novas regras levam claramente em conta que o conclave
que elegerá o sucessor de Karol
Wojtyla será o primeiro na era da
internet, do telefone celular e dos
portentosos microfones.
Mesmo que o conclave escape
de pecado tão mundano como o
"grampo", as chances de vazamentos aumentaram exponencialmente. Primeiro, os cardeais
não ficarão mais confinados na
capela Sistina. João Paulo 2º decidiu transformar um antigo hospital no "Domus Sanctae Marthae",
ou, mais modernamente, Hotel
Santa Marta, um cinco estrelas de
120 suítes (todas idênticas), com
banheiro privado completo e uma
sala de estar/estudos. É nele que se
hospedarão os cardeais, inclusive
nos dias do conclave, enquanto
não estiverem trancados tentando escolher o novo papa.
Ficarão, portanto, expostos ao
contato com os funcionários do
Santa Marta. Em tese, ficarão expostos ao mundo, via câmeras de
TV, se de fato fizerem de ônibus,
como está inicialmente previsto, o
curto trajeto de 200 metros entre
o hotel e a basílica de São Pedro.
É possível, por isso, que o Vaticano prefira utilizar a "Sacristia",
uma passagem coberta que liga o
Santa Marta à basílica.
A modernidade já teve participação no anúncio oficial da morte
do papa, que foi feito pelo porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls, foi distribuído aos jornalistas por e-mail.
O anúncio dizia que o papa havia morrido em seu aposento. Antes do comunicado oficial, o Vaticano já havia divulgado que as
condições eram muito graves.
O serviço de imprensa do Vaticano mantém já há uns três anos
um sistema de mensagens via celular (os populares SMSs) para
avisar os jornalistas credenciados
de fatos que ocorrem nas horas
em que a sala de imprensa está fechada.
O jornal "Corriere della Sera"
anunciava ontem que o SMS seria
usado para anunciar a morte do
papa. O porta-voz do Vaticano,
Joaquín Navarro-Valls, negou a
informação, alegando que o sistema seria dispensável.
(CR)
Texto Anterior: A morte do papa: Para d. Cláudio, novo papa será "diferente" Próximo Texto: A morte do papa: Mundo todo faz homenagens a pontífice Índice
|