São Paulo, sexta-feira, 03 de maio de 2002

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CHOQUE NA FRANÇA

Sucesso de manifestações contra o extremista se torna trunfo eleitoral no final da campanha

Direita e esquerda usam furor anti-Le Pen

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

Tanto a esquerda quanto a direita trataram de capitalizar os efeitos da mobilização de anteontem contra o candidato à Presidência da França Jean-Marie Le Pen (extrema direita), que levou mais de 1 milhão de pessoas às ruas. Organizados por várias entidades de esquerda, os protestos foram também um apelo ao voto útil no presidente Jacques Chirac (centro-direita) no segundo turno das eleições, no domingo.
O centro-direita, porém, foi o principal ausente. Nenhuma de suas autoridades de peso esteve presente. Ontem, elas trataram de espalhar elogios à mobilização.
"Eu quero saudar toda a juventude da França que se mobilizou com entusiasmo, determinação e dignidade para defender os valores da democracia e da República", disse Chirac em seu último comício, para 20 mil pessoas, em Villepinte, ao norte de Paris.
No discurso, Chirac disse que foi a "extrema direita quem traiu o povo francês e se aliou às forças do mal [os nazistas durante a Segunda Guerra"".
O ex-premiê Alain Juppé, do mesmo partido de Chirac, disse que "ver centenas de milhares de franceses, sobretudo jovens, gritarem "República e democracia" foi um evento que deixa felizes todos os que crêem nesses valores".
A direita também está se mobilizando para a escolha do novo premiê, em substituição ao socialista Lionel Jospin. O nome mais cotado é o do deputado Nicolas Sarkozy, do partido de Chirac (RPR, Reunião pela República).
A esquerda, por sua vez, está tomando as manifestações como um ensaio de mobilização para o dia das eleições e também para o período pós-eleitoral. Os franceses votarão nas eleições legislativas em junho, quando as disputas entre esquerda, direita e, agora, extrema direita serão acirradas.
Ontem, o emergente partido de extrema esquerda Liga Comunista Revolucionária, que concorreu à Presidência com Olivier Besancenot (4,25% dos votos), anunciou que está planejando, para depois da proclamação dos primeiros resultados no domingo, uma manifestação contra Chirac.
"Domingo é preciso votar em Chirac e lavar as mãos depois", disse Besancenot, 27, que já foi carteiro e agora se tornou um astro entre os jovens.
Ele faz eco à campanha apelidada de "Mãos Limpas", que se espalhou nos últimos dias pelo país, movida por associações e grupos esquerdistas, e que aconselha as pessoas a votarem nas eleições presidenciais usando luvas.
Os esquerdistas estão contrariados com o fato de terem de votar em Chirac, um candidato conservador sobre o qual pesam várias suspeitas de corrupção -ontem, em comício para cerca de 3.000 pessoas em Marselha, Le Pen disse que é preciso "dar uma lição histórica nesse corrupto".
A campanha "Mãos Limpas" se difundiu no boca-a-boca e pela internet, chegou ao noticiário dos jornais e já alcançou os políticos. "Salve a democracia mantendo as mãos limpas", diz a propaganda num dos sites.
O centro-direitista Juppé atacou ontem a iniciativa contestatória, dizendo que votar com luvas é um ato "lepenista". "Isso faz parte da mesma visão da política, dessa maneira de dizer que os políticos são podres", disse.
Outros estratagemas também estão sendo difundidos pelo país por antichiraquianos. Um deles sugere votar com um pregador no nariz. Outro propõe que os eleitores mandem para Chirac, com uma carta, a cédula de voto com o nome de Le Pen. "A França não vos elegeu para que o senhor salvasse a República, ela salvou a República votando no senhor", diz um dos modelos de carta.
Segundo pesquisa do instituto Ipsos divulgada ontem, Chirac tem entre 75% e 82% das intenções de voto, e Le Pen, de 18% a 25%.


Com agências internacionais


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