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CHOQUE NA FRANÇA
Sucesso de manifestações contra o extremista se torna trunfo eleitoral no final da campanha
Direita e esquerda usam furor anti-Le Pen
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
Tanto a esquerda quanto a direita trataram de capitalizar os
efeitos da mobilização de anteontem contra o candidato à Presidência da França Jean-Marie Le
Pen (extrema direita), que levou
mais de 1 milhão de pessoas às
ruas. Organizados por várias entidades de esquerda, os protestos
foram também um apelo ao voto
útil no presidente Jacques Chirac
(centro-direita) no segundo turno
das eleições, no domingo.
O centro-direita, porém, foi o
principal ausente. Nenhuma de
suas autoridades de peso esteve
presente. Ontem, elas trataram de
espalhar elogios à mobilização.
"Eu quero saudar toda a juventude da França que se mobilizou
com entusiasmo, determinação e
dignidade para defender os valores da democracia e da República", disse Chirac em seu último
comício, para 20 mil pessoas, em
Villepinte, ao norte de Paris.
No discurso, Chirac disse que
foi a "extrema direita quem traiu
o povo francês e se aliou às forças
do mal [os nazistas durante a Segunda Guerra"".
O ex-premiê Alain Juppé, do
mesmo partido de Chirac, disse
que "ver centenas de milhares de
franceses, sobretudo jovens, gritarem "República e democracia"
foi um evento que deixa felizes todos os que crêem nesses valores".
A direita também está se mobilizando para a escolha do novo
premiê, em substituição ao socialista Lionel Jospin. O nome mais
cotado é o do deputado Nicolas
Sarkozy, do partido de Chirac
(RPR, Reunião pela República).
A esquerda, por sua vez, está tomando as manifestações como
um ensaio de mobilização para o
dia das eleições e também para o
período pós-eleitoral. Os franceses votarão nas eleições legislativas em junho, quando as disputas
entre esquerda, direita e, agora,
extrema direita serão acirradas.
Ontem, o emergente partido de
extrema esquerda Liga Comunista Revolucionária, que concorreu
à Presidência com Olivier Besancenot (4,25% dos votos), anunciou que está planejando, para depois da proclamação dos primeiros resultados no domingo, uma
manifestação contra Chirac.
"Domingo é preciso votar em
Chirac e lavar as mãos depois",
disse Besancenot, 27, que já foi
carteiro e agora se tornou um astro entre os jovens.
Ele faz eco à campanha apelidada de "Mãos Limpas", que se espalhou nos últimos dias pelo país,
movida por associações e grupos
esquerdistas, e que aconselha as
pessoas a votarem nas eleições
presidenciais usando luvas.
Os esquerdistas estão contrariados com o fato de terem de votar
em Chirac, um candidato conservador sobre o qual pesam várias
suspeitas de corrupção -ontem,
em comício para cerca de 3.000
pessoas em Marselha, Le Pen disse que é preciso "dar uma lição
histórica nesse corrupto".
A campanha "Mãos Limpas" se
difundiu no boca-a-boca e pela
internet, chegou ao noticiário dos
jornais e já alcançou os políticos.
"Salve a democracia mantendo as
mãos limpas", diz a propaganda
num dos sites.
O centro-direitista Juppé atacou
ontem a iniciativa contestatória,
dizendo que votar com luvas é um
ato "lepenista". "Isso faz parte da
mesma visão da política, dessa
maneira de dizer que os políticos
são podres", disse.
Outros estratagemas também
estão sendo difundidos pelo país
por antichiraquianos. Um deles
sugere votar com um pregador no nariz. Outro propõe que os eleitores mandem para Chirac, com
uma carta, a cédula de voto com o nome de Le Pen. "A França não vos elegeu para que o senhor salvasse a República, ela salvou a República votando no senhor", diz um dos modelos de carta.
Segundo pesquisa do instituto Ipsos divulgada ontem, Chirac tem entre 75% e 82% das intenções de voto, e Le Pen, de 18% a 25%.
Com agências internacionais
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