São Paulo, sexta-feira, 03 de maio de 2002

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Haider quer unir extrema direita européia, sem Le Pen

JULIETA RUDICH
DO "EL PAÍS"

Na Dinamarca, na Holanda, na Itália e no sul da Alemanha há um "enorme potencial" para formar um movimento europeu de direita, segundo o extremista austríaco Jörg Haider.
Haider, que integra a coalizão de poder no seu país, propõe aos "partidos irmãos" juntar seus esforços para se apresentarem unidos nas eleições para o Parlamento Europeu em 2004. Em sua proposta, Haider não citou a Frente Nacional, de Jean-Marie Le Pen. Segundo ele, "Le Pen e Haider são muito diferentes".
Em entrevista ao semanário austríaco "Profil", o político que, com 27% dos votos, liderou a ascensão de seu Partido da Liberdade (PL) ao governo da Áustria em fevereiro de 2000, descreve sua oferta. Haider, que evocou repetidas vezes nos últimos anos a idéia de se associar a movimentos afins, se mostra convencido de que é "urgentemente necessário" um partido com dimensão européia, encabeçado por ele mesmo.
Segundo Haider, o partido poderia se chamar Nova Europa e teria "um programa oposto à loucura burocrática de Bruxelas", sendo contrário à ampliação da União Européia.
Haider acredita que a Liga Norte (direita xenófoba, integrante do governo italiano) e parte da Força Itália (centro-direita, partido do premiê da Itália, Silvio Berlusconi) estejam dispostas a cooperar.
O direitista austríaco salientou que é preciso "prestar atenção para que o movimento não seja acusado de extremista ou racista".
Haider assegura que são precisamente as "posições racistas" de Le Pen o que o tornam inaceitável "em um mundo moderno". Não obstante, o PL austríaco nunca se apartou de seu discurso xenófobo. E agora, na coalizão com o Partido Popular, insiste em limitar ao máximo a acolhida de imigrantes e refugiados.
O presidente do Vlaams Blok (bloco flamengo), da Bélgica, Frank Vanhecke, classificou de "algo sem muito interesse" a proposta de Haider. "Nós somos nacionalistas nacionais. Estamos contra uma Europa federal e, portanto, não vejo com interesse um partido federal."

Candidato a premiê
O secretário-geral do PL, Peter Sichrovsky, não descarta que Jörg Haider apresente uma facção própria para as eleições ao Parlamento Europeu em 2004. Isso o obrigaria a apresentar candidatos e compor listas em um terço dos países membros e conseguir 5% dos votos para superar a barreira que lhe permitiria ter cadeiras na Câmara européia.
Após dois anos e meio com um governo formado pelos conservadores do Partido Popular e os ultradireistas do PL, somente 15% dos austríacos conseguem imaginar Haider no cargo de chefe de governo.
Hoje, o líder direitista não cumpre outra função a não ser a de chefe de governo regional da Caríntia, apesar de continuar, informalmente, segurando as rédeas de seu partido.
Pesquisa do Instituto Market indica que até mesmo metade dos eleitores do PL não imaginam Haider no cargo de chanceler (premiê), objetivo que o extremista persegue, conforme entrevista que ele deu à rede de TV árabe Al Jazeera no mês passado.
Acompanhado por um falcão branco, mascote de seu partido, o político austríaco disse à rede de TV do Qatar que apoiava a causa palestina.
O Partido do Povo Dinamarquês descartou tacitamente a possibilidade de se unir a Haider. "Nós defendemos os interesses do dinamarqueses e não temos nenhum plano de integrar uma coalizão", disse Peter Skaarup, vice-presidente da agremiação.



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