|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Sombra do extremista ronda a eleição alemã
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Edmund Stoiber (centro-direita), o principal adversário do
chanceler (premiê) Gerhard
Schröder (centro-esquerda) na
eleição legislativa alemã, que
ocorrerá em 22 de setembro próximo, criticou o "radicalismo
não-democrático" de Jean-Marie
Le Pen, candidato de extrema direita à Presidência da França, porém parte do discurso do líder da
Frente Nacional francesa já faz
parte de sua campanha.
"Logicamente, Stoiber foge de
qualquer comparação com Le
Pen, que é muito malvisto na Alemanha. E, efetivamente, o conservadorismo de Stoiber não é o extremismo de Le Pen", declarou à
Folha Anne-Marie Le Gloannec,
diretora-adjunta do Centro Marc
Bloch, um instituto de pesquisas
franco-alemão situado na Universidade Humboldt (Berlim).
"Todavia há temas que foram
explorados à exaustão pelo líder
da extrema direita francesa que
também são típicos do discurso
de Stoiber, como a imigração e a
insegurança urbana. Entretanto,
mesmo nesses assuntos, há uma
enorme diferença entre eles, já
que Stoiber tem uma plataforma
democrática, o que não pode ser
dito de Le Pen", acrescentou.
Com efeito, o governador da
Baviera (e líder da coalizão de
centro-direita) já expressou sua
oposição à nova lei de imigração
alemã, que prevê a entrada de trabalhadores qualificados no país,
mas jamais afirmou que a Alemanha deve fechar-se aos estrangeiros. Para Stoiber, com mais de 4
milhões de desempregados (cerca
de 10% de sua mão-de-obra ativa), a Alemanha "não precisa de
mais trabalhadores estrangeiros".
Ademais, esse discurso é particularmente bem acolhido nos Estados do leste do país, onde os índices de desemprego atingem
mais de 15%. Stoiber declarou até
que, se for eleito, tentará suprimir
a lei de imigração aprovada em
março. "Embora se mantenha
dentro do "jogo democrático" ao
não pregar a expulsão dos estrangeiros que vivem em território
alemão, ele não negligencia um
tema que poderá render-lhe votos
decisivos", apontou Le Gloannec.
Prova disso é uma pesquisa de
opinião divulgada ontem pelo
conceituado instituto Forsa. Segundo a enquete, 36% dos alemães acreditam que haja "estrangeiros demais" na Alemanha. Outros 46% crêem que nenhum estrangeiro adicional deva receber
permissão para viver no país.
A Alemanha tem por volta de 82
milhões de habitantes (cerca de 7
milhões de estrangeiros). Com o
envelhecimento da população, a
administração social-democrata
de Schröder aposta na entrada de
trabalhadores qualificados para
suprir as necessidades do mercado de trabalho alemão. O democrata-cristão Stoiber é veementemente contrário à medida.
Outro tema da campanha de Le
Pen que deverá ser usado por
Stoiber é a insegurança. "Desde a
última segunda, quando um estudante matou várias pessoas antes
de suicidar-se em Erfurt [leste],
aliados de Stoiber criticam a falta
de ação do governo no âmbito da
segurança", disse Le Gloannec.
Günther Beckstein, secretário do
Interior da Baviera, afirmou que
Schröder não fez nada para banir
vídeos e jogos eletrônicos que "incitam os jovens à violência".
Assim, o sucesso de Le Pen jamais poderia ser transposto para
a Alemanha, já que o país tem leis severas contra extremistas. Contudo parte de seu discurso já faz parte do "jogo político" alemão.
Texto Anterior: Haider quer unir extrema direita européia, sem Le Pen Próximo Texto: Igreja: Ex-padre é preso nos EUA por abuso sexual Índice
|