São Paulo, sexta-feira, 03 de maio de 2002

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Sombra do extremista ronda a eleição alemã

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Edmund Stoiber (centro-direita), o principal adversário do chanceler (premiê) Gerhard Schröder (centro-esquerda) na eleição legislativa alemã, que ocorrerá em 22 de setembro próximo, criticou o "radicalismo não-democrático" de Jean-Marie Le Pen, candidato de extrema direita à Presidência da França, porém parte do discurso do líder da Frente Nacional francesa já faz parte de sua campanha.
"Logicamente, Stoiber foge de qualquer comparação com Le Pen, que é muito malvisto na Alemanha. E, efetivamente, o conservadorismo de Stoiber não é o extremismo de Le Pen", declarou à Folha Anne-Marie Le Gloannec, diretora-adjunta do Centro Marc Bloch, um instituto de pesquisas franco-alemão situado na Universidade Humboldt (Berlim).
"Todavia há temas que foram explorados à exaustão pelo líder da extrema direita francesa que também são típicos do discurso de Stoiber, como a imigração e a insegurança urbana. Entretanto, mesmo nesses assuntos, há uma enorme diferença entre eles, já que Stoiber tem uma plataforma democrática, o que não pode ser dito de Le Pen", acrescentou.
Com efeito, o governador da Baviera (e líder da coalizão de centro-direita) já expressou sua oposição à nova lei de imigração alemã, que prevê a entrada de trabalhadores qualificados no país, mas jamais afirmou que a Alemanha deve fechar-se aos estrangeiros. Para Stoiber, com mais de 4 milhões de desempregados (cerca de 10% de sua mão-de-obra ativa), a Alemanha "não precisa de mais trabalhadores estrangeiros".
Ademais, esse discurso é particularmente bem acolhido nos Estados do leste do país, onde os índices de desemprego atingem mais de 15%. Stoiber declarou até que, se for eleito, tentará suprimir a lei de imigração aprovada em março. "Embora se mantenha dentro do "jogo democrático" ao não pregar a expulsão dos estrangeiros que vivem em território alemão, ele não negligencia um tema que poderá render-lhe votos decisivos", apontou Le Gloannec.
Prova disso é uma pesquisa de opinião divulgada ontem pelo conceituado instituto Forsa. Segundo a enquete, 36% dos alemães acreditam que haja "estrangeiros demais" na Alemanha. Outros 46% crêem que nenhum estrangeiro adicional deva receber permissão para viver no país.
A Alemanha tem por volta de 82 milhões de habitantes (cerca de 7 milhões de estrangeiros). Com o envelhecimento da população, a administração social-democrata de Schröder aposta na entrada de trabalhadores qualificados para suprir as necessidades do mercado de trabalho alemão. O democrata-cristão Stoiber é veementemente contrário à medida.
Outro tema da campanha de Le Pen que deverá ser usado por Stoiber é a insegurança. "Desde a última segunda, quando um estudante matou várias pessoas antes de suicidar-se em Erfurt [leste], aliados de Stoiber criticam a falta de ação do governo no âmbito da segurança", disse Le Gloannec. Günther Beckstein, secretário do Interior da Baviera, afirmou que Schröder não fez nada para banir vídeos e jogos eletrônicos que "incitam os jovens à violência".
Assim, o sucesso de Le Pen jamais poderia ser transposto para a Alemanha, já que o país tem leis severas contra extremistas. Contudo parte de seu discurso já faz parte do "jogo político" alemão.



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