São Paulo, sexta-feira, 03 de maio de 2002

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IGREJA

Paul Shanley, 71, é acusado de molestar três crianças, mas Promotoria crê ele tenha abusado de ao menos outras 30

Ex-padre é preso nos EUA por abuso sexual

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

A polícia de San Diego (Califórnia) prendeu ontem uma das figuras-chave na atual crise por que passa a Igreja Católica dos EUA. Trata-se do ex-padre Paul Shanley, 71, acusado de molestar sexualmente três crianças nos anos 80. O promotor que cuida do caso acredita, porém, que ele tenha abusado de pelo menos outros 30 meninos desde a década de 60.
O fato de os supostos crimes terem ocorrido em Boston (Massachusetts), mesma região em que atuava o também padre John Geoghan, acusado de abusar de 130 crianças durante 30 anos, pode tornar insustentável a permanência no cargo do cardeal Bernard Law. Ele está à frente da arquidiocese da região desde 1984 e vem sofrendo pressões da opinião pública e da imprensa desde janeiro para que renuncie.
A principal crítica feita a Law é a maneira como lidou com as acusações de abusos. Tanto Shanley quanto Geoghan foram transferidos por ele dezenas de vezes, a cada vez que uma queixa era feita; na maioria dos casos, porém, as novas paróquias recebiam os dois religiosos sem saber qual era o motivo das transferências.
Paul Shanley havia deixado o sacerdócio e trabalhava como voluntário do Corpo de Bombeiros em San Diego. A principal prova em sua acusação é um diário de mais de 800 páginas em que ele revela ter feito sexo com meninos enquanto era portador de doenças venéreas e ter ensinado alguns até mesmo a injetar drogas.
"Já não luto mais entre escolher o bem e o mal, mas entre escolher o mal e o menos mal", escreveu Shanley, segundo a promotoria. Além disso, o ex-padre foi fundador nos anos 70 da North American Man Boy Love Association (Nambla, Associação Norte-Americana pelo Amor entre Homens e Meninos), atualmente com sede em San Francisco, que prega o livre relacionamento entre menores e maiores.
O principal queixoso do processo que levou Shanley à prisão é Gregory Ford, atualmente com 24 anos, que afirma ter sido molestado dos seis aos 11. Ele e seus pais também processam o cardeal Law e a Arquidiocese de Boston, por terem acobertado Shanley e falhado em entregá-lo à polícia mesmo tendo conhecimento de suas atividades e das acusações.
Agregado ao processo está também cópia do discurso feito por Shanley em 1978 na primeira reunião da Nambla, quando ele ainda era padre. Na época, informado do caso, Law apenas o mudou de paróquia. O cardeal está entre as pessoas que devem testemunhar no processo, que conta ainda com outros dois queixosos, que pediram que seus nomes não fossem divulgados à imprensa.

Carisma e rock
Shanley era conhecido por ser um padre carismático que gostava de rock e se especializou em cuidar de meninos de rua. Sua última transferência, da região de Boston para San Diego, aconteceu em 1990. Foi na cidade californiana que ele deixou de exercer o sacerdócio e passou a realizar trabalhos voluntários. O ex-padre ainda não se manifestou oficialmente sobre o caso.
Sua prisão é a primeira ocorrida depois da reunião com a cúpula da Igreja Católica dos EUA convocada pelo papa João Paulo 2º e realizada na semana passada no Vaticano. O encontro foi dedicado exclusivamente aos escândalos de abusos sexuais de menores por parte dos padres no país.



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