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IGREJA
Paul Shanley, 71, é acusado de molestar três crianças, mas Promotoria crê ele tenha abusado de ao menos outras 30
Ex-padre é preso nos EUA por abuso sexual
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
A polícia de San Diego (Califórnia) prendeu ontem uma das figuras-chave na atual crise por que
passa a Igreja Católica dos EUA.
Trata-se do ex-padre Paul Shanley, 71, acusado de molestar sexualmente três crianças nos anos
80. O promotor que cuida do caso
acredita, porém, que ele tenha
abusado de pelo menos outros 30
meninos desde a década de 60.
O fato de os supostos crimes terem ocorrido em Boston (Massachusetts), mesma região em que
atuava o também padre John
Geoghan, acusado de abusar de
130 crianças durante 30 anos, pode tornar insustentável a permanência no cargo do cardeal Bernard Law. Ele está à frente da arquidiocese da região desde 1984 e
vem sofrendo pressões da opinião
pública e da imprensa desde janeiro para que renuncie.
A principal crítica feita a Law é a
maneira como lidou com as acusações de abusos. Tanto Shanley
quanto Geoghan foram transferidos por ele dezenas de vezes, a cada vez que uma queixa era feita;
na maioria dos casos, porém, as
novas paróquias recebiam os dois
religiosos sem saber qual era o
motivo das transferências.
Paul Shanley havia deixado o
sacerdócio e trabalhava como voluntário do Corpo de Bombeiros
em San Diego. A principal prova
em sua acusação é um diário de
mais de 800 páginas em que ele
revela ter feito sexo com meninos
enquanto era portador de doenças venéreas e ter ensinado alguns
até mesmo a injetar drogas.
"Já não luto mais entre escolher
o bem e o mal, mas entre escolher
o mal e o menos mal", escreveu
Shanley, segundo a promotoria.
Além disso, o ex-padre foi fundador nos anos 70 da North American Man Boy Love Association
(Nambla, Associação Norte-Americana pelo Amor entre Homens e Meninos), atualmente
com sede em San Francisco, que
prega o livre relacionamento entre menores e maiores.
O principal queixoso do processo que levou Shanley à prisão é
Gregory Ford, atualmente com 24
anos, que afirma ter sido molestado dos seis aos 11. Ele e seus pais
também processam o cardeal Law
e a Arquidiocese de Boston, por
terem acobertado Shanley e falhado em entregá-lo à polícia mesmo
tendo conhecimento de suas atividades e das acusações.
Agregado ao processo está também cópia do discurso feito por
Shanley em 1978 na primeira reunião da Nambla, quando ele ainda
era padre. Na época, informado
do caso, Law apenas o mudou de
paróquia. O cardeal está entre as
pessoas que devem testemunhar
no processo, que conta ainda com
outros dois queixosos, que pediram que seus nomes não fossem
divulgados à imprensa.
Carisma e rock
Shanley era conhecido por ser
um padre carismático que gostava de rock e se especializou em
cuidar de meninos de rua. Sua última transferência, da região de
Boston para San Diego, aconteceu
em 1990. Foi na cidade californiana que ele deixou de exercer o sacerdócio e passou a realizar trabalhos voluntários. O ex-padre ainda não se manifestou oficialmente
sobre o caso.
Sua prisão é a primeira ocorrida
depois da reunião com a cúpula
da Igreja Católica dos EUA convocada pelo papa João Paulo 2º e
realizada na semana passada no
Vaticano. O encontro foi dedicado exclusivamente aos escândalos
de abusos sexuais de menores por parte dos padres no país.
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