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Sem cerca mas ainda dividida, Jerusalém vive êxodo de judeus
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM
Milhares de jovens israelenses invadiram a cidade velha de
Jerusalém no último dia 16,
num mar de euforia azul e
branca que repetiu o trajeto
dos soldados que conquistaram
o Muro das Lamentações, no
momento mais simbólico da
Guerra dos Seis Dias. A festa,
que ocorre todo ano pelo calendário hebraico para marcar a
unificação de Jerusalém, celebra algo que só existe no papel.
Jerusalém já não é mais dividida por cercas de arame. Também não é uma cidade controlada por dois países diferentes,
como ocorria antes da guerra
de 1967. Mas Jerusalém continua a ser, na vida cotidiana,
uma cidade partida ao meio:
uma judia, no lado ocidental, e
outra árabe, no lado oriental.
Apesar dos esforços de sucessivos governos israelenses de
estabelecer como fato a unidade de Jerusalém como "capital
eterna do povo judeu", as últimas quatro décadas testemunharam a consolidação do lado
oriental como um setor inequivocamente árabe, com um ritmo próprio e independente,
mais ligado à Cisjordânia e ao
mundo árabe que a Israel.
No plano da partilha da Palestina, proposto pela ONU em
1947, Jerusalém foi mantida
como "cidade internacional",
sob administração de um governador apontado por um
conselho da organização. A
idéia, no entanto, foi atropelada pela rejeição dos países árabes à partilha, levando à guerra
que deu origem ao Estado de
Israel e à divisão de Jerusalém.
Na época, a parte ocidental
da cidade tinha quase 84 mil
habitantes. Em 1967, com a
unificação, a população de Jerusalém pulou para 266 mil,
um número que foi aumentando rapidamente devido à construção de novos bairros judeus
nas áreas antes controladas pela Jordânia e ao influxo de novos habitantes estimulado pelo
governo. Em 1975 tornou-se a
maior cidade de Israel.
Hoje Jerusalém tem 732 mil
habitantes, segundo o órgão
oficial de estatística de Israel.
Quase 470 mil (64%) são judeus, 239 mil são muçulmanos
(32%) e 14.700 (2%) cristãos.
Segundo Menachem Klein, da
Universidade Bar Ilan, especialista em Jerusalém que já foi assessor de dois governos israelenses, os números escondem
uma tendência que favorece a
população árabe.
"Jerusalém, com suas divisões e mercado imobiliário superaquecido, tornou-se uma cidade difícil. Por isso há um êxodo de judeus nos últimos tempos. Saem 5.000 a 8.000 por
ano", diz Klein, que tira uma
conclusão surpreendente.
"Nesse ritmo, a tendência é que
o governo acabe optando por
dividir novamente a cidade, para manter a superioridade demográfica judaica."
(MN)
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