São Paulo, domingo, 03 de junho de 2007

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Sem cerca mas ainda dividida, Jerusalém vive êxodo de judeus

ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

Milhares de jovens israelenses invadiram a cidade velha de Jerusalém no último dia 16, num mar de euforia azul e branca que repetiu o trajeto dos soldados que conquistaram o Muro das Lamentações, no momento mais simbólico da Guerra dos Seis Dias. A festa, que ocorre todo ano pelo calendário hebraico para marcar a unificação de Jerusalém, celebra algo que só existe no papel.
Jerusalém já não é mais dividida por cercas de arame. Também não é uma cidade controlada por dois países diferentes, como ocorria antes da guerra de 1967. Mas Jerusalém continua a ser, na vida cotidiana, uma cidade partida ao meio: uma judia, no lado ocidental, e outra árabe, no lado oriental.
Apesar dos esforços de sucessivos governos israelenses de estabelecer como fato a unidade de Jerusalém como "capital eterna do povo judeu", as últimas quatro décadas testemunharam a consolidação do lado oriental como um setor inequivocamente árabe, com um ritmo próprio e independente, mais ligado à Cisjordânia e ao mundo árabe que a Israel.
No plano da partilha da Palestina, proposto pela ONU em 1947, Jerusalém foi mantida como "cidade internacional", sob administração de um governador apontado por um conselho da organização. A idéia, no entanto, foi atropelada pela rejeição dos países árabes à partilha, levando à guerra que deu origem ao Estado de Israel e à divisão de Jerusalém.
Na época, a parte ocidental da cidade tinha quase 84 mil habitantes. Em 1967, com a unificação, a população de Jerusalém pulou para 266 mil, um número que foi aumentando rapidamente devido à construção de novos bairros judeus nas áreas antes controladas pela Jordânia e ao influxo de novos habitantes estimulado pelo governo. Em 1975 tornou-se a maior cidade de Israel.
Hoje Jerusalém tem 732 mil habitantes, segundo o órgão oficial de estatística de Israel. Quase 470 mil (64%) são judeus, 239 mil são muçulmanos (32%) e 14.700 (2%) cristãos. Segundo Menachem Klein, da Universidade Bar Ilan, especialista em Jerusalém que já foi assessor de dois governos israelenses, os números escondem uma tendência que favorece a população árabe.
"Jerusalém, com suas divisões e mercado imobiliário superaquecido, tornou-se uma cidade difícil. Por isso há um êxodo de judeus nos últimos tempos. Saem 5.000 a 8.000 por ano", diz Klein, que tira uma conclusão surpreendente. "Nesse ritmo, a tendência é que o governo acabe optando por dividir novamente a cidade, para manter a superioridade demográfica judaica." (MN)


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