São Paulo, sábado, 03 de novembro de 2001

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"Ação americana é ineficaz", diz Aliança do Norte

DEXTER FILKINS
DO "THE NEW YORK TIMES", EM CHAGATAI

Num primeiro olhar, o cenário ao longo das linhas de frente do Taleban parece ser de destruição total: círculos enormes de terra revolta e queimada pelos ataques dos B-52 americanos. E, então, emergindo das cinzas, aparece um soldado do Taleban com turbante negro, vivo e armado.
"Eles têm atirado contra nós durante todo o dia", diz Muhammad Shah, um soldado da Aliança do Norte. "As bombas americanas foram as maiores que já vi na vida, mas não acertaram o Taleban", acrescenta.
Ao longo dos três quilômetros de colinas ao sul da fronteira do Tadjiquistão, onde soldados do Taleban e da Aliança do Norte estão separados, em alguns locais, por poucas centenas de metros, soldados dão o mesmo depoimento: as levas de bombas americanas que caíram ontem produziram muito clarão e barulho, mas parecem ter errado bastante os seus alvos. Balas disparavam das posições do Taleban tão logo sumia a fumaça, contam os soldados.
Os relatos da linha de frente foram reforçados por um alto comandante da Aliança do Norte decepcionado com os ataques americanos, que parecem, segundo ele, cada vez mais ineficazes.
Atiqullah Baryalai, vice-ministro da Defesa da aliança, disse que o B-52 -o bombardeiro mais potente do arsenal americano- não é ágil o suficiente para bombardear as posições em ziguezague do Taleban e não tem capacidade de atingir as laterais das montanhas, onde os soldados do Taleban escondem-se em cavernas. Segundo ele, ataques com caças seriam mais eficientes.
Baryalai disse que os B-52 estavam demonstrando o mesmo resultado decepcionante nas posições do Taleban perto da capital, Cabul, onde, segundo ele, os americanos erraram todos os alvos.
Uma verificação independente das alegações de Baryalai não foi possível.
O vice-ministro da Defesa da Aliança do Norte negou-se a discutir a conversa que diz ter mantido com militares dos EUA na quarta-feira.
No passado, ele falava bem desses encontros, dizendo que os dois lados estavam trabalhando em conjunto para direcionar os ataques.
Seus comentários, ontem, indicam que o relacionamento com os militares americanos está abalado.
Os ataques de ontem foram os mais fortes, até agora, no norte do Afeganistão. Mas um comandante da Aliança do Norte na cidade de Chagatai diz que, das 30 bombas que ele viu explodir, apenas três ou quatro atingiram posições do Taleban.
Numa das linhas de frente, soldados da Aliança do Norte ouviram, no entanto, o Taleban pedir, por rádio, ajuda para seus feridos. Foi quando aproveitaram para pedir que o Taleban se rendesse. "Eles começaram a nos amaldiçoar", contou um soldado.


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