São Paulo, quarta-feira, 03 de novembro de 2004

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"Máquina mudou voto", dizem eleitores


Problema teria ocorrido em 12 Estados que usaram urnas do tipo "touch screen"

Para funcionários eleitorais, confusão aconteceu pelo novo sistema de votação



CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MIAMI

Até terminar a votação nos seis Estados que fecharam as urnas às 19 horas (22h em Brasília), a eleição americana transcorria sem os gigantescos problemas esperados, mas, assim mesmo, eleitores de 12 Estados afirmaram que as máquinas de votação mudaram o seu voto, o que eles só perceberam ao fazer uma última consulta, na tela de revisão.
Em muitos casos, os eleitores trataram de corrigir o erro da máquina, mas ele se repetiu. A maioria relativa dos eleitores votou este ano em máquinas do tipo "touch screen", semelhantes às que são usadas nos caixas eletrônicos.
A denúncia dos eleitores foi reproduzida por dois grupos cívicos independentes, a Fundação da Fronteira Eletrônica e a Fundação para Verificação do Voto, duas das entidades criadas para supervisionar o processo eleitoral e evitar o fiasco do ano 2000.
As duas fundações informaram também que a maior parte dos problemas acabou sendo resolvida, mas "muitos eleitores ficaram intranqüilos com a possibilidade de que seu voto não tenha sido adequadamente registrado".
Tudo somado, o melhor resumo do processo de votação, é de Doug Chapin, diretor do Projeto de Informação sobre a Reforma Eleitoral: "Até agora, não houve grandes problemas, mas uma porção de pequenos problemas".
Os funcionários eleitorais garantem que o erro da troca de voto não foi da máquina, mas dos próprios eleitores, supostamente pouco habituados ao novo sistema eletrônico de voto.
De uma forma ou de outra, o fato é que 20% das denúncias feitas às "hot lines" telefônicas montadas para receber queixas dizem respeito precisamente à falhas das máquinas "touch screen".
Os vigilantes do voto suspeitam ainda que o fenômeno possa ser mais estendido, na medida em que muitos eleitores não tiveram o cuidado de consultar devidamente a tela de revisão. Os denunciantes não especificaram, no entanto, em favor de quem a máquina teria mudado seus votos.
O que torna maior a ansiedade dos eleitores é que, na maioria dos Estados que estão usando as máquinas "touch screen", não há possibilidade de impressão do voto. Logo, não há também possibilidade de recontagem, em caso de dúvidas sobre o resultado.
No caso da Filadélfia (Pensilvânia), a denúncia é de outra natureza: o Partido Republicano reclama que, em um recinto eleitoral, 1.500 votos já haviam sido registrado, antes de começar a votação. "Foi erro, e os republicanos estão querendo tornar todo o processo refém desse erro", reagiu o porta-voz local dos democratas.
Em Ohio, a batalha judicial entrou pela madrugada: na véspera, os democratas haviam conseguido que a Justiça bloqueasse os "challengers" (fiscais que verificam se o eleitor está devidamente registrado). Mas, na manhã de ontem, a decisão foi revertida pelos republicanos, que despacharam milhares de "challengers" para as zonas eleitorais.
O porta-voz democrata Dan Trevis reclama que alguns fiscais republicanos estão fazendo aos eleitores mais perguntas que deveriam, mas admite: "No geral, o processo está caminhando sem problemas". O maior problema surgido até o meio da tarde (na costa Leste) eram as filas, provocadas não por qualquer deficiência do processo eleitoral, mas pelo elevado comparecimento, em um país em que o voto não é obrigatório e a abstenção gira tradicionalmente em torno de 50%.
Mas a especulação dos eleitores enquanto aguardavam a vez de votar, pelo menos em Miami, era a de que as batalhas judiciais surgiriam mais tarde, caso o resultado seja muito apertado. Nesse caso, valeria a pena tentar mudar até o vencedor de um pequeno Estado como Dakota do Sul, com apenas três votos no Colégio Eleitoral, em um total de 538.
Acontece que, nesse Estado, os democratas denunciam que os republicanos anotaram ostensivamente as chapas dos carros de eleitores índios, que formam a menor minoria de Dakota do Sul (9% da população), no que consideram uma tentativa de intimidação. Por fim, há o problema anunciado dos votos provisórios e dos votos por correio. No primeiro caso, o eleitor cujo registro não for encontrado no seu colégio eleitoral tem o direito de emitir um voto provisório, mas não há regras que obriguem a que tais votos sejam contados.
No caso do voto por correio, o eleitor que sabe que estará fora de seu local de residência (e, portanto, de votação) requisita uma cédula para enviar ou pelo correio ou entregar pessoalmente a uma seção eleitoral. Acontece que muita gente não recebeu a cédula pedida. Conseqüência: ontem mesmo, no Estado de Ohio, Sarah White entrou com ação judicial em nome dela e de outros eleitores sem cédula pedindo direito de emitir votos provisórios.


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