São Paulo, sexta-feira, 03 de dezembro de 2004

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DIPLOMACIA

Ambos se opõem ao Brasil quanto à reforma do Conselho de Segurança; Japão e Alemanha admitem não ter direito a veto

Argentina e Paquistão unem forças na ONU

SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, e o ditador do Paquistão, Pervez Musharraf, afirmaram, em comunicado conjunto, que "o aumento de assentos não-permanentes é a única alternativa viável para uma reforma bem-sucedida do Conselho de Segurança da ONU [Organização das Nações Unidas]". A avaliação contraria as pretensões de seus vizinhos -a Índia, no caso do Paquistão, e o Brasil, no caso da Argentina- de obter um assento permanente no conselho.
Musharraf visitou a Argentina na terça e na quarta passadas, na seqüência de sua viagem ao Brasil. No comunicado conjunto do paquistanês com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a referência ao Conselho de Segurança da ONU foi menos detalhada: "Os mandatários reafirmaram seu compromisso de trabalhar no sentido de um acordo geral sobre reforma abrangente das Nações Unidas, incluindo o Conselho de Segurança", diz o texto divulgado pelo Itamaraty.
Em 2005, a Argentina passará a ocupar um assento não-permanente no Conselho de Segurança da ONU. Obedecendo à ordem alfabética, o país vizinho assumirá a presidência rotativa do órgão durante o mês de janeiro.
Kirchner e Musharraf celebraram a "coincidência" de opiniões sobre a reforma do Conselho de Segurança durante o banquete que o presidente argentino ofereceu ao paquistanês, anteontem.
"Concordamos com a necessidade de promover uma reforma das Nações Unidas que torne mais democrática, transparente e eficiente a atuação de seu Conselho de Segurança", disse Kirchner. Musharraf afirmou que "o Paquistão apóia o princípio de não aumentar os centros de poder e de privilégio, expandindo o número de membros do Conselho de Segurança, porque [isso] contraria o princípio de igualdade soberana das nações, consagrado pelas Nações Unidas".
Além do comunicado conjunto dos presidentes, a visita de Musharraf à Argentina resultou num memorando assinado pelos ministros das Relações Exteriores dos dois países para "estabelecer um mecanismo prático e efetivo de análise conjunta de temas relativos ao desenvolvimento da relação bilateral e demais assuntos de ordem regional e internacional".

Japão e Alemanha
Alemanha e Japão indicaram anteontem, em reação às propostas apresentadas em relatório sobre mudanças na ONU, disposição em sacrificar o direito a veto em troca da conquista de vagas permanentes no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Os dois países, junto com os parceiros aspirantes Brasil e Índia, prefeririam um status igual ao dos atuais cinco membros permanentes do CS, que têm direito a veto. No entanto autoridades alemãs e japonesas pareceram estar dispostas a fazer um acordo para garantir apoio internacional.
"Uma potência de tamanho médio, como a Alemanha, não precisa do direito a veto", disse um alto conselheiro de política externa do chanceler (premiê) Gerhard Schröder. O diplomata também afirmou acreditar que os Estados Unidos, que ainda não deram apoio a um assento permanente para a Alemanha, "teriam dificuldade para não dar apoio".
Hatsuhisa Takashima, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Japão, disse que seu país considerava "desfavorável a existência de membros permanentes do Conselho de Segurança com direito a veto e outros sem". Mas Takashima acrescentou que o Japão se curvaria à visão da maioria.
As concessões de Japão e Alemanha quanto ao direito a veto, contudo, podem não ser o suficientes para contrabalançar a oposição determinada de rivais regionais, como Itália.


Com agências internacionais


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