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entrevista
"Oposição respeitará resultado?"
DO ENVIADO A CARACAS
Mesmo na esquerda, é
mais fácil achar uma nota
nova de dois dólares do
que analistas políticos
norte-americanos com
uma visão não radicalmente contrária ao governo do venezuelano Hugo
Chávez. A exceção é Mark
Weisbrot, do Center for
Economics and Policy,
instituto de Washington
que tem entre seus conselheiros o Prêmio Nobel Joseph Stiglitz. Economista
pela Universidade de Michigan, Weisbrot entrevistou Hugo Chávez em
2003. Leia o que disse à
Folha, por telefone:
(SD)
FOLHA - O sr. escreveu um artigo chamado "ser do Equador
não quer dizer ser anti-Estados
Unidos". E ser da Venezuela?
MARK WEISBROT - Hugo
Chávez é muito cuidadoso
ao fazer a distinção entre o
governo Bush e os EUA.
Quando as pessoas perguntam dos EUA, ele diz
que ama o país. O seu problema principal é que o governo Bush apoiou um
golpe de Estado contra a
Venezuela, isso está documentado pelo nosso Departamento de Estado e
também pela CIA, documentos que mostram que
os EUA pagaram pessoas
envolvidas no golpe e que
nosso governo tentou fazer o golpe ser bem-sucedido. Isso é informação
pública.
O outro problema é que
ele defende uma agenda de
integração econômica regional, e o governo Bush
também discorda dele aí.
Lula foi contra a Alca e desempenhou um papel importante para derrubar o
tratado. O mesmo vale para o governo da Argentina.
Ambos têm boas relações
com a Venezuela. Você deve ter visto a viagem de
Lula para inaugurar a ponte, não?
FOLHA - Sim.
WEISBROT - Então, isso é
muito mais do que qualquer país já fez pelo Chávez. Ele realmente o ajudou em sua campanha de
reeleição! Por que ele é
considerado um aliado dos
EUA? Porque aceita-se
que o Brasil pode ter boas
relações com a Venezuela
e com os EUA. É preconceito da mídia.
FOLHA - O sr. vê o continente
numa guinada à esquerda?
WEISBROT - Claro. Acho
que é uma mudança épica
que está sendo interpretada de maneira completamente errada. A América
Latina não é tão independente assim dos EUA há
pelos menos 150 anos. A
guinada à esquerda era
inevitável, pelo fracasso
das políticas econômicas
dos últimos 25 anos. É relativamente incomum na
história do capitalismo você ter uma falta de crescimento dessa dimensão
por tanto tempo numa região. Em 25 anos, o crescimento do PIB per capita
foi de 13%. Se você compara isso aos 25 anos anteriores, quando cresceu 82%,
vê que não há precedentes.
FOLHA - O sr. escreveu : "O
governo Chávez teve apenas
três anos de estabilidade no
preço do petróleo, e nesse período houve um aumento incrível no acesso à saúde pública e educação." O sr. acha que
ele está fazendo um bom trabalho, afinal?
WEISBROT - Nesse aspecto,
sim. Ele manteve a promessa que fez quando foi
eleito, de dividir os lucros
do petróleo com os pobres.
O país ainda tem vários
problemas, mas nisso ele
foi bem-sucedido.
FOLHA - E o que acontecerá
se ele for mesmo reeleito?
WEISBROT - A pergunta é:
"A oposição respeitará o
resultado?"
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