São Paulo, domingo, 03 de dezembro de 2006

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entrevista

"Oposição respeitará resultado?"

DO ENVIADO A CARACAS

Mesmo na esquerda, é mais fácil achar uma nota nova de dois dólares do que analistas políticos norte-americanos com uma visão não radicalmente contrária ao governo do venezuelano Hugo Chávez. A exceção é Mark Weisbrot, do Center for Economics and Policy, instituto de Washington que tem entre seus conselheiros o Prêmio Nobel Joseph Stiglitz. Economista pela Universidade de Michigan, Weisbrot entrevistou Hugo Chávez em 2003. Leia o que disse à Folha, por telefone: (SD)

 

FOLHA - O sr. escreveu um artigo chamado "ser do Equador não quer dizer ser anti-Estados Unidos". E ser da Venezuela?
MARK WEISBROT
- Hugo Chávez é muito cuidadoso ao fazer a distinção entre o governo Bush e os EUA. Quando as pessoas perguntam dos EUA, ele diz que ama o país. O seu problema principal é que o governo Bush apoiou um golpe de Estado contra a Venezuela, isso está documentado pelo nosso Departamento de Estado e também pela CIA, documentos que mostram que os EUA pagaram pessoas envolvidas no golpe e que nosso governo tentou fazer o golpe ser bem-sucedido. Isso é informação pública. O outro problema é que ele defende uma agenda de integração econômica regional, e o governo Bush também discorda dele aí. Lula foi contra a Alca e desempenhou um papel importante para derrubar o tratado. O mesmo vale para o governo da Argentina. Ambos têm boas relações com a Venezuela. Você deve ter visto a viagem de Lula para inaugurar a ponte, não?

FOLHA - Sim.
WEISBROT
- Então, isso é muito mais do que qualquer país já fez pelo Chávez. Ele realmente o ajudou em sua campanha de reeleição! Por que ele é considerado um aliado dos EUA? Porque aceita-se que o Brasil pode ter boas relações com a Venezuela e com os EUA. É preconceito da mídia.

FOLHA - O sr. vê o continente numa guinada à esquerda?
WEISBROT
- Claro. Acho que é uma mudança épica que está sendo interpretada de maneira completamente errada. A América Latina não é tão independente assim dos EUA há pelos menos 150 anos. A guinada à esquerda era inevitável, pelo fracasso das políticas econômicas dos últimos 25 anos. É relativamente incomum na história do capitalismo você ter uma falta de crescimento dessa dimensão por tanto tempo numa região. Em 25 anos, o crescimento do PIB per capita foi de 13%. Se você compara isso aos 25 anos anteriores, quando cresceu 82%, vê que não há precedentes.

FOLHA - O sr. escreveu : "O governo Chávez teve apenas três anos de estabilidade no preço do petróleo, e nesse período houve um aumento incrível no acesso à saúde pública e educação." O sr. acha que ele está fazendo um bom trabalho, afinal?
WEISBROT
- Nesse aspecto, sim. Ele manteve a promessa que fez quando foi eleito, de dividir os lucros do petróleo com os pobres. O país ainda tem vários problemas, mas nisso ele foi bem-sucedido.

FOLHA - E o que acontecerá se ele for mesmo reeleito?
WEISBROT
- A pergunta é: "A oposição respeitará o resultado?"


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