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Ex-golpista, opositor baseia sua campanha no cartão "Mi Negra"
Manuel Rosales, governador do Estado mais rico do país, virou candidato dos "excluídos de Chávez"
Elogiado por experiência administrativa, ele avançou nas pesquisas com cartão para distribuir renda do petróleo e pede: "atreva-se"
DO ENVIADO A CARACAS
Decidir que participaria das
eleições de 2006, diferentemente do que fez em 2005, foi o
primeiro consenso a que chegou a oposição. O segundo,
mais difícil, foi escolher um nome popular o suficiente para fazer com que desistissem os outros opositores presidenciáveis
e ofuscar os candidatos nanicos
que fatalmente surgiriam (um
deles é uma mulher, de nome
Venezuela da Silva e slogan
"Vote na Venezuela!").
No dia 9 de agosto, chegou-se
ao consenso: pesos pesados como Teodoro Petkoff, um dos
principais economistas e colunistas do país, e o ex-governador Sérgio Omar Calderón, do
Estado de Táchira, endossariam a candidatura de Manuel
Rosales. Grisalho, alvo, de voz
baixa e discursos breves, o governador hoje licenciado do Estado de Zulia, rico em petróleo,
era o anti-Chávez.
Era isso o que queriam pessoas como Petkoff, o coordenador não declarado da campanha oposicionista: alguém com
quem um figurativo "leste de
Caracas", a parte da capital onde ficam a classe média e alta
venezuelana, se identificasse. O
candidato dos "excluídos de
Chávez". Era Rosales.
Oito partidos
Sua chapa, Unidad, representa oito partidos de oposição, entre eles o Copei e parte da AD,
os dois que se revezaram por 40
anos no poder antes da chegada
de Chávez ao poder. Católico,
casado pela segunda vez, 53
anos e dez filhos, entre seus e
enteados, esse ex-professor foi
deputado estadual por Zulia,
prefeito de Maracaibo, a segunda maior cidade do país, e estava em seu segundo mandato como governador do Estado
quando se licenciou.
"Eu já ocupei vários cargos
eletivos, não sou um aventureiro", disse Rosales no encontro
com a imprensa estrangeira anteontem, num restaurante japonês freqüentado por seus pares, no bairro de Las Mercedes,
na região leste de Caracas. É
considerado político experiente pela oposição e experiente
demais pela situação.
Manuel Rosales foi o único
governador a atender ao chamado de Pedro Carmona para
ir ao Palácio Presidencial Miraflores em 11 de abril de 2002,
assinar o decreto que destituía
Chávez e confirmava Carmona
no cargo, no golpe de Estado
que duraria menos de dois dias.
No começo da campanha, Rosales confirmava o ato e dizia
que as pessoas erram.
Mais recentemente, segundo
o próprio Hugo Chávez, o candidato passou a dizer que foi ao
palácio, sim, mas para assinar a
ata da reunião convocatória,
não a destituição. "Como alguém pode votar num homem
que não assume o que faz?",
perguntou Chávez na quinta-feira. "Isso é uma criança, não é
um homem."
O fato é que, em pouco mais
de três meses de campanha,
Rosales passou de virtualmente zero para perto de 30% das
intenções de votos, segundo
pesquisas mais recentes encomendadas pela Associated
Press e pela Reuters -ou entre
5% e 10% à frente de Chávez,
segundo as pesquisas que o
próprio Rosales mencionou no
encontro de sexta.
Entre os pesquisados da Associated Press, um terço da população de baixa renda disse
que votaria em Rosales. Essa
penetração em território supostamente chavista ele deve à
estrela de seu programa social,
uma iniciativa chamada "Mi
Negra Tarjeta" (meu cartão
preto), ou "Mi Negra", também
uma forma carinhosa de o venezuelano se referir à mulher.
Segundo a iniciativa, parte
dos recursos gerados com a
venda do petróleo vai diretamente à população de baixa
renda venezuelana por meio de
um cartão de débito, da cor do
combustível fóssil. A idéia é baseada numa iniciativa de sucesso no Alasca e foi trazida à campanha por Michael Rowan,
eminência parda do comando
da candidatura da oposição.
Marqueteiro
Um James Carville (o renomado marqueteiro democrata)
do Terceiro Mundo, Rowan
veio à Venezuela para ajudar na
campanha presidencial de
1993, depois de ter trabalhado
nas campanhas de Jimmy Carter e Bill Clinton. Nunca mais
saiu. "Rosales, não Chávez, pode acabar com a pobreza na Venezuela", disse Rowan à Folha
(leia entrevista nessa página).
Seu "Mi Negra" prevê a distribuição de até US$ 470 por
ano para dois milhões de venezuelanos. A idéia deu à candidatura da oposição um programa social que poderia fazer o
candidato se conectar também
com o "lado oeste de Caracas".
Já há bancas, sem efeito legal,
de cadastramento de interessados espalhadas pelo país.
Faltava um slogan para a
campanha. "Atrevete!" ("atreva-se", no sentido de ousar) foi
o melhor que pensaram os
marqueteiros de Rosales. Hoje,
os venezuelanos respondem.
(SÉRGIO DÁVILA)
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