São Paulo, domingo, 03 de dezembro de 2006

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entrevista

Cartão é corte de impostos, diz criador

DO ENVIADO A CARACAS

A pièce de résistence do programa social do candidato da oposição foi inventada por um marqueteiro político que trabalhou com Jimmy Carter e Bill Clinton e se inspirou num programa social do Alasca dos anos 60. Leia a entrevista que Michael Rowan deu à Folha sobre o "Mi Negra Tarjeta" (meu cartão preto), que promete distribuir os lucros do petróleo entre a população de baixa renda se Manuel Rosales for eleito hoje e é o assunto principal de um livro que Rowan acaba de lançar em Caracas: (SD)

 

FOLHA - Por que chamar seu livro de "Livrando-se de Chávez e da Pobreza"?
MICHAEL ROWAN
- Porque Chávez e a pobreza são dois lados da mesma moeda: quando ele assumiu o poder, em 1999, com a bandeira de acabar com a pobreza, quase metade dos venezuelanos tinha baixa renda; hoje, são dois terços. Com a entrada obscena dos lucros do petróleo, Chávez poderia ter diminuído drasticamente a pobreza, mas não fez. Em vez disso, preferiu colocar US$ 50 bilhões numa guerra de propaganda contra o que ele chama de Império do Mal e o Mal, respectivamente os Estados Unidos e Bush.

FOLHA - Onde Chávez errou?
ROWAN
- A pobreza é eliminada quando famílias pobres participam integralmente do crescimento nacional. Isso acontece quando são usados instrumentos como a propriedade privada, a criação de empresas e o conhecimento. O papel do governo é prover acesso a essas ferramentas de maneira que todos tenham oportunidade. Mas Chávez não vê assim. Essas ferramentas são controladas por ele. Os venezuelanos se tornaram dependentes do poder e do dinheiro de Chávez. Chávez é um clone de alguns de seus antecessores no cargo e dos barões do petróleo da Rússia e do Irã, onde poder absoluto, corrupção e pobreza andam lado a lado.

FOLHA - O sr. compara a proposta da "Mi Negra Tarjeta" à chamada "solução do Alasca", duas realidades diferentes.
ROWAN
- São a mesma. Ambas são ferramentas para que um Estado rico em petróleo divida a riqueza que a exportação do combustível gera, de maneira a diversificar e fazer crescer a economia. A solução do Alasca teve iniciativas engenhosas, como a distribuição de dividendos anuais de cerca de US$ 1.000 per capita baseados nos rendimentos do Fundo do Petróleo. Isso reduziu a pobreza em 75% e fez a economia pular de US$ 3 bilhões para US$ 40 bilhões em 30 anos. Rosales tem a mesma intenção com "Mi Negra Tarjeta": 20% da riqueza petrolífera da Venezuela seria investida diretamente em famílias pobres ou desempregadas para criar um crescimento econômico nacional na base.

FOLHA - Mas não é um programa populista?
ROWAN
- Não, é popular -pesquisas mostram que 22% dos eleitores de Chávez querem participar dele. A riqueza do petróleo pertence a todos os venezuelanos, não ao Estado, então investir 20% dela diretamente nas contas não é dar nada de que a população já não fosse dona. Nesse sentido, "Mi Negra" é como um corte nos impostos nos EUA.


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