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entrevista
Cartão é corte de impostos, diz criador
DO ENVIADO A CARACAS
A pièce de résistence do
programa social do candidato da oposição foi inventada por um marqueteiro
político que trabalhou
com Jimmy Carter e Bill
Clinton e se inspirou num
programa social do Alasca
dos anos 60.
Leia a entrevista que
Michael Rowan deu à Folha sobre o "Mi Negra Tarjeta" (meu cartão preto),
que promete distribuir os
lucros do petróleo entre a
população de baixa renda
se Manuel Rosales for eleito hoje e é o assunto principal de um livro que Rowan acaba de lançar em
Caracas:
(SD)
FOLHA - Por que chamar seu
livro de "Livrando-se de Chávez e da Pobreza"?
MICHAEL ROWAN - Porque
Chávez e a pobreza são
dois lados da mesma moeda: quando ele assumiu o
poder, em 1999, com a
bandeira de acabar com a
pobreza, quase metade
dos venezuelanos tinha
baixa renda; hoje, são dois
terços. Com a entrada obscena dos lucros do petróleo, Chávez poderia ter diminuído drasticamente a
pobreza, mas não fez. Em
vez disso, preferiu colocar
US$ 50 bilhões numa
guerra de propaganda
contra o que ele chama de
Império do Mal e o Mal,
respectivamente os Estados Unidos e Bush.
FOLHA - Onde Chávez errou?
ROWAN - A pobreza é eliminada quando famílias
pobres participam integralmente do crescimento
nacional. Isso acontece
quando são usados instrumentos como a propriedade privada, a criação de
empresas e o conhecimento. O papel do governo é
prover acesso a essas ferramentas de maneira que
todos tenham oportunidade. Mas Chávez não vê assim. Essas ferramentas
são controladas por ele. Os
venezuelanos se tornaram
dependentes do poder e do
dinheiro de Chávez.
Chávez é um clone de alguns de seus antecessores
no cargo e dos barões do
petróleo da Rússia e do
Irã, onde poder absoluto,
corrupção e pobreza andam lado a lado.
FOLHA - O sr. compara a proposta da "Mi Negra Tarjeta" à
chamada "solução do Alasca",
duas realidades diferentes.
ROWAN - São a mesma.
Ambas são ferramentas
para que um Estado rico
em petróleo divida a riqueza que a exportação do
combustível gera, de maneira a diversificar e fazer
crescer a economia. A solução do Alasca teve iniciativas engenhosas, como
a distribuição de dividendos anuais de cerca de US$
1.000 per capita baseados
nos rendimentos do Fundo do Petróleo. Isso reduziu a pobreza em 75% e fez
a economia pular de US$ 3
bilhões para US$ 40 bilhões em 30 anos.
Rosales tem a mesma
intenção com "Mi Negra
Tarjeta": 20% da riqueza
petrolífera da Venezuela
seria investida diretamente em famílias pobres ou
desempregadas para criar
um crescimento econômico nacional na base.
FOLHA - Mas não é um programa populista?
ROWAN - Não, é popular
-pesquisas mostram que
22% dos eleitores de Chávez querem participar dele. A riqueza do petróleo
pertence a todos os venezuelanos, não ao Estado,
então investir 20% dela diretamente nas contas não
é dar nada de que a população já não fosse dona.
Nesse sentido, "Mi Negra"
é como um corte nos impostos nos EUA.
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