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Chávez "esvazia" governo de Caracas
Governador distrital recém-eleito, opositor Antonio Ledezma perde funcionários e poderes para administrar cidade
Por decreto, presidente venezuelano assume um canal de TV, 30 hospitais,
22 cartórios e todas as 93 escolas metropolitanas
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Recém-eleito governador
distrital de Caracas, o líder opositor Antonio Ledezma corre o
risco de não ter o que administrar: desde as eleições, há dez
dias, o governo Hugo Chávez
encampou cerca 30 hospitais, o
canal Ávila TV, 22 cartórios públicos e todas as 93 escolas da
rede metropolitana.
Ao todo, o governo distrital
-que coordena cinco prefeituras e uma população de 2,1 milhões- terá de 25 mil a 30 mil
funcionários a menos, segundo
estimativa de Ledezma, que toma posse neste sábado -não há
período de transição para governadores e prefeitos na Venezuela. Só na rede escolar, o
Ministério da Educação incorporou mais de 50 mil alunos e
cerca de 4.000 professores.
"Trata-se de um processo de
desmantelamento da Prefeitura Metropolitana, o que é muito
lamentável porque acreditam
que, dessa maneira, não
honraremos o compromisso de
governar para a cidade com eficiência", disse Ledezma ontem,
à Folha. "É uma canibalização
e uma prova de fogo a que nos
vão submeter, mas conseguiremos avançar, estou otimista."
Segundo o atual secretário
de Educação de Caracas, Néstor Rivero, as transferências
não têm ligação com a vitória
de Ledezma e fazem parte de
um plano desenvolvido desde o
início do ano.
"O Orçamento de Caracas
tem sido historicamente insuficiente para assegurar a manutenção e o investimento na estrutura física das escolas", explicou Rivero, por telefone.
O esvaziamento do governo
distrital começou já no início
do ano, quando Chávez passou
a Polícia Metropolitana ao Ministério do Interior. Na época,
outro oposicionista, Leopoldo
López, liderava com folga as
pesquisas, mas ele em foi declarado inelegível.
"Mesmo sem a educação, a
segurança e a saúde, o governo
distrital ainda tem muito o que
fazer para assegurar a coordenação entre as cinco prefeituras. Ainda há prevenção de desastres, lixo, são muitas funções que ficam", afirma Rivero.
No projeto da reforma constitucional do ano passado, derrotada em referendo, o governador distrital passaria a ser
nomeado diretamente por
Chávez, sem eleições. Caracas
também mudaria de nome
-passaria a ser chamada Berço
de Bolívar e Rainha de Guaraira Repano (etnia indígena).
Os problemas de transferência também atingiram a Conselho Metropolitano de Caracas,
onde a oposição passou de 2
para 8 dos 13 parlamentares: o
prédio onde estava instalado
foi tomado de volta pela Assembléia Nacional, controlada
pelo chavismo. Com isso, a posse será amanhã num auditório
emprestado. "Existe o espírito
de sabotar e de fazer tudo mais
difícil", disse o parlamentar
oposicionista Alejandro Vivas.
Já no governo estadual de
Miranda (região metropolitana
de Caracas), o recém-empossado Henrique Capriles Radonski descobriu que grande parte
da estrutura pertence ao governo nacional. "É como chegar a
um prédio novo. Eles te dão a
chave, mas não mostram para
que servem", disse a secretária
de Governo Adriana D"Elía.
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