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Crescimento do turismo ilustra choque cultural
DO ENVIADO A TAIPÉ
Os monitores e guardas do
enorme Museu do Palácio Nacional de Taipé têm um trabalho extra desde o último ano:
repreender turistas chineses.
Falando alto no telefone celular nas silenciosas salas de exposição ou colocando a mão no
vidro que protege suas maiores
relíquias, eles pareciam não se
importar com as regras do lugar nem em respeitar as filas.
Taiwan se beneficia dos novos visitantes, mas o choque
cultural se repete de lado a lado. Desde julho de 2008, turistas chineses podem visitar Taiwan, desde que em grupos -as
autoridades locais retêm os
passaportes na chegada para
evitar que alguns decidam ficar
como imigrantes ilegais.
Mais de 1,1 milhão já cruzou o
estreito que separa a ilha do
continente, 800 mil só em
2009. A maioria visita o museu
que detém a maior coleção de
arte chinesa do mundo. Com
630 mil peças, possui a maior
parte do acervo da Cidade Proibida, onde vivia a família imperial chinesa em Pequim.
Durante a guerra civil entre
as tropas comunistas de Mao
Tsé-tung e as nacionalistas de
Chiang Kai-shek, a coleção começou a ser levada para Taiwan, aonde Chiang se refugiaria após a derrota em 1949.
A apropriação indevida acabou salvando a coleção da destruição da Revolução Cultural
maoísta (1966-76), quando de
templos budistas a túmulos de
imperadores foram arrasados
pelos guardas vermelhos.
Dos 450 mil visitantes mensais do museu (o Masp recebe
600 mil por ano), 70 mil são
chineses. "Quando os chineses
chegam, japoneses e americanos trocam de sala, vira uma
gritaria", conta uma monitora.
Já na entrada, os chineses levam um choque de democracia:
cerca de 50 pessoas do grupo
religioso Falun Gong se instalaram diante do museu. A China
baniu o grupo em 1999, depois
de uma violenta repressão.
Vários fiéis fugiram para Taiwan e na frente do museu fazem seus rituais com movimentos emprestados do tai chi
chuan. "Falun Gong é bom",
gritam para quem passa por ali.
Taipé "simplezinha"
A Folha conversou com turistas chineses que voltavam a
Pequim no aeroporto Chiang
Kai-shek, em Taipé. Eles contam, entre risadas, que as agências de turismo pedem que eles
não escarrem nas ruas, respeitem filas e não façam barulho.
Evitam qualquer crítica a
Taiwan, "que é parte da China",
repetem. Após se negarem a
dar o nome, admitem que Taipé "decepciona". "Sempre ouvimos falar que Taiwan é rica,
então pensávamos que Taipé
fosse mais luxuosa que Pequim
e Xangai, mas não é, é simplezinha", diz um deles.
Apesar de contar com o segundo prédio mais alto do
mundo, o Taipei 101, com 509
metros de altura e 101 andares,
boa parte de Taipé tem uma
acanhada arquitetura dos anos
70, o que destoa das novidades
de Pequim e Xangai.
(RJL)
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