São Paulo, segunda-feira, 04 de janeiro de 2010

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Crescimento do turismo ilustra choque cultural

DO ENVIADO A TAIPÉ

Os monitores e guardas do enorme Museu do Palácio Nacional de Taipé têm um trabalho extra desde o último ano: repreender turistas chineses.
Falando alto no telefone celular nas silenciosas salas de exposição ou colocando a mão no vidro que protege suas maiores relíquias, eles pareciam não se importar com as regras do lugar nem em respeitar as filas.
Taiwan se beneficia dos novos visitantes, mas o choque cultural se repete de lado a lado. Desde julho de 2008, turistas chineses podem visitar Taiwan, desde que em grupos -as autoridades locais retêm os passaportes na chegada para evitar que alguns decidam ficar como imigrantes ilegais.
Mais de 1,1 milhão já cruzou o estreito que separa a ilha do continente, 800 mil só em 2009. A maioria visita o museu que detém a maior coleção de arte chinesa do mundo. Com 630 mil peças, possui a maior parte do acervo da Cidade Proibida, onde vivia a família imperial chinesa em Pequim.
Durante a guerra civil entre as tropas comunistas de Mao Tsé-tung e as nacionalistas de Chiang Kai-shek, a coleção começou a ser levada para Taiwan, aonde Chiang se refugiaria após a derrota em 1949.
A apropriação indevida acabou salvando a coleção da destruição da Revolução Cultural maoísta (1966-76), quando de templos budistas a túmulos de imperadores foram arrasados pelos guardas vermelhos.
Dos 450 mil visitantes mensais do museu (o Masp recebe 600 mil por ano), 70 mil são chineses. "Quando os chineses chegam, japoneses e americanos trocam de sala, vira uma gritaria", conta uma monitora.
Já na entrada, os chineses levam um choque de democracia: cerca de 50 pessoas do grupo religioso Falun Gong se instalaram diante do museu. A China baniu o grupo em 1999, depois de uma violenta repressão.
Vários fiéis fugiram para Taiwan e na frente do museu fazem seus rituais com movimentos emprestados do tai chi chuan. "Falun Gong é bom", gritam para quem passa por ali.

Taipé "simplezinha"
A Folha conversou com turistas chineses que voltavam a Pequim no aeroporto Chiang Kai-shek, em Taipé. Eles contam, entre risadas, que as agências de turismo pedem que eles não escarrem nas ruas, respeitem filas e não façam barulho.
Evitam qualquer crítica a Taiwan, "que é parte da China", repetem. Após se negarem a dar o nome, admitem que Taipé "decepciona". "Sempre ouvimos falar que Taiwan é rica, então pensávamos que Taipé fosse mais luxuosa que Pequim e Xangai, mas não é, é simplezinha", diz um deles.
Apesar de contar com o segundo prédio mais alto do mundo, o Taipei 101, com 509 metros de altura e 101 andares, boa parte de Taipé tem uma acanhada arquitetura dos anos 70, o que destoa das novidades de Pequim e Xangai. (RJL)


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