São Paulo, domingo, 04 de fevereiro de 2007

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Êxodo é o maior movimento na região desde a criação de Israel

DA EDITORA-ADJUNTA DE MUNDO

No Brasil há oito anos, Samir Aboud virou uma espécie de referência para os iraquianos que chegam aqui. Tem a lista de documentos e prazos para a solicitação do status de refugiado, autorização de permanência e passaporte brasileiro, nesta ordem, na ponta da língua.
Segundo o Acnur, o comissariado da ONU para o tema, há 105 refugiados reconhecidos e 17 com o pedido em análise. Mas Samir calcula que hoje eles sejam cerca de 400 no Brasil -a maioria em São Paulo.
É o dobro do que havia em 2004, quando apenas 65 refugiados viviam no país. (O órgão não tem registro de quantos eles eram antes da invasão americana, em 2003.)
Embora a comunidade seja pequena, seu inchaço é sintomático do que vem ocorrendo com o Iraque. O êxodo do país, adverte o Acnur, já é o maior movimento populacional de longo prazo na região desde a criação de Israel, em 1948, e pode levar à maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra.
A situação é tão exasperadora que levou o comissariado da ONU, que raramente emite declarações além da situação dos refugiados, a produzir no mês passado uma avaliação política sobre o tema, obtida no Brasil pela Folha em primeira mão.
"De forma geral, a situação pode ser caracterizada como de violência generalizada em que prevalecem violações maciças de direitos humanos", diz o documento, que cita um "alto nível e intensidade de violência sectária corrente, que ocorre diariamente com um enorme número de mortes de civis".
Uma explosão de crimes, insurgência e a ação de milícias ligadas ao Ministério do Interior, dentro desse contexto, além de lutas ocasionais entre as diferentes milícias, são apontados pela ONU como responsáveis pelos êxodo de centenas de milhares.
Mais grave, "as autoridades iraquianas não são capazes de garantir a segurança da população e protegê-la das violações de direitos humanos", assinala o documento. "Os principais impasses políticos permanecem sem solução, como a questão do federalismo, da distribuição do petróleo e da desbaathificação [expurgo do partido de Saddam do poder, logo após sua queda], que solapa a meta declarada do governo de reconciliação nacional."
Com a perspectiva de realocamento interno e o êxodo aumentando em escala geométrica, o Acnur precisa de um financiamento de US$ 60 milhões. Estima-se que hoje entre 40 mil e 50 mil iraquianos deixem suas casas por mês.
A ONU também exorta os governos internacionais a concederem vistos aos iraquianos. E os países vizinhos, adverte, já estão sobrecarregados.
Dos dois milhões que deixaram o país, a maioria está na Síria, na Jordânia e no Egito (veja quadro acima). Mas os números também começam a inflar na Turquia e, alerta, devem subir na Europa, onde os iraquianos já ocupam o primeiro lugar em solicitações de refúgio. (LC)


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