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Êxodo é o maior movimento na região desde a criação de Israel
DA EDITORA-ADJUNTA DE MUNDO
No Brasil há oito anos, Samir
Aboud virou uma espécie de referência para os iraquianos que
chegam aqui. Tem a lista de documentos e prazos para a solicitação do status de refugiado,
autorização de permanência e
passaporte brasileiro, nesta ordem, na ponta da língua.
Segundo o Acnur, o comissariado da ONU para o tema, há
105 refugiados reconhecidos e
17 com o pedido em análise.
Mas Samir calcula que hoje eles
sejam cerca de 400 no Brasil
-a maioria em São Paulo.
É o dobro do que havia em
2004, quando apenas 65 refugiados viviam no país. (O órgão
não tem registro de quantos
eles eram antes da invasão
americana, em 2003.)
Embora a comunidade seja
pequena, seu inchaço é sintomático do que vem ocorrendo
com o Iraque. O êxodo do país,
adverte o Acnur, já é o maior
movimento populacional de
longo prazo na região desde a
criação de Israel, em 1948, e pode levar à maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra.
A situação é tão exasperadora que levou o comissariado da
ONU, que raramente emite declarações além da situação dos
refugiados, a produzir no mês
passado uma avaliação política
sobre o tema, obtida no Brasil
pela Folha em primeira mão.
"De forma geral, a situação
pode ser caracterizada como de
violência generalizada em que
prevalecem violações maciças
de direitos humanos", diz o documento, que cita um "alto nível e intensidade de violência
sectária corrente, que ocorre
diariamente com um enorme
número de mortes de civis".
Uma explosão de crimes, insurgência e a ação de milícias
ligadas ao Ministério do Interior, dentro desse contexto,
além de lutas ocasionais entre
as diferentes milícias, são
apontados pela ONU como responsáveis pelos êxodo de centenas de milhares.
Mais grave, "as autoridades
iraquianas não são capazes de
garantir a segurança da população e protegê-la das violações
de direitos humanos", assinala
o documento. "Os principais
impasses políticos permanecem sem solução, como a questão do federalismo, da distribuição do petróleo e da desbaathificação [expurgo do partido
de Saddam do poder, logo após
sua queda], que solapa a meta
declarada do governo de reconciliação nacional."
Com a perspectiva de realocamento interno e o êxodo aumentando em escala geométrica, o Acnur precisa de um financiamento de US$ 60 milhões. Estima-se que hoje entre
40 mil e 50 mil iraquianos deixem suas casas por mês.
A ONU também exorta os governos internacionais a concederem vistos aos iraquianos. E
os países vizinhos, adverte, já
estão sobrecarregados.
Dos dois milhões que deixaram o país, a maioria está na Síria, na Jordânia e no Egito (veja
quadro acima). Mas os números também começam a inflar
na Turquia e, alerta, devem subir na Europa, onde os iraquianos já ocupam o primeiro lugar
em solicitações de refúgio.
(LC)
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