|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EUA
Ex-presidente vive sozinho, longe da mulher e dos amigos
Isolado em Nova York, Clinton
enfrenta polêmica sobre indultos
Sozinho, Clinton enfrenta realidade pós-Casa Branca
ADAM NAGOURNEY
DO "THE NEW YORK TIMES"
Uma noite dessas, Bill Clinton
entrou num evento no teatro
Apollo, no Harlem, para levantar
fundos para o combate à Aids e
foi recebido pela platéia com leves
aplausos e reconhecimento. Com
sua mulher, Hillary, em Washington, Clinton estava acompanhado
pelo deputado Charles B. Rangel,
do Harlem, e pela cantora Roberta Flack.
O ex-presidente passou as quatro horas seguintes num assento
apertado no teatro, às vezes batendo papo com Rangel e Flack e
de vez em quando dando autógrafos. O que se viu, porém, foi
um homem famoso e muito só.
Sob muitos aspectos, aquela
noite no Harlem simbolizou aquilo em que a vida se transformou
para Clinton desde que deixou a
Casa Branca em janeiro.
Quer ele esteja percorrendo sua
casa de 11 cômodos no subúrbio
de Nova York na companhia de
seu cão, Buddy, esvaziando as 120
caixas da mudança ou guardando
os livros nas estantes, o homem
que tanto precisa de atenção e
companhia é descrito por seus
amigos como estando à toa e, com
frequência, isolado.
Ele perdeu boa parte da equipe
que o assessorava na Casa Branca
e até mesmo a companhia cotidiana de sua família. Hillary, eleita senadora por Nova York, passa
a maior parte do tempo em Washington, e Chelsea, 21, a filha do
casal, está prestes a retornar à faculdade na Califórnia.
Os amigos o tinham avisado da
solidão que enfrentaria na fase de
adaptação para a vida de mero
marido de uma senadora. Mas a
polêmica suscitada por uma série
de indultos de último minuto exacerbou seu isolamento forçado.
Muitas das pessoas a quem
Clinton poderia ter se voltado estavam envolvidas ou em buscar
os perdões ou em revê-los e, por
essa razão, chamaram para si a
atenção dos investigadores federais e do Congresso.
Na quinta-feira passada, três ex-colaboradores de Clinton -o ex-chefe de Gabinete John Podesta, a
ex-conselheira da Casa Branca
Beth Nolan e o ex-assessor Bruce
Lindsey- depuseram no Congresso e afirmaram que argumentaram contra o perdão dado ao bilionário Marc Rich, foragido na
Suíça, mas não foram ouvidos.
Hillary foi descrita por amigos
como dividida quanto à difícil situação em que se encontra seu
marido. Por um lado, está irritada
com o fato de que os perdões que
ele concedeu à última hora macularam a entrada dela na vida pública. Por outro, está angustiada
porque não há ninguém à disposição para ajudá-lo a resolver os
desastres de relações públicas que
marcaram seu ingresso na vida
privada.
Segundo um amigo mútuo, o
casal continua a compartilhar
conselhos. Mas essa partilha vem
sendo dificultada pela distância
geográfica que os separa, pelas sugestões de alguns dos assessores
de Hillary de que ela deveria distanciar-se de seu marido e pelas
distrações contínuas inerentes ao
novo trabalho da senadora.
Segundo um amigo, Clinton está evitando ir a Washington enquanto o furor provocado pelos
detalhes de seus últimos dias no
governo não amainar.
Tudo isso provocou o adiamento dos planos pós-Casa Branca do
ex-presidente. A idéia original era
que ele se aposentaria e passaria a
viver uma vida reservada, digna e
rentável, fazendo palestras, escrevendo suas memórias e ligando-se a alguma espécie de causa beneficente.
Esse plano foi posto de lado, pelo menos por enquanto. Em lugar
disso, o ex-presidente lançou, nos
últimos dias, uma campanha para
reabilitar sua imagem. Ele vai iniciar uma série de viagens ao exterior, incluindo visitas à Índia, à
África e à Europa. O objetivo é em
parte ganhar dinheiro -os honorários pagos a palestrantes no exterior tendem a ser maiores do
que os nos EUA- e também
identificar-se com o serviço público, como a assistência às vítimas do terremoto na Índia.
Tradução de Clara Allain
Texto Anterior: Sem estrutura, bairro badalado perde moradores Próximo Texto: África: EUA recebem "garotos perdidos" do Sudão Índice
|