São Paulo, domingo, 04 de abril de 2004

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Após 50 anos, miséria é herança

DA ENVIADA A SANTIAGO DEL ESTERO

Além de enfrentar uma extensa rede de assistencialismo, clientelismo e repressão, o sucessor de Juárez em Santiago del Estero terá o desafio de desmontar a herança de pobreza deixada por meio século de juarismo. Nos últimos 15 anos, a Província não chegou a representar mais de 0,7% do PIB da Argentina e parece ter-se mantido alheia aos recentes sinais de recuperação da economia do país.
Santiago concentra hoje alguns dos piores indicadores socioeconômicos da Argentina, superando, por exemplo, os números nacionais de desemprego e pobreza.
Segundo dados do Indec (instituto de estatística do governo argentino), 6 em cada 10 santiaguenhos são pobres, e 3, indigentes. Enquanto a maior parte da população empregada está no setor público, o desemprego atinge 16,8%.
Apesar da distribuição clientelista de casas pelos Juárez, o déficit habitacional de Santiago é de 61,3%, segundo dados de 2001.
Menos de 15% da população tem acesso a serviço sanitário e quase 40% não contam com água corrente. Outros 31,3% vivem com suas necessidades básicas insatisfeitas. Enquanto isso, nos últimos dias no poder, Carlos Juárez se gabava de deixar a Província com reservas em caixa de 500 mil pesos (R$ 515,5 mil).
"Isso pode significar duas coisas: ou o governo está cobrando mais impostos dos cidadãos, ou está gastando menos do que deveria em bens públicos que a sociedade demanda", explica o economista José Luis Flaja, da Universidade Católica de Santiago del Estero. "Em Santiago, esse superávit foi obtido sem executar gastos."
Flaja aponta, no entanto, que, nos últimos 50 anos, enquanto o PIB da Província dobrou, os gastos públicos cresceram 17 vezes. Não é de estranhar que 80% desse gasto tenha sido em pessoal, para sustentar a estrutura de poder.
Seguindo Flaja, o investimento privado é praticamente inexistente em Santiago. A indústria representa apenas 4% do PIB local.
"A agravante é que Santiago tem 66% de sua atividade econômica concentrada no setor terciário [de serviço], e isso acontece pela participação do governo."
"Juárez diz que passou 50 anos lutando contra a pobreza. É preciso saber, então, o que ele estava fazendo, porque, se levou todo esse tempo, e não conseguiu derrotá-la, está confessando um problema", diz, irônico, Castor López, também da Universidade Católica. "Eu diria que são estratégias de pobreza controlada."


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