São Paulo, terça-feira, 04 de maio de 2004

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AMÉRICA LATINA

Motivo é "ingerência"

México e Peru retiram embaixadores de Cuba

DA REDAÇÃO

Na pior crise diplomática entre Cuba e o México desde que o ditador Fidel Castro assumiu o poder, em 1959, o embaixador mexicano em Havana foi chamado de volta, e o governo do presidente Vicente Fox deu 48 horas para que o embaixador cubano deixasse o país.
O governo peruano, do presidente Alejandro Toledo, também retirou o seu embaixador da ilha, aumentando ainda mais o isolamento internacional de Fidel, que no ano passado perdera o tradicional apoio da União Européia após uma onda de repressão.
México e Peru, que há duas semanas votaram a favor de uma resolução da ONU criticando a situação dos direitos humanos em Cuba, anunciaram a retirada dos embaixadores anteontem à noite alegando "ingerências inaceitáveis" de Fidel em assuntos internos. As ligações de Peru e México com Cuba se reduziram a diplomatas de baixo escalão.
Em discurso no sábado, Fidel fez duras críticas aos dois países: "Peru, o quinto governo latino-americano que votou com os EUA contra Cuba, constitui um exemplo do grau de humilhação e de dependência aos quais muitos Estados da América Latina foram conduzidos pelo imperialismo e pela globalização neoliberal".
"No México, povo afetuoso e irmão para todos os cubanos, o Congresso solicitou em vão a seu presidente para que se abstivesse de apoiar a resolução encomendada pelo presidente Bush. Dói profundamente que tanto prestígio e influência conquistados pelo México na América Latina e no mundo por sua irretocável política internacional, surgida de uma revolução verdadeira e profunda, tenham virado cinzas", disse.
A resolução, aprovada por um voto, diz que Cuba "deve parar de adotar medidas que possam colocar em risco direitos fundamentais" e "deplora os eventos ocorridos no ano passado em Cuba", em referência à condenação de 75 dissidentes a até 28 anos de prisão, acusados de conspirar com os EUA para derrubar Fidel.
O Brasil se absteve de votar na ONU. Marco Aurélio Garcia, assessor para assuntos internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse à Folha na época que o Brasil "não reconhece nem deixa de reconhecer" que haja repressão na ilha.
Além da votação na ONU, as relações entre Cuba e México pioraram durante o processo de deportação do empresário Carlos Ahumada, acusado de pagar subornos a políticos de esquerda mexicano. Ao deportá-lo, Cuba disse que o caso tinha "objetivos políticos" para prejudicar a oposição a Fox.
O México também acusa três funcionários do governo cubano de realizar recentemente atividades políticas no país, supostamente encontros com políticos de esquerda sobre o caso Ahumada.
O secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, entregou ontem ao presidente George W. Bush propostas para provocar "o fim rápido da ditadura cubana". O teor das propostas não foi revelado.


Com agências internacionais


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