São Paulo, Terça-feira, 04 de Maio de 1999
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HOMEM FORTE
Fracasso das democracias em resolver problemas sociais estimula a demanda por "pulso forte" na região
Instituto vê ameaças à democracia na AL

SYLVIA COLOMBO
de Londres

O Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS) divulgou ontem em Londres seu informe anual em que aponta para uma tendência na política latino-americana de retorno do "homem forte, tanto civil como militar" ao poder, o que refletiria "um desejo de estabilidade política, uma liderança diante da insegurança mundial".
A demanda por um pulso forte teria raízes em fatores econômicos: a crise mundial, o aumento do desemprego e da pobreza. Ou seja, a falência da democracia em resolver problemas sociais.
Tais razões atrairiam boa parte do eleitorado para forças políticas personificadas nos "homens fortes". O fenômeno leva, então, a uma democracia muito distinta, em que os estados autoritários retornam em roupagem civil.
O relatório usa como exemplos fatos políticos que dominaram a cena latino-americana no ano passado e em princípios de 1999.
O retorno de militares ao poder por vias democráticas pôde ser observado no caso do ex-militar e ex-golpista Hugo Chávez, que se elegeu presidente da Venezuela no final do ano passado.
No Paraguai, o general Lino César Oviedo chegou a se candidatar, mas foi impedido de concorrer. Seu "sucessor" na chapa, Raúl Cubas, venceu a eleição com a promessa de que Oviedo estaria no poder enquanto ele governasse. Cubas renunciou em março.
Na Bolívia, também um militar, o general Hugo Banzer, mantém-se no governo há dois anos.
O relatório mostra que os civis que estão no poder em outros países se utilizam de uma estratégia também "autoritária": a reeleição. Alberto Fujimori, no Peru, Fernando Henrique Cardoso, no Brasil, e Carlos Menem, na Argentina, mudaram a lei para se reeleger.
O México estaria indo contra a corrente, deixando aos poucos o sistema de partido único. Desde 97, quando o Partido Revolucionário Institucional (PRI) perdeu o controle da Câmara Baixa do Congresso, o pluralismo emergiu.
Quanto ao Chile, o estudo diz que a prisão do ex-ditador Augusto Pinochet em Londres -onde aguarda decisão da Justiça sobre um pedido de extradição- interrompeu uma situação autoritária.
O general tencionava supervisionar o Estado a partir de sua posição de senador vitalício, criada por ele enquanto chefe de um governo autoritário.
Sobre os Bálcãs, o informe diz que a região "começou o século com a questão albanesa e o encerra sem uma resposta".
O texto diz que o presidente iugoslavo, Slobodan Milosevic, "é parte do problema, e qualquer acordo que se faça com ele, mas que não assegure um sistema de segurança, está condenado a fracassar".


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