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FRANÇA
Líder da extrema direita diz que reportagem do "Le Monde" é campanha para prejudicar seu partido na eleição legislativa
Le Pen é acusado de tortura na Argélia
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
Novos testemunhos publicados ontem na imprensa francesa reiteraram as acusações sobre o passado de torturador do líder de extrema direita Jean-Marie Le Pen,
74, durante a guerra de independência da Argélia (1954-1962).
O jornal "Le Monde" publicou quatro depoimentos inéditos de
argelinos que explicam em detalhes os métodos de tortura que,
segundo eles, foram utilizados
por Le Pen, como choques elétricos no corpo molhado.
Tudo teria se passado entre janeiro e março de 1957, quando Le
Pen, então tenente de regimento
de pára-quedistas, participava de
missão militar secreta.
A reportagem pode abalar a
performance da Frente Nacional,
partido de Le Pen, nas eleições legislativas -o primeiro turno será
neste domingo.
Segundo pesquisa divulgada
anteontem, a extrema direita tem
13% das intenções de voto, atrás
apenas dos dois partidos de centro-direita (36%) e do Partido Socialista (24,5%).
Le Pen reagiu aos depoimentos,
dizendo que não praticou tortura
na Argélia e que vai processar o
"Monde". Para ele, a reportagem,
"publicada na semana que precede às legislativas", é uma "manipulação particularmente desleal".
"Vinda depois do linchamento
midiático do segundo turno das
eleições presidenciais, ela constitui um verdadeiro apelo ao homicídio", afirmou.
Le Pen se referiu à grande campanha movida contra ele por diversos setores da sociedade francesa, inclusive vários jornais, depois que ele passou ao segundo
turno das eleições presidenciais,
no início de maio, vencido por
Jacques Chirac (centro-direita).
História
Há quatro décadas, em 1962, Le
Pen disse ao jornal "Combat" que
praticou tortura na Argélia: "Não
tenho nada a esconder, eu torturei
porque era preciso fazê-lo". Recentemente, a Justiça francesa
deu ganho de causa ao historiador
Pierre Vidal-Naquet, processado
por Le Pen por tê-lo citado como
torturador em um livro.
Os argelinos entrevistados pelo
"Monde" disseram ter resolvido
se manifestar depois do avanço
político de Le Pen nas eleições
presidenciais.
Segundo Abdelkader Ammour,
64, na época da Guerra da Argélia
com 19 anos, cerca de 20 homens
comandados por Le Pen invadiram sua casa e o prenderam. "Eles
ligaram os fios elétricos diretamente na tomada e os passaram
no meu corpo. Eu uivava."
Ammour reconheceu Le Pen
mais tarde, em fotos, e assim o
descreveu ao "Monde": "Ele se fazia passar por "Marco". Respirava
violência. Para ele, tratava-se
muito mais de nos submeter do
que de tirar informações".
Mustapha Merouane, 64, então
com 18 anos, disse que foi despido
e colocado sobre um estrado de
metal. "Le Pen acionava o interruptor [dos fios elétricos". Ele depois pediu água e derramou sobre
o meu corpo, antes de recomeçar
com os choques", afirmou.
Mohamed Abdellaoui, 72, na
época com 27 anos e militante do
movimento revolucionário FLN
(Frente de Libertação Nacional),
disse que Le Pen cobriu seu rosto
com uma toalha, enquanto o general Paul Aussaresses despejava
água sobre sua boca. "Eu não sei
se era uma toalha especial, mas a
água entrava na minha boca sem
parar, eu sufocava. Meu ventre ficou enorme. Le Pen subiu sobre
mim. A água me saiu pela boca e
pelo nariz", contou.
Aussaresses, 83, então comandante do serviço de informação,
negou ao jornal que tivesse participado de uma seção de tortura
com Le Pen. No ano passado, ele
foi condenado pela Justiça por fazer apologia da tortura em livro.
A Guerra da Argélia terminou
em 19 de março de 1962. Em julho
daquele ano, o país, ocupado pela
França desde 1830, tornou-se independente. A guerra marcou o
fim do colonialismo francês.
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