São Paulo, quinta-feira, 04 de junho de 2009

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"Condicionantes" quase travam negociações

Bloco chavista resistia a preâmbulo que cita, a pedido dos EUA, democracia, desenvolvimento, segurança e direitos humanos

Brasil incluiu menções a autodeterminação e não intervenção; discussões, de mais de 12 horas, não foram interrompidas por pouco

DA ENVIADA A SAN PEDRO SULA

Primeiro, foram os EUA que temeram ficar isolados e aderiram ao grupo de trabalho de dez países que buscou a solução para a questão cubana na OEA. Depois, foram os seis integrantes do bloco chavista que saíram do isolamento e aderiram ao texto finalmente aprovado.
Foram mais de 12 horas de reuniões, desde as 15h de terça (18h no Brasil), antes que viesse a conciliação. O consenso esbarrava em seis palavras citadas no preâmbulo da resolução.
Os negociadores americanos propuseram que a exposição de motivos do texto citasse os princípios de democracia, desenvolvimento, segurança e direitos humanos. O Brasil, para acomodar os bolivarianos, incluiu a autodeterminação e a não intervenção.
Mas, até a madrugada de ontem, os países da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas) insistiam em que os termos impunham condições que julgavam inaceitáveis.
"Não são condicionantes, são elementos do preâmbulo que estão em todos os documentos da OEA", insistia o chanceler brasileiro, Celso Amorim.
Amorim deu entrevista perto das 23h locais de terça, quando ele e o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, tinham acabado de sair de reunião com os chanceleres de Venezuela, Nicarágua e Honduras, sem conseguir convencê-los ainda.
Insulza foi em seguida ao encontro dos negociadores americanos, Thomas Shannon, responsável pela América Latina no Departamento de Estado e futuro embaixador no Brasil, e Dan Restrepo, que cuida da região no Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.
"Acabou neste momento", disse Restrepo à Folha. Shannon, porém, emendou: "Vamos ver o que podemos fazer amanhã [hoje]".
As negociações começaram depois que os chanceleres de EUA, Venezuela, Brasil e mais sete países formaram o grupo de trabalho à margem da Assembleia Geral. Até então, os americanos estavam isolados em sua oposição a que fosse anulada a decisão de 1962.
A secretária de Estado Hillary Clinton teve que se retirar após duas horas, para viajar ao Egito. Deu declarações que pareciam indicar que um consenso seria impossível.
Em seu lugar, assumiram Shannon e Restrepo, enquanto o chanceler Nicolás Maduro negociava pela Venezuela. O texto de conciliação foi feito pelo chamado Grupo dos 11, formado por Brasil, Argentina, Chile e México, entre outros.
A versão finalmente aprovada ficou pronta por volta das 20h de segunda. Shannon teve o ok da Casa Branca, mas o venezuelano Hugo Chávez e o nicaraguense Daniel Ortega resistiam. Só ontem os países da Alba disseram sim. "É sinal de que algumas coisas que nós falamos funcionaram", comemorou Amorim. (CLAUDIA ANTUNES)


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