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análise
Decisão é como Brasil e bom senso pediam
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Quem for ufanista ou lulista dirá que prevaleceu a
posição brasileira na decisão que a OEA adotou ontem em relação a Cuba.
Afinal, conforme o
chanceler Celso Amorim
disse à Folha antes de ir a
Honduras, a proposta brasileira tinha duas vertentes: revogar a resolução de
1962 que suspendeu a ilha
caribenha e abrir o que o
chanceler chamou de "período de transição" até a
eventual plena reintegração de Cuba ao sistema interamericano.
Ontem, decidiu-se, primeiro, revogar a decisão
de 47 anos atrás, ao mesmo tempo em que se acertava, consensualmente,
que "a participação de Cuba na OEA será o resultado de um processo de diálogo iniciado por solicitação do governo de Cuba e
em conformidade com as
práticas, os propósitos e os
princípios da OEA" -uma
porção de palavras para
dizer o que Amorim defendia: prazo de transição.
Quem não é ufanista
nem lulista dirá, no entanto, que o resultado está
dentro do mais rigoroso
bom senso. O primeiro
ponto, revogar a suspensão de Cuba, era consenso
absoluto entre todos os
países da OEA, exceto
EUA, que, no entanto, não
tinham resistências fortes
ao cancelamento da punição desde que não significasse a imediata reincorporação de Cuba sem
qualquer contrapartida do
regime dos irmãos Castro.
Já os países latino-americanos e caribenhos querem majoritariamente,
Brasil à frente, dar tempo
a Obama para implementar a sua política para a
América Latina, o que inclui modificar a relação
com Cuba. O desejo ficou
nítido na recente Cúpula
das Américas, em abril.
E foi, de resto, assumido
explicitamente no início
da resolução de ontem,
que afirma: "Considerando a abertura que caracterizou o diálogo dos Chefes
de Estado e de Governo na
5ª Cúpula das Américas,
em Port of Spain, e que,
com esse mesmo espírito,
os Estados-membros desejam estabelecer um
marco amplo e revitalizado de cooperação nas relações hemisféricas".
Tudo somado, sepulta-se um passado ligado a
uma guerra já vencida (a
Guerra Fria) e deixa-se
aberto o futuro que será
muito mais moldado pelo
diálogo EUA/Cuba do que
pelas decisões da OEA.
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