São Paulo, quinta-feira, 04 de junho de 2009

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análise

Decisão é como Brasil e bom senso pediam

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Quem for ufanista ou lulista dirá que prevaleceu a posição brasileira na decisão que a OEA adotou ontem em relação a Cuba.
Afinal, conforme o chanceler Celso Amorim disse à Folha antes de ir a Honduras, a proposta brasileira tinha duas vertentes: revogar a resolução de 1962 que suspendeu a ilha caribenha e abrir o que o chanceler chamou de "período de transição" até a eventual plena reintegração de Cuba ao sistema interamericano.
Ontem, decidiu-se, primeiro, revogar a decisão de 47 anos atrás, ao mesmo tempo em que se acertava, consensualmente, que "a participação de Cuba na OEA será o resultado de um processo de diálogo iniciado por solicitação do governo de Cuba e em conformidade com as práticas, os propósitos e os princípios da OEA" -uma porção de palavras para dizer o que Amorim defendia: prazo de transição.
Quem não é ufanista nem lulista dirá, no entanto, que o resultado está dentro do mais rigoroso bom senso. O primeiro ponto, revogar a suspensão de Cuba, era consenso absoluto entre todos os países da OEA, exceto EUA, que, no entanto, não tinham resistências fortes ao cancelamento da punição desde que não significasse a imediata reincorporação de Cuba sem qualquer contrapartida do regime dos irmãos Castro.
Já os países latino-americanos e caribenhos querem majoritariamente, Brasil à frente, dar tempo a Obama para implementar a sua política para a América Latina, o que inclui modificar a relação com Cuba. O desejo ficou nítido na recente Cúpula das Américas, em abril.
E foi, de resto, assumido explicitamente no início da resolução de ontem, que afirma: "Considerando a abertura que caracterizou o diálogo dos Chefes de Estado e de Governo na 5ª Cúpula das Américas, em Port of Spain, e que, com esse mesmo espírito, os Estados-membros desejam estabelecer um marco amplo e revitalizado de cooperação nas relações hemisféricas".
Tudo somado, sepulta-se um passado ligado a uma guerra já vencida (a Guerra Fria) e deixa-se aberto o futuro que será muito mais moldado pelo diálogo EUA/Cuba do que pelas decisões da OEA.


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