São Paulo, quinta-feira, 04 de setembro de 2008

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Ação americana mata civis no Paquistão

Soldados atacaram de dois helicópteros, em busca de terroristas na zona tribal do país, que faz fronteira com o Afeganistão

Paquistão se insurge contra operação, que qualifica de "provocação"; militares dos EUA confirmam ação sob condição de anonimato


DA REDAÇÃO

Soldados americanos vindos do Afeganistão mataram na madrugada de ontem de 7 a 20 pessoas -os relatos são contraditórios- numa aldeia paquistanesa na zona tribal do Waziristão do Sul, disse Islamabad. Os militares chegaram em dois helicópteros e dispararam contra três domicílios. Entre os mortos há mulheres e crianças.
O Ministério paquistanês das Relações Exteriores qualificou o incidente de "grave provocação" e de "flagrante violação" do território do país.
Lamentou "a imensa perda de vidas civis" e também afirmou, o que é raro na linguagem diplomática do Paquistão endereçada aos Estados Unidos, que "se reserva o direito de autodefesa e represália".
O porta-voz do Exército paquistanês, general Athar Abbas, disse ter sido a primeira operação terrestre de forças estrangeiras na fronteira entre seu país e o Afeganistão. Um acordo tácito entre Washington e Islamabad, capitais teoricamente unidas pela guerra ao terrorismo, permitia que a região tribal, um santuário do Taleban e da Al Qaeda, só fosse objeto de bombardeios aéreos.
Mesmo assim, o Paquistão exige ser previamente informado, o que desta vez não aconteceu, segundo o porta-voz da embaixada paquistanesa em Washington, Nadeem Kiani.
O Pentágono tem evitado dividir informações com os serviços de inteligência do Paquistão, por acreditar que eles estejam infiltrados por simpatizantes dos extremistas islâmicos e deixem vazar informações que acabam comprometendo operações repressivas.
As relações entre os Estados Unidos e o Paquistão atravessam um período de desconfianças mútuas na esteira da renúncia do presidente Pervez Musharraf, aliado de Washington. O Pentágono acusa Islamabad de ineficiência no combate a grupos extremistas.
A operação em solo paquistanês foi confirmada por oficiais de alta patente americanos, sob condição de anonimato. Nem a Casa Branca nem os militares se pronunciaram sobre a existência de vítimas civis. A Otan, a aliança militar ocidental, que coordena as ações estrangeiras em solo afegão, disse por meio de seu porta-voz, James Appathurai, não estar envolvida no incidente. Nem todos os militares americanos no país estão sob bandeira da Otan.
O relato factual mais detalhado foi dado pelo Taleban, grupo islâmico desalojado do poder no Afeganistão após o 11 de Setembro. Seu porta-voz disse que três helicópteros atravessaram de madrugada a fronteira. Dois desceram, e um terceiro permaneceu sobrevoando a área para dar cobertura aérea.
Os militares americanos procuravam insurgentes que horas antes já teriam penetrado no Afeganistão para cumprir missões. Segundo o Taleban, foram mortas "15 pessoas inocentes".

Atentado contra Gilani
Ainda ontem, homens armados do Taleban atiraram nas imediações de Islamabad contra o Mercedes Benz reservado ao primeiro-ministro Yousaf Raza Gilani. Porta-vozes do governo disseram que ele não estava no veículo, que fazia parte de um comboio que iria buscá-lo na base aérea de Chaklala, onde ele desembarcaria de uma viagem à cidade de Lahore.
Um porta-voz do Taleban disse que Gilani seria o alvo do atentado em resposta à ofensiva contra os insurgentes baseados no noroeste do país, na fronteira com o Afeganistão.
A insegurança em Islamabad levou Asif Ali Zardari, viúvo da premiê Benazir Bhutto e que deverá ser eleito presidente do país no sábado, a deixar sua casa e se alojar no prédio fortemente protegido que abriga o gabinete do primeiro-ministro.

Com agências internacionais



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