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ANÁLISE
Um desafio político para Bush
Cada novo ataque desafia a vontade americana, central na campanha para mudar o Iraque
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RICHARD W. STEVENSON
DO "NEW YORK TIMES",
EM CRAWFORD, TEXAS
A derrubada de um helicóptero
americano no Iraque, anteontem,
colocou o presidente Bush diante
do seguinte desafio político: como
impedir que a opinião pública se
volte contra ele na questão do Iraque sem abrir mão do esforço para implantar uma democracia estável nesse país.
Já faz meses que americanos
vêm morrendo no Iraque, atacados por um inimigo cuja natureza
ainda é pouco conhecida. Mas a
derrubada do helicóptero Chinook, matando 16 soldados, elevou a insurgência para um novo
nível e leva a crer que sua eficácia
esteja crescendo.
Até agora a maioria da população americana foi favorável à
campanha no Iraque, e o governo
Bush já afirmou várias vezes que
vai manter a ocupação do país,
mesmo num ano eleitoral.
Mas o fato é que comandantes
militares e autoridades do governo até agora não vinham atribuindo grande importância à insurgência. É uma atitude que pode agora ser questionada. Ainda
no sábado, o comandante das forças americanas no Iraque, general
Ricardo Sanchez, disse que os ataques têm sido "estratégica e operacionalmente insignificantes".
Sejam quais forem os méritos
da afirmação -e a verdade é que
a derrubada de um helicóptero
não é insignificante-, é possível
que nada disso venha ao caso.
Bem armados e bem coordenados, os ataques contra as forças
americanas, contra os iraquianos
que cooperam com elas, contra
civis e contra as instituições internacionais parecem ter um objetivo: enfraquecer a determinação
americana e semear a dúvida, no
Iraque e fora dele.
Bush foi informado do ataque
ao helicóptero enquanto estava
em sua fazenda em Crawford. Um
porta-voz da Casa Branca, Trent
Duffy, disse aos jornalistas: "Os
terroristas buscam matar forças
da coalizão e iraquianos inocentes
porque querem que fujamos. Mas
nossa vontade e nossa determinação são inabaláveis".
Entretanto Kenneth Allard, coronel reformado do Exército que
leciona segurança internacional
na Universidade Georgetown, sugeriu que os ataques iraquianos
vão colocar a determinação americana à prova. "Cada um desses
ataques desafia a vontade americana", disse ele, "e a vontade americana é o centro de gravidade
desta campanha."
O tratamento que Bush está
dando à questão do Iraque é alvo
de críticas partidárias acirradas,
que provavelmente vão se intensificar à medida que a campanha
para a eleição presidencial de
2004 for tomando impulso.
Os democratas têm criticado especialmente a incapacidade de
Bush de conseguir o engajamento
substancial de aliados - com a
exceção do Reino Unido- para o
envio de tropas ao Iraque, fato
que eles atribuem à pouca disposição manifestada pelo governo
de forjar uma aliança real antes do
início da guerra.
Está claro que Bush é sensível às
pressões que estão sendo exercidas para que traga para casa mais
tropas americanas no menor prazo possível. Indagado, na semana
passada, sobre se poderia prometer que dentro de um ano o número de militares americanos no Iraque terá diminuído, o presidente
se negou a responder, descrevendo a pergunta como "capciosa".
Wesley Clark, general e presidenciável democrata, declarou,
após a derrubada do helicóptero,
que "o governo não tem respostas
a oferecer à situação de violência
crescente no Iraque". Acrescentou: "Precisamos de um plano".
Embora as pesquisas indiquem
uma queda de popularidade de
Bush, o presidente ainda está em
posição relativamente forte, e não
há sinais de ruptura na opinião
pública sobre o Iraque. A opinião
pública dentro do Iraque, porém,
é mais difícil de medir. E, a cada
novo ataque, aumenta a pressão
exercida sobre Bush para que ele
mostre que não apenas possui um
programa, mas também a determinação para executá-lo.
Para o coronel Kenneth Allard,
a opinião pública americana é
vulnerável a cada má notícia vinda do Iraque. E, disse ele, Bush e
sua equipe ainda não conseguiram convencer a população iraquiana de que os EUA vão vencer
a disputa. ""O maior medo dos iraquianos é que Saddam ou seus capangas possam voltar", disse
Allard. "Tudo o que eles estão
vendo agora pode levá-los a achar
que os americanos correm o risco
de desanimar."
O secretário da Defesa, Donald
Rumsfeld, insistiu que os ataques
não vão afetar a determinação do
governo de concluir o trabalho
iniciado no Iraque.
"Podemos ganhar esta guerra",
disse ele. "Vamos ganhar esta
guerra. E o presidente tem a intenção firme de continuar a perseguir os terroristas e os países
que os abrigam, até que tenhamos
ganhado esta guerra."
Apesar disso, os ataques e as
baixas persistentes obrigaram o
governo a reconhecer as dificuldades que existem pela frente. Na
semana passada, Bush referiu-se
repetidas vezes ao Iraque como
lugar perigoso e praticamente
desmentiu a bandeira de ""missão
cumprida" pendurada atrás dele,
no porta-aviões Abraham Lincoln, quando proclamou o fim
das principais operações de combate, em maio.
Representantes do governo começaram a destacar que estão
pressionando os iraquianos para
que assumam uma parte maior
da responsabilidade de enfrentar
a guerra de guerrilha e a dizer que
estão acelerando os planos de
treinar iraquianos para assumir a
segurança.
"A presença de tropas estrangeiras num país é algo que não é
natural", disse Rumsfeld no programa "Fox News Sunday", referindo-se à presença de tropas
americanas e aliadas no Iraque.
"O objetivo é mantê-las no país
pelo tempo que for necessário, e
nem um dia a mais."
Mas não está claro até que ponto os iraquianos serão capazes de
estabilizar seu país e resolver suas
divisões políticas e religiosas, especialmente se as explosões e os
atentados continuarem.
Tradução de Clara Allain
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