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Medo de fraude serviu para mobilizar
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
O temor de que problemas na
contagem de votos ou irregularidades eleitorais voltassem a ocorrer -como se deu em 2000, na
Flórida- e prejudicassem a escolha do novo presidente americano
acabou sendo inflado pelas próprias candidaturas democrata e
republicana, no afã de mobilizar
suas bases partidárias a comparecer no dia da eleição.
A avaliação é de dois especialistas em política americana: Nolan
McCarty, professor da Universidade Princeton, e Vincent Hutchings, da Universidade de Michigan. Problemas mais graves,
afinal, não ocorreram.
"Ambos os partidos tentaram
manipular os medos sobre o sistema eleitoral. Os medos foram
exagerados propositalmente", diz
McCarty, que não nega a existência de problemas, mas afirma que,
na prática, o sistema eleitoral funcionou melhor nestas eleições do
que há quatro anos.
Segundo ele, foram feitos "tremendos investimentos em tecnologia e [melhoria de] procedimentos" desde 2000.
"Parte desse temor não era real,
mas simplesmente parte da política -uma tentativa de mobilizar o
seu lado, e a sugestão de que o outro partido tentaria roubar as eleições de alguma maneira", declara.
Para Vincent Hutchings, o temor também foi exagerado pelos
candidatos, mas parte devia-se à
memória do que ocorrera em
2000. Sua avaliação é que, neste
ano, o sistema funcionou.
As complexidades e especificidades do voto em cada Estado, resultantes do sistema federativo
americano, são, ele diz, em parte
responsáveis pelo surgimento de
problemas ocasionais -um sistema unificado e simples limitaria a
possibilidade de confusões.
A explicação para a ênfase na
possibilidade de irregularidades
-visando o comparecimento das
bases- deve-se ao sistema eleitoral americano, em que o voto não
é obrigatório e o sistema federativo interpõe um colégio eleitoral
entre os cidadãos e a escolha do
presidente. A garantia de que os
seus eleitores "tradicionais" apareçam para votar é tão importante
quanto a conquista de indecisos.
Tanto Hutchings quanto o cientista político João Feres Júnior, do
Iuperj (Instituto Universitário de
Pesquisas do Rio de Janeiro), afirmam que a democracia americana é "temperada" pelo federalismo. "O sistema americano foi designado para limitar a influência
dos eleitores", diz o americano.
Quem vota, efetivamente, são os
representantes de cada Estado no
Colégio Eleitoral. Havia, à época
da Constituição do país, preocupação com "as paixões da maioria", diz Hutchings, e que essas
pudessem se converter numa "ditadura da maioria", diz Feres, o
que poderia afetar as minorias.
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