São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2004 |
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Maioria republicana cresce no Congresso
MÁRCIO SENNE DE MORAES DA REDAÇÃO O Partido Republicano expandiu seu controle das duas Casas do Congresso americano, deixando o caminho livre para que o presidente George W. Bush, que venceu eleição presidencial com uma diferença de mais de 3 milhões de votos, introduza sua agenda política doméstica sem correr o risco de ver suas propostas rejeitadas pelos congressistas. "A futura configuração do Congresso, que dará aos republicanos uma larga vantagem na Câmara e um confortável avanço no Senado, permitirá que Bush e seu gabinete forcem a aprovação da maioria de suas políticas consideradas prioritárias. Afinal, o pleito legislativo debilitou a oposição", explicou à Folha Matthew Crenson, cientista político e co-autor de "Downsizing Democracy" (apequenando a democracia). "Com isso, tanto no campo moral quanto no econômico, a agenda conservadora dos republicanos deverá ser aprovada sem grandes problemas. Assim, o projeto de lei que estabelece que o casamento deve existir somente entre um homem e uma mulher poderá ser apresentado para a apreciação do Congresso. Ademais, os republicanos poderão até contestar o direito ao aborto, já que a Suprema Corte também é majoritariamente conservadora." "No campo econômico, Bush buscará a aprovação da privatização parcial da Previdência Social e a manutenção dos cortes de impostos aprovados em 2001 e em 2003. Além disso, deverá obter a anuência do Legislativo à exploração de petróleo num parque nacional situado no Alasca, algo impensável até a eleição de ontem [anteontem]", avaliou Crenson. A derrota do líder democrata no Senado, Tom Daschle, em Dakota do Sul, ilustra a dimensão da vitória republicana. Após 18 anos na Casa, o senador democrata perdeu seu assento para um oponente republicano pouco expressivo, John Thume. Com ao menos 53 cadeiras garantidas, os republicanos aumentaram sua vantagem sobre os democratas no Senado. Também vale ressaltar a vitória do republicano Mel Martinez na Flórida, que se tornará o primeiro senador cubano-americano da história dos EUA. Seu triunfo ofuscou o da estrela democrata Barack Obama em Illinois, que será o único negro no Senado. Na Câmara, os republicanos também conseguiram expandir sua vantagem sobre os democratas, adicionando ao menos duas cadeiras às suas fileiras. Hoje eles contam com cerca de 30 assentos a mais que seus principais adversários na cena política dos EUA. Democracia em risco De acordo com o reputado historiador David Donald, o resultado das eleições americanas é "alarmante". "Os republicanos consolidaram seu domínio do Congresso e conquistaram a Presidência, o que, por si só, já seria preocupante, pois Bush terá o caminho livre para introduzir suas políticas sem que o Legislativo funcione como ponto equilíbrio para seu poder presidencial", analisou Donald, professor emérito de história dos EUA da Universidade Harvard (EUA). "Todavia ainda mais grave é a composição da Suprema Corte. Cinco dos nove ministros já tendem a apoiar as iniciativas republicanas, pois são conservadores, e Bush terá a oportunidade de apontar outros três ou quatro, o que tornará a mais alta instância do Judiciário francamente republicana. Trata-se de um sério risco para a democracia americana", acrescentou o ganhador do Prêmio Pulitzer de 1960. Para ele, a hegemonia do Partido Republicano, que, na prática, continuará a controlar os três Poderes, também afetará o quarto poder: a mídia. "Com mais de 3 milhões de votos de vantagem na eleição, Bush vai simplesmente ignorar vozes contrárias à sua política, o que afetará a imprensa". Texto Anterior: Medo de fraude serviu para mobilizar Próximo Texto: Conservadorismo marca resultado de plebiscitos Índice |
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