São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2004

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Pragmáticos, Venezuela e EUA baixam tom diplomático

YOLANDA OJEDA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM CARACAS

Analistas políticos e funcionários da Chancelaria venezuelana não vislumbram mudanças de fundo na relação entre Venezuela e EUA, mas o fim das campanhas eleitorais, com a vitória dos presidentes Hugo Chávez e George W. Bush, faz baixar o tom da relação ruidosa que se mantinha durante os últimos vários meses.
Agora, a necessidade de colocar em prática um acordo pragmático se deve ao fato de que os dois países compartilham de um interesse comum, com o petróleo como ponta-de-lança -um como o principal cliente e o outro como fornecedor confiável de energia.
O embaixador americano na Venezuela, William R. Brownfield, tem dito que o petróleo não é o único fator da relação, "mas é muito importante", e que isso deverá se manter. Nessa nova etapa da relação, há a promessa de respeito mútuo e de não-ingerência. Uma recente declaração de princípios divulgada pelo chanceler venezuelano, Jesús Arnaldo Pérez, afirma: "Desejamos, queremos e estamos dispostos a fazer de tudo para melhorar as relações com os Estados Unidos".
Para o especialista em relações internacionais Adolfo Salgueiro, "pode haver mudanças cosméticas com relação à retórica, mas não de fundo". E, ainda que os EUA possam ter reservas, "terão de ser ajustadas na Venezuela".
Na opinião de Salgueiro, não será estranho que Chávez seja convidado para a Casa Branca.
Para o embaixador Brownfield, no entanto, isso só será possível "após cumprir as nove etapas do jogo de beisebol, que está apenas começando". O diplomata americano comparou a uma segunda lua-de-mel para um casal que teve sérios problemas no casamento. Ele acredita que Chávez não seja tão "cego" para ideologizar a relação petroleira com os EUA, que se consolida com as associações estratégias nas quais participam as empresas americanas. Ele também prevê a diminuição do discurso de confrontação.
A analista Elsa Cardozo também acredita que não haverá grandes mudanças estratégicas. A necessidade de energia, que coloca a Venezuela como fornecedor confiável diante de todos os problemas no Oriente Médio, e a escalada dos preços exigem um enfoque pragmático.

Colômbia e Lula
As diferenças se manterão, sobretudo, em torno do Plano Colômbia, a ajuda americana para o conturbado país vizinho, e das acusações de que o governo venezuelano apóia grupos armados de esquerda. Os EUA também ficaram atentos a tentativas de limitar a liberdade de expressão por meio de um pacote de leis, mas, nesse caso, Washington tentará ativar os mecanismos internacionais que supervisionam esse tipo de situação, e não por meio de uma ação individual.
Ao presidente Chávez, seu discurso antiamericano teve um resultado positivo, sobretudo como estratégia política interna. Cardozo avalia que o quadro regional esteja se complicando e que os EUA observam que há pouca possibilidade de diálogo no campo político com o governo venezuelano.
Nesse sentido, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, pode se transformar num fator importante para manter um certo equilíbrio nas relações hemisféricas, fazendo, no caso venezuelano, uma espécie de mediação entre Caracas e Washington.

Cuba
A confirmação de mais quatro anos para Bush provocou tristeza entre os cubanos, esperançosos na suspensão das sanções econômicas que os EUA impuseram no início dos anos 60 ao país.
Porta-vozes do ditador Fidel Castro se disseram inconformados com a reeleição de um presidente que designa seu líder como um "tirano".
"Esperávamos que isso ocorresse. No fundo, Bush ou Kerry seria a mesma coisa. Continuaremos com nossa política", disse a ministra Yadira Garcia (Indústria).


Com agências internacionais

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