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Pragmáticos, Venezuela e EUA baixam tom diplomático
YOLANDA OJEDA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM CARACAS
Analistas políticos e funcionários da Chancelaria venezuelana
não vislumbram mudanças de
fundo na relação entre Venezuela
e EUA, mas o fim das campanhas
eleitorais, com a vitória dos presidentes Hugo Chávez e George W.
Bush, faz baixar o tom da relação
ruidosa que se mantinha durante
os últimos vários meses.
Agora, a necessidade de colocar
em prática um acordo pragmático se deve ao fato de que os dois
países compartilham de um interesse comum, com o petróleo como ponta-de-lança -um como o
principal cliente e o outro como
fornecedor confiável de energia.
O embaixador americano na
Venezuela, William R. Brownfield, tem dito que o petróleo não
é o único fator da relação, "mas é
muito importante", e que isso deverá se manter. Nessa nova etapa
da relação, há a promessa de respeito mútuo e de não-ingerência.
Uma recente declaração de princípios divulgada pelo chanceler
venezuelano, Jesús Arnaldo Pérez, afirma: "Desejamos, queremos e estamos dispostos a fazer
de tudo para melhorar as relações
com os Estados Unidos".
Para o especialista em relações
internacionais Adolfo Salgueiro,
"pode haver mudanças cosméticas com relação à retórica, mas
não de fundo". E, ainda que os
EUA possam ter reservas, "terão
de ser ajustadas na Venezuela".
Na opinião de Salgueiro, não será estranho que Chávez seja convidado para a Casa Branca.
Para o embaixador Brownfield,
no entanto, isso só será possível
"após cumprir as nove etapas do
jogo de beisebol, que está apenas
começando". O diplomata americano comparou a uma segunda
lua-de-mel para um casal que teve
sérios problemas no casamento.
Ele acredita que Chávez não seja
tão "cego" para ideologizar a relação petroleira com os EUA, que se
consolida com as associações estratégias nas quais participam as
empresas americanas. Ele também prevê a diminuição do discurso de confrontação.
A analista Elsa Cardozo também acredita que não haverá
grandes mudanças estratégicas. A
necessidade de energia, que coloca a Venezuela como fornecedor
confiável diante de todos os problemas no Oriente Médio, e a escalada dos preços exigem um enfoque pragmático.
Colômbia e Lula
As diferenças se manterão, sobretudo, em torno do Plano Colômbia, a ajuda americana para o
conturbado país vizinho, e das
acusações de que o governo venezuelano apóia grupos armados de
esquerda. Os EUA também ficaram atentos a tentativas de limitar
a liberdade de expressão por meio
de um pacote de leis, mas, nesse
caso, Washington tentará ativar
os mecanismos internacionais
que supervisionam esse tipo de situação, e não por meio de uma
ação individual.
Ao presidente Chávez, seu discurso antiamericano teve um resultado positivo, sobretudo como
estratégia política interna. Cardozo avalia que o quadro regional
esteja se complicando e que os
EUA observam que há pouca possibilidade de diálogo no campo
político com o governo venezuelano.
Nesse sentido, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva,
pode se transformar num fator
importante para manter um certo
equilíbrio nas relações hemisféricas, fazendo, no caso venezuelano, uma espécie de mediação entre Caracas e Washington.
Cuba
A confirmação de mais quatro
anos para Bush provocou tristeza
entre os cubanos, esperançosos
na suspensão das sanções econômicas que os EUA impuseram no
início dos anos 60 ao país.
Porta-vozes do ditador Fidel
Castro se disseram inconformados com a reeleição de um presidente que designa seu líder como
um "tirano".
"Esperávamos que isso ocorresse. No fundo, Bush ou Kerry seria
a mesma coisa. Continuaremos
com nossa política", disse a ministra Yadira Garcia (Indústria).
Com agências internacionais
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