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Annan teme precipitação dos EUA
FRANÇOIS BONNET
ALAIN FRACHON
DO "LE MONDE"
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, acredita que os EUA
possam utilizar incidentes considerados desimportantes por outros países para declarar guerra ao
Iraque. "Se os EUA o fizerem, vão
rachar o Conselho de Segurança",
afirmou Annan em entrevista.
Pergunta - Os inspetores estão
trabalhando no Iraque. O sr. acha
que, com isso, a perspectiva de
guerra tenha ficado um pouco mais
distante?
Kofi Annan - Acredito que a
guerra seja evitável. Ela será evitável se o presidente Saddam Hussein honrar os compromissos que
assumiu diante da ONU e cooperar plenamente com os inspetores. Para a comunidade internacional e o Conselho de Segurança,
a questão é o desarmamento.
Se o Iraque cooperar, os argumentos em favor da guerra vão
diminuir consideravelmente. Mas
bastará Saddam Hussein desafiar
os inspetores para que a ONU e o
Conselho de Segurança cobrem
dele suas responsabilidades.
Pergunta - Washington já preveniu que, se o Iraque afirmar que
não possui armas de destruição em
massa na declaração de seus armamentos que terá de ser feita até o
dia 8, isso será considerado uma
"violação aberta".
Annan - Caberá ao Conselho de
Segurança decidir. Se essa é realmente a posição dos EUA, ela deverá ser analisada com os outros
membros do conselho.
Pergunta - O sr. pediu paciência
ao presidente dos EUA, George W.
Bush. Quanto tempo? Algumas semanas, alguns meses, um ano?
Annan - Falei em paciência não
apenas em termos de tempo, mas,
sobretudo, em termos de ações,
de iniciativas. Constato que há
risco de que acontecimentos considerados menos importantes por
outros países sejam usados para
declarar uma guerra. Se os EUA o
fizerem, vão rachar o Conselho de
Segurança. Mas, se deixarmos aos
inspetores tempo e espaço suficientes para que façam seu trabalho, a situação será outra. Teremos algo de substancial a partir
do qual tomar uma decisão.
Pergunta - Segundo a resolução
1441, o Conselho pode "considerar" a situação, mas não decidir sobre uma ação militar.
Annan - Sim, pode-se considerar
que os EUA tenham as mãos livres. O Congresso americano já
conferiu ao Executivo o poder de
agir como achar melhor. Mas não
está excluída a possibilidade de
haver uma segunda resolução.
Vai depender da situação.
Pergunta - Num plano mais geral,
o sr. não tem dúvida de que apenas
o Conselho de Segurança é habilitado a autorizar o uso da força?
Annan - É a interpretação que faço da Carta da ONU, e acredito
que isso atenda ao interesse dos
Estados. Em matéria de segurança internacional, quem deve decidir, senão o Conselho de Segurança? Afinal, estaríamos falando de
uma intervenção para proteger o
mundo contra armas de destruição em massa.
Pergunta - Bagdá enviou ao sr.
uma carta para explicar que a resolução 1441 será utilizada pelos EUA
como pretexto para uma guerra. O
que o sr. respondeu?
Annan - É uma carta longa, de 15
páginas. Eles formulam algumas
perguntas jurídicas, mas não
acredito que isso os impeça de
cooperar com os inspetores.
Pergunta - O que vai acontecer se
essa missão dos inspetores durar
um ano, um ano e meio ou mais?
Annan - Os inspetores indicaram
que, se houver cooperação plena
dos iraquianos, o trabalho poderá
ser concluído em um ano.
Pergunta - A ONU saiu dessa resolução fortalecida?
Annan - Sim, acho que a ONU
soube administrar bem esse caso,
se bem que ele ainda não está encerrado. O interessante é que não
foram apenas os políticos e os diplomatas que pediram que a
questão fosse submetida ao Conselho de Segurança, mas também
a opinião pública e, em especial, a
população americana.
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