São Paulo, quarta-feira, 04 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AMÉRICA LATINA

75% do país parou, segundo grevistas, mas governo nega; movimento pode afetar indústria petrolífera

Oposição mantém paralisação na Venezuela

Kimberly White/Reuters
Mulher ferida por balas de borracha disparadas pela polícia em protesto é resgatada em Caracas


DA REDAÇÃO

A oposição venezuelana manteve ontem a pressão sobre o presidente Hugo Chávez, fazendo o segundo dia de uma greve geral que recebeu apoio parcial da população e suscitando o temor de que haja problemas com a indústria petrolífera do país, o quinto maior produtor mundial.
Os executivos da indústria petrolífera que aderiram à greve participaram de protestos em Caracas, e parte da população já começava a ir aos postos de gasolina em todo o país para proteger-se de um eventual racionamento.
A militarizada Guarda Nacional lançou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes perto da estatal do petróleo.
Jornalistas de redes de TV de Caracas afirmam que foram agredidos pela Guarda Nacional.
A ação dos militares ocorreu poucas horas depois que o presidente da Confederação dos Trabalhadores da Venezuela (CTV), Carlos Ortega, anunciou que sua organização daria início a "ações de rua pacíficas e democráticas". A CTV é uma das organizações que convocaram a greve geral.
O secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), César Gaviria, que está em Caracas para mediar uma negociação entre o governo e a oposição, pediu tranquilidade à população e exortou "todos os envolvidos na situação a evitar a violência". Ele pediu ainda que "o espírito fundamentalmente democrático e pacífico do povo venezuelano seja preservado".
O colombiano Gaviria se reuniu ontem com representantes do governo. As negociações entre a administração e os oposicionistas estão suspensas desde sexta-feira.
No fim do dia, enquanto líderes sindicais e patronais -abertamente anti-Chávez- afirmavam que a paralisação fora um sucesso e que a greve continuaria, o governo sustentava que a paralisação tinha sido um fracasso total.
Segundo a ministra do Trabalho, María Cristina Iglesias, 84% dos trabalhadores venezuelanos cumpriram suas funções ontem. O governo venezuelano disse que as principais indústrias do país, como as de produção de petróleo, de alumínio e de aço, funcionaram sem grandes problemas.
Para os organizadores da greve geral, 75% dos trabalhadores do país aderiram à paralisação ontem -enquanto 80% participaram do movimento anteontem.
A greve geral atual é a quarta convocada pela oposição desde dezembro de 2001. Em abril passado, um protesto realizado durante uma greve geral foi sucedido por um fracassado golpe cívico-militar, que afastou Chávez da Presidência por dois dias.
A oposição venezuelana exige a realização de um referendo para pedir a Chávez que renuncie ao cargo de presidente e convoque eleições antecipadas rapidamente. No início do mês passado, os oposicionistas apresentaram um abaixo-assinado com 1,5 milhão de assinaturas favoráveis à realização do referendo.
Na última quinta-feira, o Tribunal Supremo de Justiça anulou uma decisão do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) sobre o tema. O CNE havia marcado para fevereiro a realização do referendo.

Indústria petrolífera
O apoio à paralisação pareceu diminuir, pois havia mais pessoas e mais veículos nas ruas de Caracas ontem do que anteontem. Mesmo assim, o movimento era bem menos intenso do que numa terça-feira normal.
A atenção do setor produtivo e das autoridades estavam voltadas para a indústria petrolífera, considerada a pedra angular da economia venezuelana. Os executivos e os trabalhadores dessa indústria que aderiram à greve afirmaram que havia uma campanha de intimidação para dissuadi-los de continuar a paralisação.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Sauditas rechaçam leniência com terror
Próximo Texto: Oriente Médio: Pressionado pelos EUA, Egito solta defensor dos direitos humanos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.