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São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2003

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ROMEU E JULIETA NO IRAQUE

Advogado de E.A., mulher do sargento Blackwell, diz que ele poderá voltar aos EUA antes do Natal

Militar casado com iraquiana será desligado

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

O sargento da Guarda Nacional da Flórida Sean Blackwell, 27, que fora punido pelo Exército por ter deixado sua patrulha em Bagdá para casar-se com uma iraquiana, recebeu uma repreensão formal e será desligado das Forças Armadas, segundo disse ontem à Folha Richard Alvoid, o advogado americano que cuida do processo de imigração da mulher do sargento.
Blackwell foi confinado à sua base logo após seu casamento com E.A., 25 -que não quis ser identificada por questões de segurança-, uma médica iraquiana que trabalhou como tradutora no Ministério da Saúde do Iraque depois da queda do ex-ditador Saddam Hussein. Ele foi acusado de descumprimento de seu dever e de desobedecer a uma ordem de seu superior, o tenente-coronel Thad Hill.
"Obviamente, os militares têm o direito de se casarem com quem quiserem. O sargento sofreu uma punição por desobedecer a uma ordem e por não cumprir seu dever, já que deixou sua patrulha, mesmo que por pouco tempo, para casar-se", disse Diane Battaglia, tenente-coronel e porta-voz do Exército dos EUA.
Em tese, o sargento poderia ter de enfrentar uma corte marcial por conta de seus atos. Fontes militares ainda não confirmaram a informação divulgada pelo advogado da mulher de Blackwell, segundo a qual ele será apenas desligado de sua corporação.
Para Alvoid, há "boas chances de que o casal possa viver legalmente nos EUA em um ou dois anos". "O casamento deles é totalmente legal tanto no Iraque quanto nos EUA." De fato, para respeitar as leis iraquianas, Blackwell, que era cristão, teve de converter-se ao islamismo.
Sua mãe, Vickie McKee, também não confirmou a notícia de que seu filho seria desligado das Forças Armadas, porém disse aguardar ansiosamente seu retorno aos EUA, o que poderia ocorrer antes do Natal, de acordo com Alvoid. Blackwell deveria, normalmente, ficar no Iraque até abril de 2004. "Minha nora é adorável. Isso fez com que o temor de um choque cultural se dissipasse", afirmou McKee.
Segundo E.A., o Exército não permitiu que o eles se encontrassem após o casamento, ocorrido no jardim de um restaurante de Bagdá. Eles passaram a conversar por telefone recentemente. O casal se conheceu porque Blackwell trabalhava na segurança do Ministério da Saúde do Iraque.
Se o sargento voltar aos EUA, E.A. poderá mudar para a Europa, enquanto espera a conclusão de seu processo de imigração, que tramita nos EUA. Ela já foi ameaçada por iraquianos contrários à ocupação americana.
De acordo com Alvoid, o futuro lhes reserva um final feliz, pois já há "grande interesse de várias editoras" num eventual livro escrito pelo casal. Contudo, por ora, Blackwell só quer "formar-se em nutrição e viver tranquilo com a mulher nos EUA".


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