São Paulo, segunda-feira, 04 de dezembro de 2006

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Após infarto, estado de Pinochet é grave

Ex-ditador chileno foi submetido a uma angioplastia; boletim médico aponta tendência de melhora, mas próximas 48h serão cruciais

Doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, agravam prognóstico; "estamos nas mãos de Deus", diz filho do general

Ian Salas/Efe
Simpatizantes de Pinochet gritam em apoio ao ex-ditador diante de hospital, em Santiago


DA REDAÇÃO

O ex-ditador chileno Augusto Pinochet, 91, sofreu na madrugada de ontem um infarto agudo do miocárdio e um edema pulmonar e foi submetido a uma angioplastia. Seu estado de saúde, apesar de grave, é estável, e o general apresentou melhoras após a cirurgia, segundo a equipe médica que o atende na unidade de terapia intensiva do Hospital Militar de Santiago.
Pela evolução do quadro de Pinochet (1973-1990), foi descartada, por enquanto, a necessidade de uma operação para a colocação de uma ponte de safena, como chegou a ser anunciado na tarde de ontem por jornais e TVs chilenos.
"Nenhuma operação de ponte de safena foi realizada, e esperamos que uma cirurgia de peito aberto não seja necessária", disse Juan Ignacio Vergara, da equipe médica. "Há uma tendência de melhora. Ele está consciente e se comunica conosco e com sua família."
Vergara acrescentou, porém, que a situação continua séria e que "as próximas 24 a 48h serão críticas para ver se complicações vão aparecer". O próximo boletim médico sai hoje às 12h (13h em Brasília).
Antes da cirurgia, o general recebeu de um padre católico a unção dos enfermos, antigamente chamada de extrema-unção. O sacramento é reservado a pessoas em perigo de morte. Estava acompanhado pela mulher, Lucía Hiriart, pelo filho mais novo, Marco Antonio, e outros familiares.

"Risco vital"
"Sem dúvida um infarto agudo no miocárdio é uma condição de risco vital", disse Vergara no primeiro informe médico, divulgado pela manhã.
"Vocês conhecem todas as doenças que têm o general Pinochet. Seu diabetes, seu problema de irrigação cerebral, a idade do paciente, etc., sem dúvida isso faz com que seja mais grave", acrescentou.
Em 2001, exames médicos concluíram que Pinochet sofre de uma "demência leve" -argumento usado por seus advogados de defesa para que ele não seja julgado pelos crimes cometidos em seu regime.
Marco Antonio afirmou que seu pai foi "praticamente resgatado da morte" pela angioplastia. "Estamos agora nas mãos de Deus e dos médicos. Meu pai está em uma situação muito ruim", afirmou.
Questionado sobre que tratamento o governo daria à morte de do ex-ditador, o porta-voz Ricardo Lagos Weber disse que "é de mau gosto falar de funerais quando as pessoas ainda estão com vida".
A presidente chilena, Michelle Bachelet, chegou a ser presa e torturada, ao lado de sua mãe, durante o regime pinochetista.
Pinochet foi internado por volta das 2h locais depois de passar mal em sua casa, no bairro de La Defesa, onde cumpre prisão domiciliar por um caso de violação de direitos humanos atribuído a seu regime.
Ele era comandante-em-chefe do Exército quando assumiu o poder no Chile em 11 de setembro de 1973, em um violente golpe de Estado que derrubou o então presidente Salvador Allende. Cerca de 3.000 pessoas foram assassinadas ou desapareceram nos 17 anos em que esteve no poder.
No dia 25 de novembro, quando completou 91 anos, Pinochet divulgou uma nota em que assumiu a "responsabilidade política" pelos atos cometidos durante seu regime.


Com agências internacionais

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