São Paulo, sexta-feira, 05 de janeiro de 2007

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Na discussão sobre impostos, democratas preferem silêncio

EDMUND L. ANDREWS
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

O presidente Bush está praticamente desafiando os líderes democratas, no momento em que assumem o controle do Congresso, a criticar os cortes nos impostos que ele próprio promoveu. Mas os democratas não estão aceitando o desafio.
Na quarta-feira, Bush anunciou que no próximo mês vai apresentar um orçamento que possibilitará ao país chegar ao déficit zero em 2012 e, ao mesmo tempo, tornar permanentes os cortes de mais de US$ 1 trilhão em impostos aprovados nos seis anos do seu mandato.
A mensagem implícita é que os cortes nos impostos são bem vistos pelos eleitores, que os republicanos já comprovaram seus resultados econômicos benéficos, e que os democratas estariam cortejando o desastre se sequer mencionassem a possibilidade de revogá-los.
Mas, ao mesmo tempo em que continuam a acusar Bush de seguir uma política fiscal insensata, os líderes democratas vêm se negando a discutir a revogação dos cortes, ou até mesmo a debater a melhor maneira de estimular o crescimento econômico.
Os líderes democratas dizem que não vêem necessidade de rever nos próximos anos os cortes nos impostos promulgados por Bush, cuja vigência é prevista para até 2010. E eles alegam que o governo poderia aumentar sua receita em até US$ 100 bilhões por ano simplesmente fechando o "abismo tributário" formado pelos impostos devidos e não pagos.
A timidez dos democratas não é exatamente sinal de candura. Embora seja verdade que os cortes nos impostos decretados por Bush devem vigorar por mais quatro anos, também é fato que o Congresso enfrenta dores-de-cabeça sérias em relação ao orçamento, cuja solução não poderá ser adiada.

Custo da guerra
Um desses desafios é a guerra no Iraque. Tudo indica que o conflito vai custar muito mais de US$ 100 bilhões por ano, mesmo que os EUA comecem a reduzir as tropas no país árabe.
Até agora, Bush vem mantendo os gastos com a guerra fora do orçamento que submete ao Congresso. Ele busca o dinheiro conforme ele se torna necessário. Os democratas dizem que não vão mais atender a esses pedidos de verbas porque eles passam ao largo do processo normal pelo qual o Congresso discute os gastos.
Os políticos de ambos os partidos podem estar vivendo um descanso temporário das pressões fiscais porque é fato que o déficit orçamentário diminuiu nos últimos dois anos. Graças aos aumentos na receita tributária, o déficit caiu do máximo de US$ 412 bilhões, em 2004, para US$ 248 bilhões no ano passado. Isso representa 1,9% do PIB, algo modesto pelos padrões históricos.
Mas muitos analistas do orçamento continuam a ver com ceticismo a promessa feita por Bush de eliminar o déficit, já que o governo renovaria todos os cortes nos impostos decretados por Bush precisamente no momento em que 76 milhões de "baby boomers" -a geração nascida no pós-Segunda Guerra- estarão se aposentando, pedindo os benefícios da Previdência Social e do Medicare.


Tradução de CLARA ALLAIN


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