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Militares vão para Tijuana combater narcotráfico
Calderón manda 3.300 homens para cidade que é entrada da droga para EUA
Violência de cartéis matou 2.000 pessoas e 200 policiais em 2006; combate ao crime organizado é bandeira do presidente conservador
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
A cidade de Tijuana, no noroeste do México, fronteira
com os EUA, começou a receber ontem os 3.300 homens,
entre militares e policiais federais, enviados pelo presidente
mexicano Felipe Calderón dentro de sua "guerra ao narcotráfico". Essa é, por enquanto, a
maior bandeira do governo
conservador, que tomou posse
há um mês.
A força especial é composta,
em sua maioria, por militares,
com apoio de helicópteros, barcos e aviões.
A Procuradoria Geral da República afirmou, em relatório
divulgado ontem, que o narcotráfico "penetrou" as instituições públicas e privadas, e que
existe uma rede de corrupção
infiltrada na polícia local, que
permite o contrabando de toneladas de cocaína, maconha e
drogas sintéticas para os EUA.
O mesmo relatório aponta
que existem 8.000 pontos de
venda de drogas no varejo na cidade. Com 1,4 milhão de habitantes, Tijuana fica na fronteira
com San Diego, Califórnia.
Em dezembro, uma semana
após ter tomado posse, Calderón enviou uma força especial
com 7.000 homens ao Estado
natal de Michoacán, oeste do
país, onde há violência crescente entre gangues e contrabandistas. O presidente fez ontem
a primeira visita a Michoacán,
onde tomou um café da manhã
com 200 soldados.
"Esta não é uma tarefa fácil,
nem rápida. Tomará muito
tempo e enormes recursos dos
mexicanos, e muitas vidas. Mas
é indispensável para o futuro
do México", disse Calderón no
acampamento militar.
A força-tarefa em Michoacán
prendeu cerca de 80 pessoas
em menos de um mês, e
apreendeu ouro, coletes à prova de bala, 630 quilos de maconha, 41 granadas de 49 milímetros, 32.800 cartuchos de diferentes calibres, além de destruir plantações de maconha.
Rivais decapitados
A violência entre gangues de
narcotraficantes provocou
mais de 2.000 assassinatos no
México em 2006. Algumas quadrilhas, em Acapulco e em Ciudad Juárez, têm decapitado
seus rivais, e colocado as cabeças das vítimas em bares e em
praias. Mais de 200 policiais e
soldados foram mortos com sinais de execução em 2006.
Em maio, 300 associações
populares e empresariais do
Estado da Baixa Califórnia, onde fica Tijuana, protestaram
contra a insegurança, pedindo
que o governo federal interviesse no Estado.
O prefeito de Tijuana, Jorge
Hank, filho de um velho caudilho do Partido Revolucionário
Institucional (PRI), legenda
que governou o país entre 1929
e 2000, já foi acusado várias vezes de ter ligações com o narcotráfico. Analistas políticos dizem que Calderón teria escolhido Tijuana com esse dado
em mente.
No México, o debate sobre a
participação das Forças Armadas no combate ao crime organizado antecede o brasileiro -
o debate é muito similar ao que
acontece hoje no Rio de Janeiro, sobre a conveniência de envio de forças especiais.
Autoridades vinculadas
"O arranque do governo na
luta contra o narcotráfico parece decidido. Partiram para cima de todos os cartéis, interrompendo a dinâmica pendular dos governos anteriores de
perseguir um, enquanto os outros crescem", disse à Folha
Raymundo Riva Palacio, colunista do diário "El Universal".
"O narcotráfico é problema
de segurança nacional desde
1985, e finalmente temos uma
estratégia multifocal."
Mas, para Riva Palacio, o
maior desafio é que o governo
"toque" nos militares e nas autoridades com vínculos com o
narcotráfico.
"Um combate contra os cartéis não termina com a derrota
de seus líderes. Precisa atacar
com força quem os protege no
interior do governo, dos poderes do Estado. É daí que eles tiram sua força."
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