São Paulo, sexta-feira, 05 de janeiro de 2007

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Militares vão para Tijuana combater narcotráfico

Calderón manda 3.300 homens para cidade que é entrada da droga para EUA

Violência de cartéis matou 2.000 pessoas e 200 policiais em 2006; combate ao crime organizado é bandeira do presidente conservador

RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

A cidade de Tijuana, no noroeste do México, fronteira com os EUA, começou a receber ontem os 3.300 homens, entre militares e policiais federais, enviados pelo presidente mexicano Felipe Calderón dentro de sua "guerra ao narcotráfico". Essa é, por enquanto, a maior bandeira do governo conservador, que tomou posse há um mês.
A força especial é composta, em sua maioria, por militares, com apoio de helicópteros, barcos e aviões.
A Procuradoria Geral da República afirmou, em relatório divulgado ontem, que o narcotráfico "penetrou" as instituições públicas e privadas, e que existe uma rede de corrupção infiltrada na polícia local, que permite o contrabando de toneladas de cocaína, maconha e drogas sintéticas para os EUA.
O mesmo relatório aponta que existem 8.000 pontos de venda de drogas no varejo na cidade. Com 1,4 milhão de habitantes, Tijuana fica na fronteira com San Diego, Califórnia.
Em dezembro, uma semana após ter tomado posse, Calderón enviou uma força especial com 7.000 homens ao Estado natal de Michoacán, oeste do país, onde há violência crescente entre gangues e contrabandistas. O presidente fez ontem a primeira visita a Michoacán, onde tomou um café da manhã com 200 soldados.
"Esta não é uma tarefa fácil, nem rápida. Tomará muito tempo e enormes recursos dos mexicanos, e muitas vidas. Mas é indispensável para o futuro do México", disse Calderón no acampamento militar.
A força-tarefa em Michoacán prendeu cerca de 80 pessoas em menos de um mês, e apreendeu ouro, coletes à prova de bala, 630 quilos de maconha, 41 granadas de 49 milímetros, 32.800 cartuchos de diferentes calibres, além de destruir plantações de maconha.

Rivais decapitados
A violência entre gangues de narcotraficantes provocou mais de 2.000 assassinatos no México em 2006. Algumas quadrilhas, em Acapulco e em Ciudad Juárez, têm decapitado seus rivais, e colocado as cabeças das vítimas em bares e em praias. Mais de 200 policiais e soldados foram mortos com sinais de execução em 2006.
Em maio, 300 associações populares e empresariais do Estado da Baixa Califórnia, onde fica Tijuana, protestaram contra a insegurança, pedindo que o governo federal interviesse no Estado.
O prefeito de Tijuana, Jorge Hank, filho de um velho caudilho do Partido Revolucionário Institucional (PRI), legenda que governou o país entre 1929 e 2000, já foi acusado várias vezes de ter ligações com o narcotráfico. Analistas políticos dizem que Calderón teria escolhido Tijuana com esse dado em mente.
No México, o debate sobre a participação das Forças Armadas no combate ao crime organizado antecede o brasileiro - o debate é muito similar ao que acontece hoje no Rio de Janeiro, sobre a conveniência de envio de forças especiais.

Autoridades vinculadas
"O arranque do governo na luta contra o narcotráfico parece decidido. Partiram para cima de todos os cartéis, interrompendo a dinâmica pendular dos governos anteriores de perseguir um, enquanto os outros crescem", disse à Folha Raymundo Riva Palacio, colunista do diário "El Universal".
"O narcotráfico é problema de segurança nacional desde 1985, e finalmente temos uma estratégia multifocal."
Mas, para Riva Palacio, o maior desafio é que o governo "toque" nos militares e nas autoridades com vínculos com o narcotráfico.
"Um combate contra os cartéis não termina com a derrota de seus líderes. Precisa atacar com força quem os protege no interior do governo, dos poderes do Estado. É daí que eles tiram sua força."


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