São Paulo, segunda-feira, 05 de janeiro de 2009

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Israelenses fazem aposta perigosa

DO "FINANCIAL TIMES"

A decisão de Israel de invadir Gaza é uma aposta perigosa. Se o objetivo é reduzir o número de foguetes que o Hamas é capaz de disparar contra Israel, ele poderá ser alcançado -por enquanto. Mas, se o que Israel pretende é extirpar o coração de seus adversários palestinos mais implacáveis, seu esforço vai fracassar. Tanto em um caso quanto no outro, o número crescente de mortos e feridos, incluindo civis, decorrentes do desproporcional bombardeio em áreas urbanas, vai manchar a reputação de Israel e solapar a tal ponto a opinião árabe e palestina moderada que sua posição política sairá enfraquecida. O Hamas vem tentando insensatamente imitar o exemplo do Hizbollah -entre outras coisas, aperfeiçoando seus foguetes de fabricação caseira para que possam ter alcance mais longo, sob a ilusão equivocada de que poderá reproduzir no sul de Israel o equilíbrio de terror criado pelos xiitas na fronteira israelo-libanesa. Mas os milicianos do Hamas conseguirão infligir baixas às tropas israelenses se estas penetrarem no labirinto da Cidade de Gaza. Israel não conseguiu controlar Gaza ou fechar o Hamas no passado, mesmo depois de assassinar quase todos os seus líderes veteranos. O Hamas tem raízes profundas, e seu poder de maior atração popular vem da resistência à ocupação israelense. Grupos como esses são vencedores pelo simples fato de sobreviverem.

Meia verdade
Israel criou a maior ofensiva de relações públicas até hoje, que inclui barrar a entrada de jornalistas em Gaza. O objetivo é atribuir a culpa pela crise ao Hamas, incluindo-o na "guerra ao terror" global. Mas a afirmação de que o extremismo dos islâmicos é a causa principal do sofrimento de Gaza, depois de Israel ter oferecido liberdade aos palestinos, retirando-se do encrave mediterrâneo em 2005, constitui menos do que uma meia verdade. Os moradores de Gaza vivem sob bloqueio desde que os palestinos tiveram a temeridade de eleger o Hamas, três anos atrás, e Israel vem ampliando sua ocupação da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental, árabe. Esse é um conflito que só poderá acabar se um Estado palestino independente for criado em todas essas terras ocupadas. O que é necessário agora é: um cessar-fogo com monitoramento internacional, de duração suficiente para que as negociações com essa base sejam retomadas e concluídas; que Israel então ponha fim ao bloqueio, e que novas eleições decidam quem fala pelos palestinos: o Fatah, o Hamas, ou uma combinação de ambos. O governo Obama, prestes a assumir o poder nos EUA, deve assinalar claramente que pretende buscar uma solução de dois Estados baseada nos parâmetros expostos por Bill Clinton em 2000 e no plano de paz proposto pela Liga Árabe em 2002. Uma declaração de intenções pode até influenciar os eleitores israelenses e palestinos, levando-os a eleger líderes capazes de fechar um acordo desse tipo.

Este texto é opinião editorial do FT de hoje

Tradução de CLARA ALLAIN



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