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EUA atraem Lula para tentar neutralizar Chávez
País envia ao Brasil nesta semana dois de seus funcionários mais graduados
Bush "redescobre" América Latina; funcionários falam que 2007 será o "ano do compromisso" e de "uma grande iniciativa" na região
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
O Departamento de Estado
norte-americano envia ao Brasil nesta semana dois de seus
funcionários mais graduados: o
subsecretário para Assuntos
Políticos, Nicholas Burns, terceiro na hierarquia, e o secretário-adjunto para o Hemisfério
Ocidental, Thomas Shannon.
A missão oficial da dupla é
discutir parcerias entre os dois
países em torno do etanol e de
biocombustíveis (leia texto ao
lado) e acertar detalhes do encontro dos dois presidentes,
George W. Bush e Luiz Inácio
Lula da Silva, previsto para
ocorrer ainda neste semestre
em Washington.
A visita, no entanto, marca
também a tentativa da Casa
Branca de recuperar a influência numa região que foi considerada "prioridade" por Bush
em discurso no início de seu
primeiro governo, em 2001,
mas que foi relegada a segundo
plano desde o 11 de Setembro.
A idéia é usar uma agenda comum entre ambos os governos
-o etanol- como maneira de
atrair o presidente Lula para a
causa dos EUA: neutralizar o
peso na região do cada vez mais
influente líder venezuelano,
Hugo Chávez. A viagem dos
emissários foi antecedida por
declarações de pesos-pesados
da chancelaria americana.
Em entrevista recente, a subsecretária para diplomacia pública e assuntos externos, Karen Hughes, citou uma "grande
iniciativa para o Hemisfério
Ocidental" prevista para 2007.
O objetivo, disse, é que os EUA
"façam mais e se comuniquem
melhor com os países latino-americanos".
Segundo ela, o presidente dobrou recentemente a ajuda à
região, mas a população local
não sabe porque a imprensa
não fala a respeito.
Na verdade, de acordo com
dados da Agência Norte-Americana para Desenvolvimento
Internacional (Usaid, pela sigla
em inglês), o governo Bush pediu que o Congresso aprove
US$ 822 milhões em ajuda não-militar para a América Latina
neste ano -ou 8,3% menos do
que o pedido em 2003.
"Reconexão"
Durante palestra no fim do
mês passado, Thomas Shannon
bateu na mesma tecla. Depois
de falar que Burns e ele descrevem 2007 como "o ano do compromisso" dos EUA com a
América Latina, o secretário-adjunto afirmou: "Com tantos
novos governos na região, alguns com rostos conhecidos,
mas outros com rostos novos,
temos de retornar lá e reconstruir nosso diálogo, reconectarmos não só com governos mas
com sociedades".
Em sua audiência de confirmação no Senado como segundo de Condoleezza Rice, John
Negroponte disse que reforçaria a política para América Latina. Ex-embaixador no México e
em Honduras, afirmou que
Chávez "não é uma força construtiva" para a democracia e
que suas ações "ameaçam a democracia na região".
O que preocupa a Casa Branca é o discurso cada vez mais
antiamericano de Chávez, o
quarto maior fornecedor de petróleo dos EUA, quando a palavra de ordem em Washington é
independência energética. A
gota d'água teria sido o estreitamento de relações entre Irã e
Venezuela.
Nos últimos meses, os dois
governos assinaram 131 contratos, convênios ou declarações
de intenção. Além disso, Teerã
e Caracas querem montar um
mecanismo financeiro alternativo ao Fundo Monetário Internacional. Isso acontece num
momento em que o governo
Bush escala sua retórica e toma
ações concretas contra o Irã.
Indagado na semana passada
por jornalistas se o Departamento de Estado não se preocupava com a hipótese de as visitas do presidente iraniano,
Mahmoud Ahmadinejad, significarem também a implantação
de células do Hizbollah na Venezuela, o porta-voz Sean
McCormack desconversou.
"O Irã criou o Hizbollah",
disse. "Não posso dizer exatamente qual o estado dessa ligação, mas há claramente uma ligação orgânica." Depois, diria
que um relatório do Departamento do Tesouro que aponta
que a organização islâmica tem
atividades na Tríplice Fronteira é "uma preocupação clara".
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