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CHILE DIVIDIDO
"Pinochet é
um poder
negativo'
do enviado especial
Augusto Pinochet não
possui força para mudar as
regras da democracia chilena, mas continua com um
"poder de veto não declarado" na política do país, opina a diretora do instituto
Mori, a economista Marta
Lagos, 46.
Marta duvida que o ex-ditador venha a ameaçar as
instituições do Chile, mas
poderá atrasar o desenvolvimento político, influenciando parte da população.
"Pinochet não tem o poder
de mudar, mas o poder de
não deixar que coisas aconteçam. Digamos que é um
poder negativo."
O ex-ditador continuará a
ser, na opinião da pesquisadora, um importante ator
político até morrer: "Veja o
que ele fez hoje (anteontem).
Todo mundo o achava um
velho doente, acabado. E ele
sai do avião com bochechas
rosadas, caminhando e acenando como se nada tivesse
acontecido. Meus Deus, esse
homem está dizendo que
ainda tem influência".
E de onde vem essa influência? "Diferentemente
do que dizem os partidários
de Augusto Pinochet, o Chile não está dividido meio a
meio em relação ao ex-ditador. Um terço está de um lado; e outros dois terços, de
outro", responde Marta.
Segundo a pesquisadora,
mais do que apoiar Pinochet, um terço da população
apóia "um sistema não democrático". É nessa fatia que
a direita, os militares e Pinochet nadam de braçada.
Marta, que recebeu a Folha anteontem à noite na elegante casa em estilo clássico
que abriga seu instituto, afirma que esses dados constam
de pesquisas realizadas nos
últimos dez anos.
"É essa divisão que faz esse
país ser o que é, pois, ao
mesmo tempo, os outros
dois terços são fortemente
contrários a valores antidemocráticos", diz Marta.
Os extremos da pirâmide
econômica e social do país
compõem o um terço autoritário. Estão nesse grupo os
ricos, que financiam a direita, e os extremamente pobres, por ignorância, afirma
Marta.
A classe média e os mais
escolarizados preponderam
nos outros dois terços.
A pesquisadora vê um aspecto positivo na detenção
de Pinochet. "Foi um teste
para a democracia chilena".
Os direitos humanos voltaram a ser discutidos.
Segundo ela, 70% julgam
Pinochet culpado de crimes
contra os direitos humanos,
o que não significa que todos
eles queiram levá-lo a julgamento. Apenas 50% estão
dispostos a pagar o preço de
puni-lo judicialmente, segundo os dados do Mori.
A outra metade julga que
não vale a pena fazê-lo. São
esses 50% que os pinochetistas usam como argumento
para enterrar o passado.
Marta considera que o
Chile levará pelo menos
uma geração para atingir a
maturidade democrática.
E avalia que, após "a condenação moral" que Pinochet sofreu, seu país perderá
credibilidade na comunidade internacional se não levá-lo a julgamento.
(KA)
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