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COMENTÁRIO
Ex-ditador perdeu
espaço na direita
JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local
Augusto Pinochet Ugarte voltou ao Chile como um homem
politicamente enfraquecido e sem
fôlego para recuperar seu antigo
prestígio dentro da direita.
O impacto positivo da candidatura presidencial de Joaquín Lavín Infante foi devastador para a
influência de Pinochet nos partidos direitistas RN (Renovação
Nacional) e UDI (União Democrática Independente).
Lavín, ao perder o segundo turno, mas com expressivos 48,69%
dos votos, demonstrou em janeiro o quanto era anacrônica a linguagem de confronto permanente com a esquerda e noções como
autoridade, salvação nacional e
segurança interna.
Ele igualmente teve o mérito de
agregar de vez o liberalismo político ao liberalismo econômico, já
defendido durante a ditadura.
Há ainda o declínio do establishment pinochetista. Os homens próximos do ex-ditador só
aceitaram Lavín nos últimos meses de campanha porque ele era a
alternativa para barrar o acesso de
Ricardo Lagos ao poder.
Antes de ser detido em Londres,
em 16 de outubro de 1998, Pinochet desencadeou um malogrado
plano para arrebentar com a
"Concertación", a coalizão governante da qual o hoje presidente
eleito se origina.
O plano consistia em desovar
todo o apoio, nas eleições primárias desse conjunto de partidos,
no presidente do Senado, o democrata cristão Andrés Zaldívar.
Procurava-se, assim, isolar o Partido Socialista, ao qual Lagos é filiado. Mas Lagos derrotou Zaldívar nas primárias da coalizão.
Paralelamente, a candidatura
Lavín passou a crescer nas pesquisas a partir de julho do ano
passado, atropelando Sebastián
Piñera, da RN, que representava a
segunda alternativa de Pinochet.
Piñera só se lançaria com mais de
10% das intenções de voto.
Ao cair em Londres na arapuca
que a Justiça espanhola lhe havia
armado, o ex-ditador canalizou
suas energias para sair dela. Deixou de conspirar contra Lavín.
Com Pinochet ausente do Chile,
os pinochetistas enfrentaram um
último insucesso: alguns deles
apostaram na candidatura de Arturo Frei Bolivar -um dissidente
da direita do Partido Democrata
Cristão que obteve no primeiro
turno menos de 0,4% dos votos.
Essa sucessão de movimentos
desastrosos foi acompanhada por
Lavín e seus estrategistas. Que a
comemoraram ao mesmo tempo
em que se tornavam uma nova referência política, contra a qual,
em seu retorno, Pinochet não teria mais condições de lutar.
Desse modo, mesmo que o ex-ditador volte à política, despachando de seu gabinete no Senado, ele será um personagem efetivamente menor. Investido apenas
da simbologia negativa que o eleitorado de Lagos e parte do eleitorado de Lavín atribuem ao regime
autoritário que chefiou.
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