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Retaliações de Chávez paralisam fluxo econômico na fronteira
Até ontem, ordem do venezuelano para militarizar região fronteiriça não havia sido cumprida, mas caminhões colombianos tiveram entrada vetada
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A SAN ANTONIO DEL
TÁCHIRA (VENEZUELA)
Não havia caças russos Sukhoy cruzando o ar nem tanques de guerra e muito menos
soldados cavando trincheiras.
Mas uma série de retaliações
econômicas adotadas pela Venezuela praticamente paralisou ontem a tradicionalmente
congestionada fronteira com a
Colômbia na região de San Antonio e Cúcuta, em meio a temores de que o governo Hugo
Chávez proibirá totalmente o
trânsito entre os dois países.
Nos últimos dois dias, o governo venezuelano tem adotado uma espécie de tática de
guerrilha na fronteira. Na principal medida, em vigor desde
anteontem, o Seniat (equivalente venezuelano da Receita
Federal) vetou a entrada de caminhões colombianos no
país-só em San Antonio, a passagem mais movimentada entre os dois países, o fluxo diário
é de cerca de 200 veículos.
Veículos de passeio e motos
não estão proibidos, mas ontem a fronteira do lado venezuelano foi fechada completamente em duas ocasiões, por
cerca de 30 minutos cada uma.
Já os pedestres puderam circular livremente.
Durante parte da manhã, os
soldados da Guarda Nacional
venezuelana proibiram o ingresso de carros e motos com
placas "amarillas" (colombianos), obrigados a dar meia-volta na saída da ponte Simón Bolívar sobre o imundo rio Táchira, na verdade um riacho por
onde contrabandistas cruzavam tranqüilamente para a Colômbia carregando pneus em
garupas de bicicletas.
Enquanto os motoristas e
motoqueiros esperavam a reabertura da fronteira, por volta
das 12h30, dois funcionários do
Ministério da Energia lacravam as bombas do posto de
combustível internacional, o
único de San Antonio onde veículos colombianos têm direito
de comprar a baratíssima gasolina do país vizinho a um preço
apenas 71% maior - R$ 0,12,
contra os R$ 0,07 cobrados dos
venezuelanos.
Às moscas
A movimentação militar ainda não é sentida na fronteira,
mas, durante o dia de ontem,
agências de notícias e a imprensa local relataram a saída
de soldados e material bélico de
cidades como Valencia e Maracay. No domingo, Chávez ordenou o envio de dez batalhões, o
equivalente a cerca de 10 mil
homens, à região.
No lado colombiano, o comércio, que atualmente vive
dos venezuelanos em busca de
produtos em falta do outro lado
da fronteira, como leite e papel
higiênico, estava praticamente
parado. "Aqui não tem vida
própria. Se os venezuelanos
não vêm, temos de fechar as
portas", diz Jacinto Peña, 66,
dono de um mercado a poucos
metros da ponte. Ele costuma
vender 50 caixas de leite em pó
por dia, mas na segunda-feira
só saíram duas. "Isso aqui era
uma procissão para lá e para cá
e agora estamos sós", completa
a mulher de Peña, Olinda.
"Quando presidente Uribe
briga com a Venezuela, prejudica a nós", diz o mototaxista
Gustavo Arguello, 37, que sobrevive transportando pessoas
que querem escapar do congestionamento na ponte -a travessia em dias normais costuma durar uma hora, mas ontem
não havia fila. Em vez das cerca
de 20 corridas que costuma fazer numa manhã, ontem ele só
havia conseguido uma até o
meio-dia. Ganhou R$ 1,80 em
quatro horas.
Em San Antonio, as lojas
também estavam vazias por falta de colombianos, normalmente atraídos pelo câmbio paralelo favorável -a diferença
com o oficial chega a cerca de
150%. Dono de uma pequena
papelaria, Jaime Antonio, 43,
diz que o movimento caiu 50%
nos últimos dias por conta da
crise. Crítico de Chávez, acha
que o ataque colombiano em
território equatoriano "não é
um problema da Venezuela" e
diz que a maioria da população
não apóia o presidente no confronto com a Colômbia.
"Se houver um grito de guerra, Chávez ficará sozinho", prevê, na loja vazia.
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