São Paulo, quinta-feira, 05 de março de 2009

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Governo e campo selam acordo parcial na Argentina

Analista diz que houve mudança no clima político

THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES

Um ano após o início de um conflito motivado pelo aumento de impostos a exportações de grãos, governo e ruralistas fecharam um acordo parcial na Argentina com medidas para a crise que atinge o setor.
O governo se manteve inflexível ante as principais queixas do campo, como redução das retenções sobre embarques de soja e abertura total das exportações de carne e trigo. Mas conseguiu reduzir a tensão do confronto com uma aparição-surpresa da presidente Cristina Kirchner no encontro de anteontem entre ministros e patronais rurais.
"Foi uma jogada muito inteligente da presidente. Mais além dos efeitos concretos -pois continuaram discutindo a agenda da semana anterior e o governo manteve suas posições-, houve uma mudança de clima político", disse à Folha o analista Fabián Perechodnik.
Foi a segunda reunião entre campo e governo em oito meses -os encontros começaram na semana passada- e a primeira com participação de Cristina desde junho de 2008. Ministros e ruralistas ficaram de continuar o diálogo na próxima semana.
Os líderes rurais, contudo, não deram o conflito por terminado. "Esperamos que as medidas sejam postas em prática e cheguem ao produtor, para seguirmos recuperando a confiança", afirmou à reportagem Carlos Garetto, presidente da Coninagro, uma das quatro principais entidades ruralistas.
As 13 medidas acertadas são ações pontuais voltadas aos ramos mais afetados pela crise no campo: pecuária, trigo, leite e economias regionais. Para Garetto, as mais importantes são um reajuste de 13,5% no preço interno do trigo e a abertura parcial das exportações de carne -concessões nos controles que o governo impõe desde Néstor Kirchner (2003-2007) para tentar segurar a inflação.
O conflito campo-governo na Argentina se agravou neste ano em razão da maior seca em 50 anos e da crise mundial que reduziu os preços internacionais de grãos em 41%. Com rentabilidade em baixa, os produtores deixaram claro que seguirão tentando alterar a tributação sobre exportações de soja, desta vez pela via legislativa.
E foi no Congresso que o campo conseguiu derrubar, com voto de desempate do vice-presidente Julio Cobos em julho passado, o projeto oficial que ligava as alíquotas de impostos sobre exportações de grãos aos preços externos.
Cristina costuma tripudiar sobre os ruralistas ao dizer que, se a lei estivesse vigente, a tributação seria mais baixa que a atual. E diz não ter como abrir mão de R$ 10 bilhões que arrecada por ano com as retenções.
Setores da oposição -com os quais os ruralistas têm mantido encontros- disseram que vão convocar sessões no Congresso para debater o tema.


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