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Governo e campo selam acordo parcial na Argentina
Analista diz que houve mudança no clima político
THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES
Um ano após o início de um
conflito motivado pelo aumento de impostos a exportações de
grãos, governo e ruralistas fecharam um acordo parcial na
Argentina com medidas para a
crise que atinge o setor.
O governo se manteve inflexível ante as principais queixas
do campo, como redução das
retenções sobre embarques de
soja e abertura total das exportações de carne e trigo. Mas
conseguiu reduzir a tensão do
confronto com uma aparição-surpresa da presidente Cristina
Kirchner no encontro de anteontem entre ministros e patronais rurais.
"Foi uma jogada muito inteligente da presidente. Mais além
dos efeitos concretos -pois
continuaram discutindo a
agenda da semana anterior e o
governo manteve suas posições-, houve uma mudança de
clima político", disse à Folha o
analista Fabián Perechodnik.
Foi a segunda reunião entre
campo e governo em oito meses -os encontros começaram
na semana passada- e a primeira com participação de
Cristina desde junho de 2008.
Ministros e ruralistas ficaram
de continuar o diálogo na próxima semana.
Os líderes rurais, contudo,
não deram o conflito por terminado. "Esperamos que as
medidas sejam postas em prática e cheguem ao produtor,
para seguirmos recuperando a
confiança", afirmou à reportagem Carlos Garetto, presidente
da Coninagro, uma das quatro
principais entidades ruralistas.
As 13 medidas acertadas são
ações pontuais voltadas aos ramos mais afetados pela crise no
campo: pecuária, trigo, leite e
economias regionais. Para Garetto, as mais importantes são
um reajuste de 13,5% no preço
interno do trigo e a abertura
parcial das exportações de carne -concessões nos controles
que o governo impõe desde
Néstor Kirchner (2003-2007)
para tentar segurar a inflação.
O conflito campo-governo na
Argentina se agravou neste ano
em razão da maior seca em 50
anos e da crise mundial que reduziu os preços internacionais
de grãos em 41%. Com rentabilidade em baixa, os produtores
deixaram claro que seguirão
tentando alterar a tributação
sobre exportações de soja, desta vez pela via legislativa.
E foi no Congresso que o
campo conseguiu derrubar,
com voto de desempate do vice-presidente Julio Cobos em
julho passado, o projeto oficial
que ligava as alíquotas de impostos sobre exportações de
grãos aos preços externos.
Cristina costuma tripudiar
sobre os ruralistas ao dizer que,
se a lei estivesse vigente, a tributação seria mais baixa que a
atual. E diz não ter como abrir
mão de R$ 10 bilhões que arrecada por ano com as retenções.
Setores da oposição -com os
quais os ruralistas têm mantido encontros- disseram que
vão convocar sessões no Congresso para debater o tema.
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