São Paulo, sábado, 05 de março de 2011

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ANÁLISE

Tem início a batalha pelos US$ 70 bilhões de fundo líbio

LANDON THOMAS JR.
DO "NEW YORK TIMES", EM LONDRES

Enquanto a batalha pela Líbia corre solta, a disputa em torno do controle do fundo soberano do país e seus US$ 70 bilhões em ativos acaba de começar.
Com reservas consideráveis de dinheiro vivo e participações em algumas empresas europeias de elite -entre as quais a editora britânica Pearson e o clube de futebol italiano Juventus-, o fundo servia como enfático cartão de visitas de seu fundador, Saif al Islam Gaddafi, filho do ditador e visto no passado como o reformista da família.
Criado em 2006, o fundo foi usado para tentar substanciar o argumento de que a Líbia estava preparada para abrir-se ao Ocidente.
Ajudou a atrair toda uma série de figuras poderosas para dentro da órbita de Gaddafi (filho), entre elas o príncipe britânico Andrew; o ex-comissário europeu de comércio Peter Mandelson; a nata da sociedade corporativa italiana e investidores americanos.
Os EUA disseram que pretendem congelar quaisquer ativos da Autoridade de Investimento Líbia que sejam controlados por instituições americanas, embora nenhum banco ou ativo específico tenha sido identificado publicamente.
No Reino Unido, autoridades dizem que o fundo será impedido de vender e repatriar seus ativos, que, além de sua participação na Pearson, incluem um portfólio de bens imobiliários.
O que ainda não está claro é até que ponto os cerca de US$ 50 bilhões em dinheiro vivo e títulos de crédito líquido do fundo, que operava sob o controle indireto de Saif, podem ser acessados pelo regime líbio.
Virtualmente todos os recursos da Líbia vêm do petróleo, e, embora seja muito possível que o país esteja sentado sobre uma montanha de dinheiro, é provável que seja muito difícil deslocar esses valores para mercados internacionais.
Pessoas que trabalharam com o fundo dizem que seu funcionamento interno era um mistério, já que inércia burocrática e falta de conhecimento especializado em investimentos o impediam de ser mais ativo.
"Não havia backup, funcionários especializados ou sistema -e todo mundo queria sua parcela dos lucros", disse Oliver Miles, ex-embaixador britânico na Líbia. "Seria equivocado dizer que o fundo fracassou, mas tampouco deu certo."
Foi só em 2008 que o fundo fez seus primeiros investimentos externos. É provável que a maior parte do dinheiro se encontre na Líbia ou em bancos no Oriente Médio, fora do alcance de sanções.
Além do fundo, o banco central líbio possui reservas de cerca de US$ 110 bilhões, que lhe conferem uma posição líquida equivalente a cerca de 160% do PIB anual da Líbia, segundo o FMI.
O fundo foi criado em 2006, no momento em que a Líbia fazia um esforço concentrado para reingressar na comunidade internacional.
O chefe nominal do fundo é Muhammad H. Layas, possivelmente o mais experiente banqueiro internacional da Líbia. Mas o poder real estava nas mãos de Mustafa Zarti, vice-executivo-chefe e amigo íntimo de Saif.
Zarti -que, segundo conhecidos, é rude e tem um estilo direto- estudou com Saif na Áustria e é seu sócio em um empreendimento de criação de atum.
Embora Saif mantivesse distância das operações do dia a dia do fundo, ocasionalmente ele aparecia para autorizar um investimento.
Em entrevista há pouco mais de um ano, Layas disse que os banqueiros tinham plena consciência dos bilhões em dinheiro disponíveis, mas que não se sentia tentado a investir no exterior no nível e na escala de outros fundos.
"As sanções nos fizeram muito conservadores", disse.
"E a opinião do líder é que, na medida em que ampliamos nossas reservas, devemos conservar a maior parte delas no banco central."

Tradução de CLARA ALLAIN


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